Folha de S. Paulo
Porque eles próprios não são pobres e medidas
antirricos os afetam pessoalmente
Deveria chocar toda a população, porque
obscena, a ofensiva do Congresso contra qualquer discussão séria sobre tributar
os mais ricos, ao mesmo tempo em que se lambuza com a liberação das emendas,
que dobrou
em apenas um dia —chegou a R$ 1,72 bilhão na terça-feira (24).
Faz sentido olhar como parlamentares antipobres têm buscado reverter a narrativa: fala-se em aumento da tributação, apelando para o senso comum de que se tributa muito no país.
Na prática, a teoria é outra: tributa-se
muito os mais pobres, pelo consumo, e a classe média, pelo Imposto de
Renda, mas quase nada se tributa dos mais ricos. Ao propor elevar o IOF e
tributar investimentos imobiliários e de agronegócio, hoje isentos, o que o
governo quer é tributar quem hoje não paga, mas deveria. Isso vale para
discutir supersalários da elite do funcionalismo, inclusive do Judiciário, bem
como rediscutir renúncias fiscais, temas tabu no Parlamento.
Faria bem ao Congresso, que deveria
representar a população, que paga seus salários, e não os lobbies, que o
controla, escutar o que pensam os brasileiros.
Pesquisa do Centro de Estudos da Metrópole
(CEM) revela que o eleitorado brasileiro é a favor de tributar mais os ricos e
menos os pobres, na contramão do que o Congresso tem feito, inclusive ao pautar
de surpresa o PDL sobre o IOF nesta quarta (25). O debate não é sobre diminuir
impostos, mas sim diminuir impostos para quem?
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O Congresso no Brasil —e em outras
democracias desiguais— tende a proteger os mais ricos porque eles próprios e
seus amigos não são pobres, porque medidas antirricos os afetam pessoalmente ou
por conta de suas redes de influência. São justamente essas hipóteses que um
consórcio internacional, do qual a FGV faz parte, tenta verificar empiricamente
desde 2024, num projeto sobre reprodução política da riqueza.
Seja qual for a resposta, já sabemos qual
pergunta deveria ser feita: por que o Congresso está mantendo os seus amigos na
elite brasileira livres de pagar o que os mais pobres já pagam e chamam isso de
justiça?
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