segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Miguel de Almeida - Pastores e meganhas no 7 de Setembro

O Globo

Como o Bozo não terá tempo de escrever sua fala para saudar os golpistas no 7 de Setembro, contribuo a seguir com um esboço.

Seria assim:

“Meus pastores, meus meganhas, meus motoqueiros!

Já dei provas de que não sou homem de me despentear. Nem sou frouxo. Sabem todos que só fraquejei uma única vez. Para corrigir, vou mandar a menina agora para a Escola Militar.

Vocês já me conhecem, sabem do que sou capaz. Não minto, só reminto, porque quem mente é um fraco; macho é quem mente várias vezes — tá certo, Malafaia?

Só tenho amores héteros, mas adoro mudar o Ramos de lugar e não dou pelota para o Magno Malta.

Vocês pensam ser fácil o meu cargo? Não estou aqui porque eu quero, foi um acidente: o Moro prendeu o Lula, e o Adélio foi uma aparição. Gostava mesmo é de ser deputado, de meu apartamento funcional para fazer bagunça. Estou cheio de convites para motociatas. Isso cansa. Até o Ciro quer me levar para aglomerar em Teresina. Já disse que não sou homem que se deixa aglomerar, nem tenho roupa para isso.

Quem me entende é o senador Rogério Carvalho. Ouviram o que ele disse? Malafaia, repete aí porque você sabe falar bonito para ganhar dinheiro.

— O senador petista disse sobre o senhor: ‘A gente só sabe a dor e a delícia de ser e de exercer um cargo público quando a gente vive esse cargo público’.

Vocês ouviram isso? Precisou alguém do PT reconhecer meu sacrifício. Não sou homem de reclamar, mas meus dias têm sido um calvário imenso. Qualquer estupidez que eu digo, a Carla Zambelli já tuíta e coloca um monte daquelas carinhas… lá…

— Smojis, senhor…

Isso eu sei, Mala, só estava fazendo uma inflexão aqui no meu discurso. Se eu quiser eu chamo de miojo, e todo mundo vai entender. A zureta da Zambelli enche com miojo qualquer coisa que eu digo. Se eu xingar o Barroso, lá vem miojo dela; se eu brigar com aquele ministro do STF que não gosto nem de falar o nome dele…

— Alexandre de Moraes…

Se manca, Mala. O discurso é meu, porra, chega, acabou. Tô ficando nervoso… Mas até esse ministro que eu não falo o nome…

— Alexandre de Moraes?

Eu queria aproveitar e desmentir umas inverdades que andam falando de mim. Odeio mentira. Acho que foi o Ramos que espalhou que meu apelido no Exército era Cavalão. Isso eu não nego. Era Cavalão. Mas era Cavalão por causa do meu arranque.

— O senhor era um atleta…

Acertou, Mala. Um atleta. Uma vez, até me choquei com um prédio, num salto de paraquedas, e sobrevivi porque era o Cavalão. Ainda hoje acho que foram os comunistas que puseram aquele edifício ali… Já não sou mais o mesmo. O Carluxo fez a gentileza de revelar ao mundo evangélico o tamanho da minha barriga naquela foto no hospital. Boa parte daquilo era uma baita prisão de ventre.

E por que essa gente fala tão mal de mim? Porque eu quero o bem dos meus filhos. Se eu puder dar filé-mignon para eles, vou dar. Não quero que o Carluxo puxe uma cana, por isso vou falar mal daquele ministro, assim ele não terá coragem de prender meu filho.

— Alexandre de Moraes!

Isso já está perdendo a graça, ô, Mala. É, é, é… Pronto, perdi o que eu estava dizendo.

— Estava falando que o Carluxo vai em cana por causa das fake news.

Louvado seja Deus que isso não aconteça. Porque, se for um, irão todos. Estão de olho no zero-zero. Tudo contra a gente. Agora querem reduzir a quantidade de pagamento em dinheiro vivo, já viu isso? Se eu quiser pagar um apartamento com oitocentos mil, nota sobre nota, não vou poder. Isso é perseguição. Comunistas, hereges, satanás, excomungados!

— Louvado seja Deus.

Eu, por exemplo, como um atleta, não esqueço a catarracada que o Jean Wyllys dirigiu ao meu ser. A primeira cusparada a gente não esquece. No tocante ao meu orgulho, isso dói. Sabe o que é ser cuspido na cara e ter de usar lenço sujo do Magno Malta? Deus é pai.

Deixemos de falar de coisa séria. Quero agora agradecer e deixar passar aqui em frente do palanque a ala das bozonetes, com a zureta da Zambelli, a Kicis e a Damares. Olhem só que beleza é a mulher brasileira. Agora, a ala dos presos, com nosso querido Bob Jef e o meganha do Silveira. Também entrando na avenida o bloco dos pastores, meus irmãos, e aqui um beijo carinhoso para a injustiçada da Flordelis, minha linda… Fechando o desfile, aquele que não poderia faltar: Aécio Neves, muito obrigado. Tamo juntos.”

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