Sonho: mais empregos e a "moralização" do capitalismo. Realidade: a crise europeia na agenda
PARIS - Se tudo sair de acordo com os sonhos do anfitrião, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, a cúpula do G20 terminará na sexta-feira com um plano de ação para o crescimento e a criação de empregos. Terminará também com o que Sarkozy -hábil criador de rótulos- define como "moralização do capitalismo".
Seria, de acordo com a diplomacia francesa, controlar os paraísos fiscais (meta que o G20 persegue desde a primeira cúpula, em 2008); impor algum limite aos obscenos bônus que os executivos do sistema financeiro continuam recebendo, apesar de alguns deles terem levado suas instituições à beira da quebra; e estabelecer uma taxa sobre as transações financeiras internacionais.
O mais provável, no entanto, é que o clube das maiores economias do planeta se limite à retórica nesses três capítulos, mas consiga, sim, um acordo para, enfim, deixar claro o que fazer com os bancos que são considerados grandes demais para quebrar. São 27 bancos, nenhum brasileiro, cujo tamanho e conexões globais os transformam em eventual "risco sistêmico": se quebrarem, o sistema todo quebra.
Já no capítulo "crescimento", haverá a ritual menção à necessidade de que ele seja "forte, sustentável e equilibrado", fórmula que aparece em todos os comunicados de todas as cúpulas.
A novidade para a reunião de 2011 é o emprego. A diplomacia francesa envolveu, pela primeira vez, a OIT (Organização Internacional do Trabalho) nos preparativos, do que resultou um número impressionante: no mundo todo, há 200 milhões de desempregados.
Um plano de ação para crescimento e emprego é defendido tanto pelo presidente Barack Obama como por agentes líderes de mercado como Mohamed El-Erian, do fundo Pimco, um dos gurus das finanças. Escreveram ambos para o "Financial Times" para dizer, como Obama, que "precisamos permanecer focados em crescimento forte, sustentável e equilibrado, que estimule a demanda global e crie empregos e oportunidades para o povo".
Reforça El-Erian: "A Europa necessita desesperadamente de um plano eficaz para estimular o emprego e promover crescimento econômico inclusivo. Sem isso, é virtualmente impossível estabilizar o mercado de débito soberano da região e conter as fragilidades no seu sistema bancário".
Ao ligar crescimento/dívidas/fragilidade dos bancos, El-Erian sai do sonho para a realidade: a agenda do G20 acabou sequestrada pela crise europeia. Há 20 dias, os ministros de Economia do grupo deixaram claro que, antes de fechar a pauta para a cúpula, era preciso que a Europa decidisse como enfrentaria sua crise.
A partir de segunda-feira, quando os negociadores começarem a trabalhar no documento final para que seus chefes o assinem na sexta, vai ser possível avaliar se o pacote europeu emitido na madrugada de quinta-feira é o que os parceiros europeus esperavam. Para os mercados que Sarkozy pretende moralizar, não é: a Itália teve que pagar um recorde de 6% de juros para renovar seus títulos, apenas 24 horas depois de um pacote supostamente definitivo contra o risco de outras "Grécias".
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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