O economista americano e prêmio Nobel Paul
Krugman afirmou ontem que os EUA ainda não começaram a sentir para valer os
impactos da alta repentina das tarifas a produtos importados, mas que se nada
mudar nas novas regras, a maior economia do mundo vai assistir a uma redução
brutal em seu comércio com o mundo.
“Saímos de uma tarifa de menos de 3% em média
para uma alíquota próxima de 17% em média hoje, é a tarifa mais alta nos EUA
desde 1936. Ou seja, revertemos 90 anos de liberalização do comércio com uma
canetada do presidente”, disse Krugman, em São Paulo. Ele foi principal orador
do evento realizado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados
Financeiro e de Capitais (Anbima), o Anbima Summit 2025.
O presidente americano, Donald Trump, anunciou novas tarifas no início de abril. Depois, adiou a entrada em vigor de algumas delas. Enquanto isso, as tarifas médias seguem muito mais altas do que eram até então. “É um choque imenso para o sistema e se continuarmos com as tarifas atuais”, disse Krugman, “o comércio americano com o um todo vai cair 50%”. “É uma reversão de toda a globalização que os EUA promoveram desde os anos 80.”
Krugman rebate os americanos mais otimistas
que dizem que as tarifas não estão servindo de combustível para a retomada das
inflação.
“As empresas, as lojas não vão engolir essas
tarifas. Elas serão repassadas para os consumidores”, afirmou. A questão é que
esse processo pode levar um pouco mais de tempo, porque antes da alta das
tarifas, muitas empresas americanas se precaveram ampliando suas importações
para garantir estoques.
Crítico agudo de Trump, Krugman vê a atual
gestão como uma fonte de incertezas para investidores e empresários. E
classifica como errático o processo de tomada de decisões no governo, em
particular sobre as tarifas.
“Que tipo de investimento será feito num
cenário assim? Toda essa insegurança essa incerteza leva a problemas. Tido está
sendo colocado compasso de espera”, disse o Nobel de Economia de 2008.
Para ele, os EUA estão a caminho de uma
retração de sua economia. Mas, além disso, há outro ponto de alerta. “Algo bem
estranho está ocorrendo nos EUA financeiramente.”
Krugman disse que os EUA, assim como outras
economias desenvolvidas, são vistos como capazes de lidar com seus altos
endividamentos.
“Em geral, quando algo ruim acontece com o
mundo, o dólar se fortalece”, disse. Mas a moeda americana tem perdido força,
enquanto os juros estão em alta. As tarifas também deveriam produzir um efeito
sobre a moeda. “Normalmente, as tarifas fortalecem a moeda.”
Krugman nota que muitas pessoas se perguntam
atualmente se o dólar está a caminho de ser substituído pelo euro ou pelo yuan,
um cenário que, para ele, é pouco provável.
“Os títulos do Tesouro americano são usados
como garantia para tudo. Mas e se isso não for mais verdade? Trará danos
extremos para economia global.” E acrescentou: “Os EUA estão fazendo uma
besteira muito grade no comércio do país. Eu me preocupo muito com as tarifas e
com as políticas de deportação e fico de olho no dólar”.
Indagado sobre se é hora de se começar a
rever o dólar como porto seguro, Krugman, declarou: “No momento pelo menos, o
dólar continua como base para o comércio global e várias transações”, lembrou
ele. “Mas se eu fosse um banco central eu diversificaria as minhas reservas
reduzindo a participação do dólar. Por que o dólar é [agora] uma moeda mais
incerta comparada com sua posição anterior.”
O economista lembrou que os EUA, assim como a
Europa, vivem um momento de pleno emprego e defendeu que não são necessárias
políticas fiscais expansionistas.
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