quinta-feira, 26 de junho de 2025

Andar de cima x andar de baixo – Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Fim de privilégios à renda mais alta é necessário para a saúde das contas públicas

A decisão do presidente Hugo Motta (Câmara) de surpreender e pautar o projeto de derrubada do decreto de alta do IOF tem por trás um componente de revolta com a estratégia do governo Lula de apostar na polarização econômica entre o andar de cima versus o andar de baixo da população brasileira nas discussões das medidas de ajuste fiscal.

Entre as lideranças, inclusive aliados de primeira hora de Lula nas eleições de 2022, a percepção é que o presidente e seus ministros esticam a corda do conflito aberto após a rejeição do Congresso à alta de impostos e cobranças por corte de despesas.

O alvo maior da irritação é o ministro Fernando Haddad (Fazenda), que na visão desses parlamentares estaria carimbamdo essa briga, mesmo após o que chamam de "armistício" acertado com Motta e o presidente do SenadoDavi Alcolumbre, em torno do IOF.

Foi essa negociação que resultou num novo decreto do IOF, que reduziu a um terço o seu potencial.

No início do governo Lula, Haddad era visto como o cara do time de Lula que fazia o contraponto nas negociações políticas das medidas fiscais. E, agora, mesmo num ambiente conflagrado com o mundo político e o setor produtivo, subiu o tom ao dobrar a aposta se aliando às lideranças do PT, como a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Lindbergh Farias (líder do partido), insistindo no discurso de que o Congresso não quer tributar os ricos para que o ajuste recaia sobre os mais pobres.

É evidente que a briga política é muito maior do que a taxação de ricos e pobres. Em jogo, está o futuro da obrigatoriedade do pagamento das emendas parlamentares, os jabutis da conta de luz, uma solução para o déficit público no curto prazo, as eleições de 2026 e outros temas sensíveis.

O fim da isenções e privilégios que beneficiam os setores e as pessoas de renda mais alta é mais do que necessário para a saúde das contas públicas. Mas o governo pode estar cometendo um erro ao buscar a polarização. Nessa toada, o projeto da taxação mínima dos milionários de Haddad vai para o brejo.

 

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