Folha de S. Paulo
Não basta anular os processos de políticos
corruptos tornando-os elegíveis
A rede de proteção que Bolsonaro armou em
torno de si é formada por deputados cooptados com cargos e verbas (inclusive
aquelas do “orçamento secreto”) e pelo condescendente titular da
Procuradoria-Geral da República.
O PGR teve sua recondução aprovada no
Senado por ampla maioria, em votação secreta, com contestações do senador
Fabiano Contarato, para quem o PGR “deixou correr solta a delinquência
bolsonarista” e do senador Alessandro Vieira que, em voto contrário em
separado, apresentou relatório circunstanciado e rigoroso no qual expôs a
complacência de Aras com os crimes de responsabilidade cometidos pelo
presidente da República.
Augusto Aras foi reconduzido à PGR especialmente por causa do seu perfil “garantista” e contrário à Operação Lava Jato. Na sabatina, afirmou que não iria “criminalizar a política”: expressão que é um código para defesa da impunidade. Também não esqueceu de falar mal da imprensa, o que muito agrada a bolsonaristas e lulistas.
Lula, aliás, reafirmou seu propósito
despótico de controlar os meios de comunicação (internet, inclusive), tendo o
desplante de atacar a imprensa para defender a tirania chavista que desgraçou a
Venezuela: “Eu vi como a imprensa destruía o Chávez”, disse o petista e
pré-candidato a presidente.
A recondução de Aras faz parte do conluio
pela impunidade, que se estendeu à Câmara, onde foi incorporado ao novo Código
Eleitoral um dispositivo que impõe quarentena de cinco anos a magistrados,
procuradores e militares que quiserem se candidatar.
Não há dúvida de que o enxerto casuístico
incorporado a mando de Arthur Lira visa impossibilitar candidaturas de nomes
que se notabilizaram na luta contra a corrupção e que o objetivo principal é
impedir que Sérgio Moro seja candidato a presidente.
Não basta anular os processos de políticos
corruptos tornando-os elegíveis, é preciso também retaliar os procuradores e
juízes que combateram a corrupção, expurgando-os da vida pública.
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