Correio Braziliense
Haddad rebate as críticas sobre as contas
públicas num ambiente hostil
Depois do incidente com a ministra do Meio
Ambiente, Marina
Silva, que foi agredida verbalmente por senadores de oposição e se retirou
de uma sessão da Comissão de Infraestrutura no Senado, pautada pelo
negacionismo ambiental e a misoginia, foi a vez do ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, passar por constrangimentos na Comissão de Finanças e Tributação
(CFT), cujo presidente, Rogério Correia (PT-MG), encerrou a sessão nesta
quarta-feira (11/6), depois que os deputados Nikolas
Ferreira (PL-MG) e Carlos Jordy (PL-RJ) iniciaram um tumulto em
resposta a uma crítica feita por Haddad.
O Congresso se tornou um ambiente tóxico para alguns ministros do Lula mais visados por serem petistas ou de outros partidos de esquerda, por causa da radicalização ideológica. A “política do espetáculo” passou a ter como palco privilegiado as diversas comissões das duas Casas. Por definição, na psicologia social, um ambiente tóxico é caracterizado por relações interpessoais marcadas por comportamentos negativos e prejudiciais, como bullying, assédio, discriminação e falta de respeito. É marcado por desentendimentos e conflitos, clima opressivo e comportamento agressivo.
Na segunda rodada de perguntas, Nikolas
Ferreira e Carlos Jordy criticaram o que chamaram de gastança do governo,
dizendo que as medidas recentes não cobrem o déficit nas contas públicas. Antes
de o ministro responder aos questionamentos, porém, eles se retiraram da
audiência. No momento de sua fala, Haddad criticou a ausência dos dois
parlamentares e chamou o ato de “molecagem”.
“Agora aparecem aí dois deputados, fazem as
perguntas e fogem dos debates. (...) É um pouco de molecagem, isso não é bom
para a democracia”, comentou Haddad. Na terceira rodada de perguntas dos
deputados, porém, Jordy retornou ao plenário, pediu direito de resposta e
rebateu Haddad com agressividade. “Eu estava em outra comissão. O ministro nos
chamou de moleque. Moleque é você, ministro, por ter aceitado um cargo dessa
magnitude e só ter feito dois meses de [faculdade] economia. Moleque é você por
ter feito que o nosso país ter o maior déficit da história. Governo Lula é pior
do que uma pandemia”, disparou.
Nikolas também pediu questão de ordem e tentou responder, mas o deputado Rogério Correia, que comandava a audiência pública, não concedeu, o que levou a um bate-boca entre Correia, Jordy, Nikolas e o deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP), que seria o próximo a falar. Sem acordo para retomar a audiência e após pedir ordem ao plenário várias vezes, Correia encerrou a audiência antes do início da terceira rodada de perguntas.
Déficit fiscal
O debate sobre o pacto do governo para
combater o déficit fiscal é o centro da discórdia. Haddad rebate as críticas
sobre as contas públicas atuais do governo, repete que o superávit primário
(economia de recursos para os juros da dívida pública) de R$ 54,1 bilhões em
2022, último ano do governo de Jair Bolsonaro (PL), foi obtido com o atraso no
pagamento de precatórios e a privatização da Eletrobras por um valor abaixo do
mercado.
Ressalta que o resultado daquele ano foi
obtido com o prejuízo de cerca de R$ 30 bilhões com o Imposto sobre a
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), com a redução artificial dos
preços dos combustíveis, dinheiro devolvido pelo governo atual aos estados em
2023. Haddad menciona ainda o pagamento recorde de cerca de R$ 200 bilhões de
dividendos da Petrobras, que beneficiou o Tesouro Nacional, o maior acionista
da estatal.
A oposição desce o pau: “O que vimos foi um
ministro descompensado, isolado e hostil. Haddad perdeu totalmente as condições
de continuar no cargo”, criticou o líder da oposição, deputado Zucco (PL-RS).
Na verdade, Haddad não passa por um bom momento. Sabe que precisa reduzir
gastos, mas enfrenta a resistência do próprio presidente Lula e não pode contar
com apoio da base do próprio governo para aumentar impostos.
Esse recado já foi dado pelo presidente da
Câmara dos Deputados, Hugo
Motta (Republicanos-PB), que ontem participou do evento Brasília
Summit, promovido pelo Grupo Lide e pelo Correio Braziliense, para debater a
economia brasileira, agronegócio na segurança alimentar e o papel do mercado
imobiliário. Motta afirmou que o corte de gastos primários entrará na agenda do
Congresso Nacional e cobrou que o governo faça sua parte no controle das
despesas.
No evento, Motta anunciou que um novo modelo de Estado será colocado na ordem do dia do Legislativo. “Vamos colocar na ordem do dia um novo modelo de Estado, queremos um Estado mais eficiente, menos perdulário, com serviços de melhor qualidade, instituindo a meritocracia e aumentando a eficiência do nosso funcionalismo público”, disse. Para o presidente da Câmara, o Congresso Nacional deve ser “uma âncora da responsabilidade fiscal, para que não sejam tomadas decisões prejudiciais ao Brasil.” Segundo ele, todas as propostas que o Executivo encaminhou ao Parlamento para melhorar a arrecadação foram aprovadas.
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