"A visita de Bento XVI tem especial significado mais como gesto intencionalmente pastoral do que como gesto político. Cuba pode representar para o papa o território de uma reinvenção do catolicismo como religião popular encarnada, num momento de transição social e política em que a Igreja pode, pela primeira vez na história do país, assumir uma função decisiva na transformação identitária do povo cubano. O comunismo de Estado em Cuba está em crise por falta de renovação e de horizontes, distanciado do próprio Marx que supostamente o inspira. Ninguém ignora que um vazio se abriu em Cuba com o fim da União Soviética. Assim como o Brasil procura ocupar o espaço econômico que os americanos não ocupam, a Igreja procura ocupar o espaço religioso e moral da nova vida cotidiana que está surgindo com a incerteza do regime. Nele há amplo lugar para acolher o discurso anticapitalista do papa, que condena o capitalismo selvagem e o bloqueio a Cuba, como fez nessa viagem. Sem contar as referências explícitas e positivas que já fez à teoria da alienação de Karl Marx, ainda que com objeções ao marxismo."
José de Souza Martins, sociólogo e professor emérito da USP. É autor de ‘A Política do Brasil Lúmpen e Místico` (Contexto 2011).’Oxigenação caribenha’. Aliás/O Estado de S. Paulo, 1/4/2012.
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