quinta-feira, 12 de junho de 2025

Força de Lula vai definir nome da direita em 2026 - Silvio Cascione

O Estado de S. Paulo

O interrogatório de Jair Bolsonaro no STF reaqueceu especulações sobre sua provável condenação e prisão antes da eleição de 2026. O avanço célere do processo reforçou entre parlamentares a ideia de que ele será forçado a sair de cena, abrindo espaço para o governador Tarcísio de Freitas assumir a candidatura da direita.

Esse cenário é verossímil, mas incompleto. O futuro de Bolsonaro, mesmo em caso de prisão, continuará a depender de sua própria vontade – e essa vontade está condicionada à força de Lula. Há quem acredite que, uma vez condenado, Bolsonaro se convencerá de que não poderá sustentar a narrativa de que ainda é candidato e será pressionado a recuar, indicando um nome mais palatável ao centro, como Tarcísio. O governador tem boa avaliação em São Paulo e trânsito institucional no STF, o que o tornaria peça útil num eventual indulto em 2027.

Mas essa hipótese esbarra num ponto decisivo: Bolsonaro sabe que não há garantias reais de que um presidente eleito conseguirá reverter sua situação com o STF. Sabe quem será o presidente da Corte entre 2027 e 2029? Ele mesmo: Alexandre de Moraes. Por isso, e pela resistência de outros ministros, a promessa de indulto é hoje difícil de sustentar. Se não houver espaço para acordos, a tendência pode ser a radicalização de Bolsonaro. A partir da prisão, ele pode manter a mobilização de sua base e tentar transferir votos para um herdeiro – provavelmente um dos filhos.

Diante dessa incerteza, o fator mais determinante não é o desfecho judicial, mas a força da oposição frente a Lula. Se o presidente chegar enfraquecido à campanha – com baixa aprovação e dificuldades econômicas –, Bolsonaro terá margem para bancar um dos filhos. Se Lula se mostrar forte, Bolsonaro será mais facilmente convencido a eleger sua família para o Senado e indicar Tarcísio para enfrentar o petismo.

Líderes que orbitam o bolsonarismo têm feito esse diagnóstico. O movimento do ex-presidente será, portanto, menos uma resposta à Justiça e mais uma leitura do risco eleitoral. Quanto mais competitivo estiver Lula, maior a chance de Bolsonaro recuar – não por condenação, mas por cálculo.

 

Nenhum comentário: