Folha de S. Paulo
Fim de privilégios à renda mais alta é
necessário para a saúde das contas públicas
A decisão do presidente Hugo Motta (Câmara)
de surpreender e pautar o projeto de derrubada do decreto de alta do IOF tem
por trás um componente de revolta com a estratégia do governo Lula de apostar
na polarização econômica entre o andar de cima versus o andar de baixo da
população brasileira nas discussões das medidas de ajuste fiscal.
Entre as lideranças, inclusive aliados de primeira hora de Lula nas eleições de 2022, a percepção é que o presidente e seus ministros esticam a corda do conflito aberto após a rejeição do Congresso à alta de impostos e cobranças por corte de despesas.
O alvo maior da irritação é o ministro Fernando
Haddad (Fazenda), que na visão desses parlamentares estaria carimbamdo
essa briga, mesmo após o que chamam de "armistício" acertado com
Motta e o presidente do Senado, Davi
Alcolumbre, em torno do IOF.
Foi essa negociação que resultou num novo
decreto do IOF, que reduziu a um terço o seu potencial.
No início do governo Lula, Haddad era visto
como o cara do time de Lula que fazia o contraponto nas negociações políticas
das medidas fiscais. E, agora, mesmo num ambiente conflagrado com o mundo
político e o setor produtivo, subiu o tom ao dobrar a aposta se aliando às
lideranças do PT,
como a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Lindbergh Farias (líder do
partido), insistindo no discurso de que o Congresso não quer tributar os ricos
para que o ajuste recaia sobre os mais pobres.
É evidente que a briga política é muito maior
do que a taxação de ricos e pobres. Em jogo, está o futuro da obrigatoriedade
do pagamento das emendas parlamentares, os jabutis da conta de luz, uma solução
para o déficit público no curto prazo, as eleições de 2026 e outros temas
sensíveis.
O fim da isenções e privilégios que
beneficiam os setores e as pessoas de renda mais alta é mais do que necessário
para a saúde das contas públicas. Mas o governo pode estar cometendo um erro ao
buscar a polarização. Nessa toada, o projeto da taxação mínima dos milionários
de Haddad vai para o brejo.
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