Gravações de conversas interceptadas pela Polícia Federal entre o contraventor Carlinhos Cachoeira e o vereador de Goiânia Santana Gomes (PMDB) mostram que o grupo do bicheiro trabalhava para que o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) fosse eleito prefeito da capital neste ano e governador em 2018. O objetivo era "ter alguém com o poder na mão".
"Vamos fazer nosso prefeito"
Gravações da PF mostram que grupo de Cachoeira queria eleger Demóstenes em Goiânia
André de Souza
Gravações interceptadas pela Polícia Federal (PF) com autorização da Justiça mostram o bicheiro Carlinhos Cachoeira discutindo com o vereador de Goiânia Santana Gomes (PMDB) a candidatura do senador Demóstenes Torres (ex-DEM, sem partido-GO) à prefeitura de Goiânia. Na conversa, eles dizem que precisam de alguém com "poder na mão". Até o início deste ano, Demóstenes era um dos pré-candidatos mais cotados à prefeitura da capital goiana. Mas desistiu publicamente da disputa.
O estouro do escândalo envolvendo Cachoeira sepultou as esperanças de quem ainda via no parlamentar um potencial candidato. Demóstenes Torres é considerado a ponte de Cachoeira com o mundo político em Brasília.
- Deixa eu te contar uma coisa: o Demóstenes vai ser nosso prefeito, não vai? Nós temos que ter alguém com o poder na mão, chefe - disse Santana Gomes, em telefonema feito no dia 13 de março do ano passado.
- Exatamente, exatamente - responde Cachoeira.
Os dois conversaram pelo telefone inicialmente para falar de Jorcelino Braga, secretário estadual da Fazenda na gestão anterior, do ex-governador Alcides Rodrigues (PP), de 2006 a 2010.
Alcides, que era vice do atual governador tucano Marconi Perillo (GO), assumiu o governo quando o titular renunciou ao mandato para disputar o Senado, em 2006. Mas eles terminaram por se afastar e Braga se desentendeu com Marconi Perillo, que em 2011 voltou a ser governador de Goiás.
Planos para o governo em 2018
O bicheiro diz acreditar que Jorcelino Braga quer uma aproximação com o grupo. Santana Gomes - que inicialmente fica com medo de entrar em contato com o ex-secretário e "se queimar" com o atual governador - concorda em fazer a aproximação e sugere que isso vai ajudar a fazer Demóstenes Torres prefeito de Goiânia.
- Então tá bom. Vamos tomar um café amanhã pra gente bater umas ideias e montar uma estratégia beleza pra gente começar. Eu vou começar. Eu já sei que cê tá pensando. O Demóstenes vai ser prefeito. É isso que cê tá querendo dizer, né? - indaga Santana.
Pouco depois, Cachoeira diz:
- Traz ele (Braga) pro nosso lado. Tenta trazer.
Santana então rasga elogios ao chefe:
- Você é certo demais, você é forte demais. Não, você fez perfeito. Com esse trem na mão, nós estamos bem na foto, né, amigo. Nós vamos fazer nosso prefeito, né?
- Ele tá com o c... na mão, rapaz. Traz o Braga pro lado. Tá bom? Procura ele amanhã (sic). Não tem problema, não. Não queima, não. Tem nada que queimar com Marconi - responde Cachoeira.
As pretensões políticas iam além. A Juventude do DEM chegou a lançar Demóstenes candidato a presidente para 2014, na sucessão de Dilma Rousseff. Os mesmos jovens, após o surgimento das denúncias e o envolvimento com Cachoeira, defenderam a expulsão do senador do partido.
Em um outro diálogo, captado pela Polícia Federal no dia 16 de maio de 2011, o próprio Demóstenes Torres diz ao bicheiro Carlinhos Cachoeira que o governador Marconi Perillo o queria não apenas para prefeito este ano, mas para governador em 2018.
Demóstenes não é o único parlamentar goiano cotado para a prefeitura da capital a ser exposto no escândalo por suas relações com Cachoeira. O grupo inclui ainda os deputados federais Jovair Arantes (PTB), Sandes Júnior (PP) e Leonardo Vilela (PSDB).
FONTE: O GLOBO
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