CartaCapital
Os dados não confirmam a narrativa dos mercadistas, mas atestam o êxito da gestão do ex-ministro
Sábado, 27 de janeiro, entrego-me à leitura
do jornal Folha de S.Paulo. A manchete de primeira página anunciava: “Reação
negativa faz Lula desistir de ter Mantega na Vale”. À estrondosa manchete
seguiam-se comentários dos jornalistas incumbidos de produzir a matéria.
Nessas deambulações, os profissionais da mídia oferecem aos leitores considerações a respeito das circunstâncias que cercaram as desistências do presidente Lula e do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Lá pelas tantas, o leitor é abalroado por uma informação que não se coaduna com os fatos.
Vamos a um excerto do texto exibido pela
Folha: “Após a reação negativa do mercado financeiro e do Conselho da Vale à
pressão do presidente Lula para colocar Guido Mantega à frente da mineradora, o
ex-ministro da Fazenda decidiu, em conjunto com o presidente, que não irá
buscar a nomeação”.
Mais adiante os gentis jornalistas da Folha
tropeçam nas armadilhas dos preconceitos espargidos pelos finórios dos mercados
financeiros: “O ex-ministro foi um dos responsáveis pela política econômica dos
anos Dilma
Rousseff (PT, 2010-2016) no poder, que levou à recessão”.
Certamente movido por opiniões
preconceituosas de muitos de seus articulistas de então, o
jornal permitiu-se divulgar que o desastre de 2015-2016 contou com a
participação de Guido Mantega.
Mantega despediu-se do governo Dilma em
2014, substituído pelo economista Joaquim Levy. Ostentando os sábios
ensinamentos da Escola de Chicago, Levy empenhou seus saberes no “ajustamento
da economia”.
Na eleição de 2014, os mercados e seus
súditos na academia e na mídia proclamavam o “desastre” dos governos Lula e Dilma.
As desgraças, diziam eles, foram incitadas por um ímpeto gastador que teria
destroçado as finanças públicas.
Os “especialistas mercadistas” que
proclamavam as desgraças têm o hábito de enfrentar as formulações de seus
êmulos desenvolvimentistas com increpações muito peculiares. Acusam os
adversários de desconsideração com os dados e utilização de “narrativas”.
Vamos aos dados: Ver abaixo
Tenho a impressão de que os dados não
confirmam a narrativa dos mercadistas, mas afirmam duas constatações. Primeiro,
a gestão de Guido Mantega no
Ministério da Fazenda foi exitosa: elevada taxa média de crescimento do PIB e
Superávit Primário, o que não atesta gastança, mas afirma ensinamentos
elementares de macroeconomia.
Produzido pela crise do subprime, o choque
externo de 2009 foi enfrentado por um conjunto de medidas anticíclicas. A
elevação do gasto foi movida, sobretudo, pelo impulso dos financiamentos
do BNDES.
Capitalizado (sic) pelos títulos do Tesouro, o banco disparou o crédito
direcionado e suscitou a elevação da Formação Bruta de Capital para 21% do PIB.
As tabelas acima também informam uma
desaceleração do crescimento no período 2011-2014, quando as crises na Zona do
Euro deflagraram temores e incertezas na economia internacional.
A encrenca de 2015-2016 foi produzida,
certamente, pela “narrativa” que afirmava o excesso de gasto no período Lula-Dilma.
Um “excesso” curioso e singular do ponto de vista da macroeconomia elementar. O
comportamento abusivo do gasto provocou um excelente desempenho do resultado
fiscal, expresso nos elevados superávits primários (também declinaram ao longo
da desaceleração da economia).
Vitoriosa na eleição de 2014, Dilma sucumbiu
ao terrorismo dos gestores e economistas acasalados na Faria Lima e permitiu
que Joaquim Levy produzisse uma depressão econômica. O ajuste de Levy fez a
economia brasileira desabar 3,8% em 2015 e 3,3% em 2016.
Em 2017, escrevi aqui com Gabriel Galípolo
que, “após o crescimento de 0,5% em 2014, a economia do País descambou para
dois anos de depressão. A trapalhada de 2015-2016 perpetrou a interação entre
um choque de tarifas, a subida da taxa de juros, a desvalorização do real e o
corte dos investimentos públicos.
*Publicado na edição n° 1297 de CartaCapital, em 14 de fevereiro de 2024.
2 comentários:
Falta o ano 2002 no primeiro gráfico. Dá pra ler, mas não convence.
Belluzzo com dois Ls e Zs.
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