Folha de S. Paulo
Recondução do PGR foi aprovada pela
direita, pelo centro e pela esquerda
Na semana passada, o
Senado aprovou a recondução de Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da
República. A recondução de Aras foi aprovada pela direita, pelo centro e
pela esquerda. Não teve terceira via, não teve nem segunda: foi uma
consagração.
Para quem não se lembra, o PGR é o sujeito
que poderia ter processado Bolsonaro pelo assassinato de centenas de milhares
de brasileiros, mas não o fez; poderia ter processado Bolsonaro por suas
ameaças reiteradas à democracia, mas não o fez. A competição é dura, mas a
PGR foi, com certa vantagem, a instituição que menos funcionou no Brasil de
Bolsonaro.
A CPI da Covid existe porque Augusto Aras não denunciou Bolsonaro enquanto havia tempo de salvar vidas. O número de brasileiros mortos durante a pandemia não seria, em hipótese alguma, 570 mil sem a contribuição de Augusto Aras. Alguns milhares destes cadáveres são seus, Augusto, é com você que alguns milhares de viúvas e órfãos têm que reclamar. Você só tem menos brasileiros mortos nas costas do que Jair Bolsonaro e Osmar Terra.
Esse golpe
marcado para 7 de setembro também está na sua conta, Augusto. Se Bolsonaro
tivesse medo de você, como teria se você tivesse cumprido a Constituição e lhe
dado motivos para tanto, esse golpismo todo teria morrido no primeiro semestre
de 2020. Mas você não fez nada, fez, Augusto? E agora a República está parada
esperando para contar quantos PMs vão aderir ao golpe no dia 7.
Nada disso pesou na decisão do Senado, nem
os que já morreram na pandemia nem os que podem morrer em caso de golpe. O que
pesou foi que Aras não “criminalizou a política”. Cumprindo
ordens de Bolsonaro, Aras matou a Lava Jato.
Por não ter “criminalizado a política”,
Augusto Aras recebeu do Senado o direito de não criminalizar o assassinato em
massa de brasileiros, o roubo de vacina ou a conspiração contra a democracia.
Na verdade, a única coisa que Aras mostrou-se disposto a criminalizar foi o
professor Conrado Hübner Mendes, que vinha denunciando todos esses crimes e vem
sendo vítima de perseguição sistemática pelo PGR.
Em um artigo publicado no site Poder 360 no
último dia 23, o advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o
Kakay, defendeu a recondução de Aras porque o PGR matou a Lava Jato, “que pariu
e embalou esse governo nazifascista”.
Kakay, não há dúvida de que a Lava jato de
Curitiba ajudou a eleger Bolsonaro, mas quem matou a operação foi o governo
nazifascista a quem Aras serviu 100% do tempo. Foi o fim da Lava Jato que
comprou o não impeachment de 2020. O cadáver da Lava Jato foi o que Bolsonaro
entregou ao sistema político em troca de não ser preso enquanto matava, roubava
vacina e perseguia opositores.
Não estou discutindo que a Lava Jato cometeu
erros gravíssimos, em especial no julgamento de Lula. Estou inteiramente
conformado em aceitar a liderança da velha política no enfrentamento de
Bolsonaro. Mas, se o antilavajatismo começar a absolver fascistas, ele serve
para quê?
O mais triste é saber que a recondução
aconteceu poucas semanas antes das manifestações golpistas convocadas para 7 de
setembro. Espero que, se a ofensiva fascista de Bolsonaro ganhar força, apareça
alguém para defender a democracia. Na
sessão do Senado que reconduziu Aras, não apareceu ninguém.
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