DEU NO VALOR ECONÔMICO
A reunião entre a cúpula do PT de São Paulo e o deputado Ciro Gomes (PSB), prevista para hoje, não é simplesmente mais um encontro político eletivo, destinado a criar fatos da campanha governista à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou ao governo do Estado. Do ponto de vista do Partido dos Trabalhadores, trata-se agora de iniciar um movimento para definir o quadro de disputa estadual. O PT paulista tem usado termos fortes para definir a situação em que se vê. Acha que está passando por um "vexame" em São Paulo. Humilhação e inquietação são também palavras do novo vocabulário dos dirigentes partidários.
O partido se diz absolutamente solidário com o projeto nacional do presidente Lula, a eleição de Dilma Rousseff a presidente da República. Aceitou, neste pacote, depois de muito relutar, a estratégia de afastar Ciro Gomes da disputa nacional transferindo-o para a disputa do governo de São Paulo, com a mudança do domicílio eleitoral, saindo do Estado que o levou à política, o Ceará. Ao aceitar a precedência do projeto nacional, o PT recolheu os planos de candidatura própria, para a qual tinha três ou quatro opções, e submeteu-se à orientação do presidente, que pediu prazo até março para Ciro se definir.
O que há de diferente, na reação mais incisiva de agora, é que o PT de São Paulo está se sentindo manipulado também por Ciro Gomes. Segundo avaliação do partido a ser levada ao encontro de hoje, todos já sabem que o político cearense não quer ir para a disputa em São Paulo e provavelmente não irá mesmo. Faz parte, porém, da estratégia do PSB, manter sua candidatura presidencial como uma espécie de espada sobre a cabeça do presidente Lula e do PT.
Os cenários que se formam para o PSB não exigem uma definição agora. Ciro não quer São Paulo. Inclusive com o passar dos dias conseguiu iniciar seu processo de incompatibilização com o eleitorado e com os aliados. Falou mal demais de São Paulo e do PT, contabilizam estes últimos. Vê sua candidatura presidencial minguar a cada pesquisa e é real o risco de distanciar-se demais dos primeiros colocados. Vai ficando óbvio que gostaria mesmo era de ser o candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff.
Tanto Ciro quanto o PSB, analisam seus apoiadores, trabalham com a idéia de que a aliança do PT com o PMDB não vai dar certo. A relação de riscos é grande. Acham que podem surgir problemas com Michel Temer, o presidente do PMDB mais cotado para se indicado pelo partido para ser o vice. Não se explicitam que problemas são esses, mas contam com eles. Outro risco é não haver possibilidade de aliança dos dois partidos em Estados importantes para a campanha, que colocariam em risco a eleição de Dilma, como Minas Gerais, por exemplo. Conjecturam, ainda, os petistas, que se as pesquisas mostrarem que as intenções de voto em Dilma estão muito perto dos índices de José Serra, o seu adversário que detem o primeiro lugar, o valor do PMDB vai cair muito. Em algum momento, assim, Lula buscaria o vice no PSB, ele mesmo, Ciro Gomes.
Se o vaticínio não se cumprir e o presidente conseguir segurar o PMDB na vice, restaria ao PSB fazer um bom desempenho eleitoral para negociar com Dilma tanto o segundo turno como a composição do futuro governo, se ela for eleita. Portanto, a candidatura presidencial de Ciro, hoje, não é vista mais como uma teimosia pessoal mas como algo útil ao PSB.
O PT paulista, porém, acha demasiado incluir a sucessão estadual neste saco de gatos. Acredita que Ciro não quer mesmo candidatar-se a governador e, portanto, não é por alí que o presidente Lula o tirará da disputa presidencial. É preciso definir logo o que fazer no Estado.
Antonio Palocci, a primeira opção do presidente depois de Ciro, já retirou-se oficialmente da disputa. Depois disso, o nome da vez já foi Doutor Hélio e, em seguida, Aloizio Mercadante. Este já disse que prefere disputar o Senado novamente. Dia sim, dia não, alguém do pequeno grupo Mensagem faz voltar às cogitações o nome do ministro da Educação, Fernando Haddad, mas ele não tem apoio no partido, não é candidato considerado natural e sua defesa restringe-se à corporação educacional, que é forte no PT. Voltou à roda, com força, o nome de Emídio de Souza, prefeito de Osasco, que figurou em primeiro lugar na relação de candidatos antes da invenção Ciro Gomes.
Mercadante ainda não disse com todas as letras que não será candidato, tem tempo para isso. Emídio pode ser o nome do PT mas, como precisa desincompatibilizar-se, a opção por sua candidatura exige definição este mês.
"Não vamos dar ultimato. Mas não vamos esperar indefinidamente, março é o nosso limite", traduz um dos líderes da disputa em São Paulo.
O raciocínio principal continua sendo o que comandou a reação ao Ciro já em outubro, quando transferiu seu domicílio eleitoral: em 1994, José Dirceu teve 14% dos votos; em 1998, Marta Suplicy teve 21%; em 2002, José Genoíno teve 28%; e em 2006, Mercadante teve 32%, apesar do Mensalão e do escândalo dos aloprados, muitos deles alojados em sua campanha, pegos quando tentavam forjar dossiê contra adversários. A perspectiva, agora, aponta a conclusão, é conseguir mais votos do que isto, uma força que deixa sem sentido ficar fora da eleição em São Paulo.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
A reunião entre a cúpula do PT de São Paulo e o deputado Ciro Gomes (PSB), prevista para hoje, não é simplesmente mais um encontro político eletivo, destinado a criar fatos da campanha governista à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou ao governo do Estado. Do ponto de vista do Partido dos Trabalhadores, trata-se agora de iniciar um movimento para definir o quadro de disputa estadual. O PT paulista tem usado termos fortes para definir a situação em que se vê. Acha que está passando por um "vexame" em São Paulo. Humilhação e inquietação são também palavras do novo vocabulário dos dirigentes partidários.
