O Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a retirada dos “cadáveres do armário”, as privatizações, o tripé macroeconômico – metas de inflação, câmbio flutuante e equilíbrio fiscal – são avanços inegáveis, mas não conseguiram assegurar a retomada do crescimento vigoroso dos anos dourados do capitalismo brasileiro. E, sem geração ampliada de riqueza, renda e emprego, o combate às desigualdades fica muito mais difícil.
Na última semana levantei três linhas
iniciais explicativas: o baixo desempenho nos planos da educação e da ciência e
tecnologia, num momento em que a economia contemporânea transitava para a
sociedade do conhecimento e da inovação; a convivência com uma inflação
cronicamente aguda entre os anos 1980 e 1994, o que nos roubou uma década e
meia pela desorganização produzida por um quadro à beira da hiperinflação; e, a
crise fiscal estrutural que foi explicitada após a estabilização da economia,
inibindo investimentos públicos, vetor essencial do crescimento nos tempos de
Vargas, JK e Geisel.
Mas, o que pode explicar o modesto desenvolvimento
econômico recente do país são múltiplas causas, e hoje especulo mais algumas.
Certamente, a falta de seletividade foi uma delas. O processo de substituição de importações foi longe demais. Quando o governo brasileiro resolveu enfrentar a crise de 1974 com endividamento externo, aproveitando a alta liquidez internacional proporcionada pelos petrodólares, para investir pesado na expansão das empresas estatais e na infraestrutura, a ideologia que inspirava o Segundo PND de Geisel tinha como horizonte, no limite, a internalização de quase todas as cadeias produtivas e a consolidação de um país quase autossuficiente, fechado e pouco dependente do comércio internacional. Para contrapor um exemplo: a Coréia do Sul não só apostou alto em educação de qualidade, para fortalecer a disponibilidade de capital humano qualificado, e no desenvolvimento tecnológico como motor da inovação e da competitividade, mirando a integração no mundo globalizado, como fez apostas em poucos setores e empresas. Apesar da intensa ação governamental, as “campeãs nacionais” coreanas como Samsung, Hyundai, Hanwha, POSCO e LG, entre outras, são ancoradas na integração global de uma economia aberta, na competividade e na inovação, e não em benesses estatais ou proteção exacerbada.
Isso realça outra opção equivocada do Brasil.
Não percebemos que a globalização impunha novos paradigmas e desafios. Escala,
qualidade, eficiência, produtividade, competitividade seriam essenciais para garantir
a integração aos grandes fluxos econômicos e comerciais no mundo globalizado,
realidade que marcou o fim do século XX e o início do XXI. Reafirmamos a opção
pelo fechamento e o protecionismo. Sobre este tema, sugiro a leitura dos
artigos e entrevistas do professor Edmar Bacha localizados no site da Casa das
Garças (https://iepecdg.com.br).
Concluirei esta reflexão sobre o
desenvolvimento brasileiro recente na próxima semana.
*Economista
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Até.
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