sábado, 21 de julho de 2012

Texto do documento mascara a falta de estratégia do governo

Análise: Sergio Vale

A divulgação do relatório do FMI sobre o Brasil deixa um pouco de saudade daquele Fundo mais crítico do passado, que quando vinha ao Brasil em geral tinha muito mais duras recomendações do que afagos. Os comentários do texto foram até mais suaves do que se tivessem sido escritos por alguém do governo.

As políticas de curto prazo do governo apenas têm nos levado de volta aos anos 80, sem gerar efetivo crescimento de investimento e poupança que é o que o País precisaria para voltar a crescer. A dificuldade é tanta que, mesmo crescendo 2,7% em 2011 e parco 1,5% esperado para 2012, a inflação ainda ficará acima do centro da meta. Gomo se pode considerar que estamos no caminho correto quando uma velha sensação de estagflação moderada nos acomete de novo?

O peso excessivo que o Fundo dá para questões macro mascara um pouco a falta crônica de estratégia do governo. Os vizinhos que mantiveram um rumo reformista, especialmente Colômbia, Peru e o velho exemplo chileno, estão crescendo em ritmo mais de cinco vezes maior do que o nosso, com uma inflação mais baixa.

E por falar em inflação, é cada vez mais tênue a possibilidade de a inflação ceder para o centro da meta este ano depois da forte seca nos EUA, que tem afetado essencialmente a produção de milho e soja. A contaminação dos preços para o segundo semestre será imediata e já ajustamos a projeção de alimentação no IPGA para 8,6%.

Num ano que parecia livre de vilões na inflação, novamente os alimentos voltarão a assustar e serão suficientes para manter o IPGA estacionado em 5% no acumulado em 12 meses até o fim do ano. Para um governo que considera uma meta implícita de inflação de 5,5%, ficar em 5% está de bom tamanho. Gomo devemos crescer algo acima de 1,5% desse ano em 2013, a mesma coisa se dará com a inflação, que, a princípio, estimamos em 6%. O cenário, na verdade, é até pior do que imaginávamos. Não conseguiremos crescer nada demais ano que vem, e isso já bastará para levar a inflação perto do teto da meta.

É economista-chefe da MB associados

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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