O partido se diz absolutamente solidário com o projeto nacional do presidente Lula, a eleição de Dilma Rousseff a presidente da República. Aceitou, neste pacote, depois de muito relutar, a estratégia de afastar Ciro Gomes da disputa nacional transferindo-o para a disputa do governo de São Paulo, com a mudança do domicílio eleitoral, saindo do Estado que o levou à política, o Ceará. Ao aceitar a precedência do projeto nacional, o PT recolheu os planos de candidatura própria, para a qual tinha três ou quatro opções, e submeteu-se à orientação do presidente, que pediu prazo até março para Ciro se definir.
O que há de diferente, na reação mais incisiva de agora, é que o PT de São Paulo está se sentindo manipulado também por Ciro Gomes. Segundo avaliação do partido a ser levada ao encontro de hoje, todos já sabem que o político cearense não quer ir para a disputa em São Paulo e provavelmente não irá mesmo. Faz parte, porém, da estratégia do PSB, manter sua candidatura presidencial como uma espécie de espada sobre a cabeça do presidente Lula e do PT.
Os cenários que se formam para o PSB não exigem uma definição agora. Ciro não quer São Paulo. Inclusive com o passar dos dias conseguiu iniciar seu processo de incompatibilização com o eleitorado e com os aliados. Falou mal demais de São Paulo e do PT, contabilizam estes últimos. Vê sua candidatura presidencial minguar a cada pesquisa e é real o risco de distanciar-se demais dos primeiros colocados. Vai ficando óbvio que gostaria mesmo era de ser o candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff.
Tanto Ciro quanto o PSB, analisam seus apoiadores, trabalham com a idéia de que a aliança do PT com o PMDB não vai dar certo. A relação de riscos é grande. Acham que podem surgir problemas com Michel Temer, o presidente do PMDB mais cotado para se indicado pelo partido para ser o vice. Não se explicitam que problemas são esses, mas contam com eles. Outro risco é não haver possibilidade de aliança dos dois partidos em Estados importantes para a campanha, que colocariam em risco a eleição de Dilma, como Minas Gerais, por exemplo. Conjecturam, ainda, os petistas, que se as pesquisas mostrarem que as intenções de voto em Dilma estão muito perto dos índices de José Serra, o seu adversário que detem o primeiro lugar, o valor do PMDB vai cair muito. Em algum momento, assim, Lula buscaria o vice no PSB, ele mesmo, Ciro Gomes.
Se o vaticínio não se cumprir e o presidente conseguir segurar o PMDB na vice, restaria ao PSB fazer um bom desempenho eleitoral para negociar com Dilma tanto o segundo turno como a composição do futuro governo, se ela for eleita. Portanto, a candidatura presidencial de Ciro, hoje, não é vista mais como uma teimosia pessoal mas como algo útil ao PSB.
O PT paulista, porém, acha demasiado incluir a sucessão estadual neste saco de gatos. Acredita que Ciro não quer mesmo candidatar-se a governador e, portanto, não é por alí que o presidente Lula o tirará da disputa presidencial. É preciso definir logo o que fazer no Estado.
Antonio Palocci, a primeira opção do presidente depois de Ciro, já retirou-se oficialmente da disputa. Depois disso, o nome da vez já foi Doutor Hélio e, em seguida, Aloizio Mercadante. Este já disse que prefere disputar o Senado novamente. Dia sim, dia não, alguém do pequeno grupo Mensagem faz voltar às cogitações o nome do ministro da Educação, Fernando Haddad, mas ele não tem apoio no partido, não é candidato considerado natural e sua defesa restringe-se à corporação educacional, que é forte no PT. Voltou à roda, com força, o nome de Emídio de Souza, prefeito de Osasco, que figurou em primeiro lugar na relação de candidatos antes da invenção Ciro Gomes.
Mercadante ainda não disse com todas as letras que não será candidato, tem tempo para isso. Emídio pode ser o nome do PT mas, como precisa desincompatibilizar-se, a opção por sua candidatura exige definição este mês.
"Não vamos dar ultimato. Mas não vamos esperar indefinidamente, março é o nosso limite", traduz um dos líderes da disputa em São Paulo.
O raciocínio principal continua sendo o que comandou a reação ao Ciro já em outubro, quando transferiu seu domicílio eleitoral: em 1994, José Dirceu teve 14% dos votos; em 1998, Marta Suplicy teve 21%; em 2002, José Genoíno teve 28%; e em 2006, Mercadante teve 32%, apesar do Mensalão e do escândalo dos aloprados, muitos deles alojados em sua campanha, pegos quando tentavam forjar dossiê contra adversários. A perspectiva, agora, aponta a conclusão, é conseguir mais votos do que isto, uma força que deixa sem sentido ficar fora da eleição em São Paulo.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
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