Julia Moura / Folha de S. Paulo
Em debate, economistas defendem desindexação
de gastos para melhorar contas públicas
Para o economista e filósofo Eduardo
Giannetti, o Brasil ainda tem tempo hábil de fazer um ajuste
fiscal, antes que uma crise econômica seja desencadeada.
"Não vejo o Brasil hoje à beira de um
precipício fiscal. Estamos no momento de entender, antecipar e agir. É melhor
agir antes que as coisas piorem muito. Assim como no caso de uma doença, o
diagnóstico antecipado é melhor", afirmou o autor de livros como
"Vícios privados, benefícios públicos?" durante o Anbima Summit,
nesta quarta-feira (25).
Segundo projeção da IFI
(Instituição Fiscal Independente), do Senado Federal,
as contas públicas do Brasil terão
um déficit primário de R$ 83,1 bilhões ao fim de 2025. Ainda assim, elas
ficarão dentro da meta prevista no arcabouço fiscal, definida pelo atual
governo.
Esse ajuste, porém, poderia vir apenas no início do próximo mandato presidencial em 2027, de acordo com Giannetti.
"Não tenho esperança que esse governo,
em fim de mandato e com baixo capital politico, consiga avançar em questões de
estado", afirmou.
No mesmo painel, Carlos Kawall,
sócio-fundador da consultoria de investimentos Oriz, ponderou se, mesmo com um
novo governo, o ajuste seria possível: "Estamos no momento para ajuste
fiscal, com alta polarização política?".
Para o economista, o ajuste fiscal deve ser
feito com mudanças na Constituição, de modo a dar flexibilidade ao Orçamento.
"Hoje, com Brasil envelhecendo, alguns
municípios gastam mais com saúde do que com educação, mas não é possível
realocar de um para o outro", disse Kawall.
Ele defendeu ainda a desindexação dos gastos.
"Não adianta mais criarmos regras fiscais se não formos na origem do
problema. Não podemos ter o pé no fundo do acelerador do gasto estatal."
Giannetti também fez críticas à rigidez
orçamentária.
"Benefícios não podem ser indexados ao
salário mínimo, e sim pelo IPCA. Não faz sentido econômico. Valorizar o salario
mínimo é legitimo por causa de produtividade, mas não pode se reproduzir
automaticamente para benefícios."
Segundo o economista, hoje, a maior parte da
arrecadação do país vai para o pagamento da Previdência e de juros da dívida
pública.
"A atual carga tributária do país esta
entre 34% e 33% do PIB [Produto
Interno Bruto]. Ou seja, um terço da produção é arrecadada pelos governos
municipais estaduais e federais. Isso é muito para um país como o Brasil. Seria
justificável se o país entregasse um bom serviço público, mas estamos em pleno
século 21 e ainda não temos saneamento básico para metade dos domicílios
brasileiros e o nosso ensino fundamental é absolutamente aquém do
necessário", afirmou Giannetti.
"Hoje, 23% do PIB vai para o pagamento
das previdências público e privada para e o pagamento de juros da dívida
pública. Se não desfizermos isso, não vamos sair da encrenca na qual estamos.
Esse não é um problema de um governo ou de outro. Nos acompanha desde sempre. A
questão é séria. Crônica, atravessou diversos governos e ideologias",
completou o economista.
Segundo cálculos de Giannetti, o custo da
rolagem da dívida pública com juros futuros em alta é de 8% a 9% do PIB. INSS é
8,5% e aposentadoria de servidores públicos 6%. "Esse custo com
previdência equivale ao de países com uma população três vezes mais idosa que a
nossa."
Ana Paula Vescovi, economista-chefe do
Santander Brasil e colunista da Folha, realçou a necessidade na melhora
dos gastos públicos.
"Avaliar o serviço público e seus impactos seria uma revolução silenciosa. O Estado precisa focar o prioritário, e também não podemos ter descasamento em 'não quero pagar mais impostos, mas quero mais Estado' ", disse Vescovi.
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