domingo, 29 de julho de 2012

Vida dupla de consultor e político

Protagonistas do escândalo: José Dirceu

Thiago Herdy, Sérgio Roxo

UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA

SÃO PAULO . Quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes trocaram acusações há dois meses, José Dirceu entrou em campo para reclamar da briga e pôr panos quentes. Para Dirceu, Gilmar era um voto praticamente certo pela sua absolvição no julgamento do mensalão, e o atrito, a última coisa de que precisava.

O comportamento do ex-chefe da Casa Civil parece contraditório a interlocutores. Ele alterna momentos de confiança plena em sua absolvição com o temor de ser condenado pela participação no financiamento de petistas e aliados.

A assessores mais próximos, disse não saber o que será de sua vida daqui a dois meses. Também não faz planos e adia discussões em torno de uma eventual candidatura em 2014.

Desde a saída do ministério de Lula e da cassação de seu mandato como deputado federal, em 2005, Dirceu se divide entre o papel de líder político e consultor de empresas que muitas vezes dependem de decisões do governo que ele ajudou o PT a conquistar em 2002.

Não se incomoda com a vida dupla, pelo contrário: dela parece tirar proveito. Recebeu o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e o então presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, em quarto de hotel de Brasília para tratar de política, às vésperas da queda de Antonio Palocci, então ministro da Fazenda. É também quem representa no Brasil os interesses do homem mais rico do mundo, o mexicano Carlos Slim, dono da Embratel, embora negue.

O ex-ministro não revela a sua lista de clientes. Fala que ajuda empresas estrangeiras interessadas em negócios no Brasil e companhias brasileiras com interesses no mercado externo. A colegas de partido, Dirceu justifica suas atividades de consultor como necessárias para financiar sua defesa, na guerra que vive desde a sua cassação.

Desde 2010, integra o diretório nacional do PT, mas nunca deixou de cuidar da articulação com outros partidos. É amigo do presidente petista, Rui Falcão. Os dois têm casa no mesmo condomínio de luxo, em Vinhedo, no interior de São Paulo.

Com Lula, tem relação de respeito e desconfiança. Em conversa com seus interlocutores, antes da crise do mensalão, Lula se referia a Dirceu como a maior cabeça política do partido, mas também como alguém com particular capacidade de mentir.

Para evitar a execração pública, Dirceu só viaja em jatos executivos e não vai a restaurantes em São Paulo.

No auge da crise do mensalão, em 2005, dizia:

- Se eu sair, o governo cai.

Errou. Lula foi reeleito e escolheu a sua sucessora.

FONTE: O GLOBO

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