O Estado de S. Paulo
Nem um minuto a mais deveria ser desperdiçado com esse tipo de programa de curto prazo
O presidente Lula cobrou dos seus ministros
da área econômica uma “aberturazinha” para a criação de um programa de
incentivos para baratear o custo dos eletrodomésticos da linha branca, como
geladeira e máquina de lavar roupa. Um dia depois, desconversou: disse que era
uma insinuação.
A primeira fala era claramente uma
tentativa de fazer um aceno ao setor de varejo, que está irritadíssimo com a
decisão do governo de isentar a cobrança do Imposto de Importação para as
compras de até US$ 50 (R$ 238) em plataformas de vendas de e-commerce
estrangeiras, como a Shein, AliExpress e Shopee.
A concessão da isenção teve a digital do presidente, e não era uma medida de interesse da equipe do ministro Fernando Haddad, que busca o aumento da arrecadação. Os varejistas nacionais ficaram indignados com o tratamento tributário diferenciado, que os coloca em desvantagem. Eles ameaçam com demissões e podem recorrer à Justiça.
Agora, o caso dos eletrodomésticos é mais
um dos episódios do “vale a pena ver de novo” do governo Lula de programas
ruins. Os governos Lula e Dilma Rousseff fizeram esse tipo de programa não só
com carros, e o fôlego é sempre de curto prazo. Dilma lançou o Minha Casa
Melhor, um programa de crédito para mobiliar a casa.
Na época, reportagem do Estadão revelou que
a Caixa ignorou análises feitas pela sua própria área técnica ao bancar o
programa que já nasceu deficitário. Na prática, o banco público estava
subsidiando um programa de governo, o que é vetado pela Lei de Responsabilidade
Fiscal – a não ser que o subsídio seja explícito e pago com recursos
orçamentários.
Além do atraso desse tipo de política, que
não deveria nem sequer estar sendo cogitado, a simples menção do presidente em
fazer o programa já interfere no mercado e pode travar vendas.
Discutir incentivo para um setor específico
no meio da batalha da reforma tributária no Congresso, quando o governo quer
barrar a pressão por mais exceções, não é um bom sinal.
O que o governo precisa é apresentar logo
um plano robusto de reindustrialização do
País. Gastar energia e dinheiro dos
contribuintes com esses programas ultrapassados não ajuda nesse caminho.
Nem um minuto a mais deveria ser
desperdiçado com esse tipo de programa de curto prazo e velho. Quase sete meses
depois do início do mandato Lula 3, o governo ainda continua devendo as medidas
para impulsionar a chamada neoindustrialização, como Lula e o vice-presidente
Geraldo Alckmin pregaram em artigo publicado no Estadão há dois meses. O tempo
está correndo.
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