Ao fim e ao cabo, 2026 está
logo ali e, para seu sucesso, 2025 é peça incontornável para que a disputa que,
tendo como objetivo a vitória eleitoral, necessita que os candidatos demonstrem
suas credenciais e talentos para governar melhor o país e os estados.
O problema surge quando, em vez de priorizar esses aspectos proativos do governar, predominam as brigas e as discussões, esquecendo-se que, em uma democracia, os vencedores devem ser capazes de unir o povo em torno dos nossos objetivos de desenvolvimento sustentáveis e estabelecer um denominador comum que os torne viáveis também para os não vitoriosos, alcançando assim uma governança que permita o bom funcionamento do país e dos estados.
Quando esse espírito se
esvai, a tecitura da Frente Democrática se esgarça, e o processo eleitoral pode
e quase sempre se torna uma batalha em que o foco não está em propostas e/ou
ideias do bom governo, mas sim em destacar as supostas deficiências de seus
adversários, que podem se tornar as personificações dos males e inimigos. Pois
quando isso acontece, e é disso que precisamos desde ontem nos afastar, o
consenso básico de uma democracia é ameaçado.
Nessa triste hipótese, as
emoções negativas tendem naturalmente a predominar. Descontentamento,
ressentimento e raiva são cultivados, nuances desaparecem, tudo é preto no
branco e posições extremas se desenvolvem tanto à Esquerda quanto à Direita, e
não se percebe o Centro (presente em todas as pesquisas), ainda mais quando a
base tecnológica da informação e comunicação (não nos faltam fake news com
o uso inadequado de WhatsApp e afins na disseminação) que possuímos hoje
possibilita uma reestruturação da disputa política em conflito, levando a
níveis de incivilidade e enfraquecendo a democracia e sua cultura.
Diante das dificuldades da
realidade, a dialética democrática pode degradar-se em negações que
ficcionalizam a realidade em versões alternativas, as ditas “narrativas”, que
ignoram os dados objetivos que emergem do conhecimento científico, das
estatísticas, dos números, da necessidade de desenvolvimento sustentável
econômico e da obrigação de pensar a longo prazo para definir os interesses do
país e estados e de alcançar um progresso de sustentabilidade.
Nessas ficcionalizações da
realidade em versões alternativas, qualquer afirmação tem o mesmo valor; uma
afirmação verificável conta tanto quanto um slogan; e uma mentira
repetida pode se tornar verdade como apostou a propaganda nazista.
A ficcionalização da
realidade em versões alternativas de diferentes ideologias tende a ser
construída unicamente com base em percepções e sentimentos, na maioria das
vezes negativos, de ressentimento, de um espírito conspiracionista, de
respostas simples e autoritárias ao complexo. Para a frase demagógica, tudo é
simples de resolver; se algo não se resolve, é por falta de vontade política.
Não se trata mais de convencer com os dados objetivos que emergem do
conhecimento científico, das estatísticas, dos números; basta vencer. Portanto,
isso reforça a ideia de uma figura (masculina ou feminina) providencial,
cercado por um bando disposto a tudo.
Como os golpes de Estado não
são mais eficazes – vide Ação Penal (AP) 2668, o objetivo é desmantelar a
democracia por dentro. Foi isso que levou Chávez e Maduro, Ortega, Bukele e
Milei, Putin e Orban, Erdogan, o próprio Netanyahu e, mais grave, Trump ao poder,
por meio de processos eleitorais tíbios. Como país, conseguimos com a Frente
Democrática nos afastar de tudo isso, mas não estamos imunizados dessa
contaminação.
Em nosso processo eleitoral,
haverá candidaturas com orientação democrática de toda a geografia política.
Teremos candidatura que representará um movimento progressista reformista, e
outra, que represente o movimento de direita.
Ocorre que por nossa
natureza, a abertura ao centro – exemplarmente exposto em Sinfonia
barroca: o Brasil que o povo inventou de Rubem Barboza Filho (Rio de
Janeiro: Ateliê de Humanidades Editorial, 2025) – deve buscar responder aos
problemas existentes de forma eficiente, respeitando as regras democráticas
sempre foi o móvel da Frente Democrática entre nós e que se saiu bem-sucedida
em 2022. Portanto, a melhor andata eleitoral deve buscar uma
expansão centrípeta de fato, atraindo os seus votos para um consenso
majoritário junto a cultura política dos moderados.
Mas, particularmente na
extrema direita, haverá candidaturas mais próximas de populismos autoritários,
para os quais não existe valores na democracia liberal. Buscam unir
ressentimentos e medos diversos que têm em comum a descrença e a ignorância
quanto à complexidade da dinâmica democrática. Buscam uma expansão centrífuga
em direção aos extremos, unindo as diversas intolerâncias e inquietações em
torno de propostas grosseiras, rudimentares e simplistas.
Portanto, a eleição de 2026
é uma incógnita para a democracia, visto que o clima cívico tem sido afetado
pelos últimos anos: aumento da criminalidade, declínio moral e intelectual e
lento progresso econômico. Estes são tempos complexos no Brasil e no mundo,
embora não sejam, como algumas ficções sugerem, catastróficos e caóticos.
A despeito do atual governo poder apresentar sua candidatura em 2026, ele deve desempenhar um papel pró estabilidade. Seus quinze minutos já se passaram. Para ele angariar novos quinze minutos ele terá que aprimorar seu desempenho nos meses restantes de sua gestão e evitar conflitos, esquecendo de uma vez por todas o mundo de outrora que não ocorreu nem ocorrerá. A coletiva em Paris (diversa em tudo daquele março de 2024) foi naturalmente mais do que generosa com suas conquistas e excessivamente distraída com seus erros. Todos sabemos que alguns de seus anúncios jamais verão a luz do dia tal, mas seu tom demonstrou um aprendizado cívico significativo e encorajador.
*Ricardo Marinho é Presidente do Conselho Deliberativo da CEDAE Saúde e professor da Faculdade Unyleya, da UniverCEDAE e do Instituto Devecchi.
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