Rumo a 2014. Eventuais adversários da presidente na sucessão da petista, governador pernambucano e senador mineiro adotam discurso crítico à política econômica do governo
Daiene Cardoso e Gustavo Porto
SÃO PAULO - Principais nomes para uma eventual disputa à Presidência da República em oposição à reeleição da presidente Dilma, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB) e o governador Eduardo Campos (PSB-PE) começam a afiar seus discursos, contrapondo-se à política econômica do governo. Economistas de formação, Campos e Aécio estão convencidos de que a economia do País será um dos principais temas da sucessão de 2014 e já discutem o assunto com especialistas mais próximos.
No início de dezembro, Eduardo Campos - que hoje é aliado do governo Dilma - disse que falta "rumo estratégico" ao Brasil. "Não é que o consumo perdeu importância como motor do crescimento. Mas ele, por si só, não é suficiente. Temos que ganhar esse momento, na perspectiva do rumo estratégico. Esse (rumo) estratégico, às vezes, parece ao País que está faltando", frisou o governador pernambucano. Aliados próximos afirmam que a situação econômica de 2014 poderá ser um fator determinante para uma eventual candidatura de Eduardo Campos.
O governador mantém estreitas relações com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, com a especialista em economia regional Tânia Bacelar, (ex-secretária de Planejamento e da Fazenda do governo do avô de Eduardo, Miguel Arraes) e com o prefeito eleito de Recife, Geraldo Julio, que foi seu secretário de Planejamento. Segundo aliados, ele costuma trocar ideias com os economistas do Instituto de Estudos de Política Econômica (Casa das Garças), como André Lara Resende e Pérsio Arida, economistas que participaram da elaboração do Plano Real. "Ele acompanha a questão macroeconômica porque interfere muito no humor do mercado e nas contas públicas. A gente sempre faz muita discussão", afirmou Geraldo Júlio.
De acordo com o prefeito eleito do Recife, Eduardo Campos está preocupado com os rumos da economia em 2013. "Neste momento, vivemos uma situação de apreensão com o que vai acontecer em 2013. Ele compartilha da visão de que precisamos de um crescimento diferente. Não dá para repetir o ano de 2012. Resultados do PIB que mostram a formação bruta de capital fixo com crescimento negativo nos preocupam muito. A curva do crescimento dos investimentos está em declínio há muitos semestres. Estamos apreensivos com 2013", afirmou.
O governador, que se autodenomina desenvolvimentista, foi recentemente citado pela revista britânica The Economist como uma possível "ameaça" a Dilma. Para a revista a ascensão de Campos se deve ao "sucesso" da política industrial em Pernambuco.
"Enquanto o resto do Brasil se preocupa com a desindustrialização, Pernambuco não: desde que Campos tornou-se governador, em 2007, a fatia da indústria na economia do Estado aumentou de 20% para 25% e vai atingir 30% em 2015, segundo dados do governador", afirmou a revista. "Esse "boom" trouxe praticamente o pleno emprego àquele Estado, ao mesmo tempo que também trouxe escassez aguda de mão de obra", ressaltou a publicação.
Já em recente entrevista ao Estado de S. Paulo, Eduardo Campos fez vários elogios a Dilma mas mostrou um claro descontentamento com pontos nevrálgicos da política econômica da presidente. Criticou, por exemplo, o enfrentamento da crise "com menos diálogo, menos discussão do que deveria, talvez pela pressa, pela quantidade de assuntos ou por falta de iniciativa do governo e falta de iniciativa dos empresários". Campos criticou, ainda, as previsões públicas do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
Gargalos
Já o presidenciável tucano Aécio Neves vem se aproximando de antigos colaboradores do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para construir um discurso que atraia o eleitorado em 2014. Assim como o possível adversário Eduardo Campos, Aécio tem como "orientadores" Lara Resende e Pérsio Arida. Mas o tucano toma ainda conselhos de Armínio Fraga (tido como um dos mais próximos do senador), Edmar Bacha, Pedro Malan, Mansueto Almeida e José Roberto Afonso.
"Para um projeto vitorioso de candidatura presidencial, pressupõe-se uma nitidez muito clara de proposta. As pessoas precisam perceber que o País pode ser melhor com o PSDB e com o Aécio", propõe o deputado federal Marcus Pestana, presidente estadual da sigla em Minas Gerais.
Pestana explica que a economia será um dos temas centrais da candidatura de Aécio Neves, lançada em neste mês pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo presidente nacional do PSDB, deputado federal Sérgio Guerra (PE). Segundo Pestana, as principais preocupações de Aécio são com os gargalos da infraestrutura do País, a falta de investimento público e como promover parcerias com o setor privado de modo a dar mais competitividade ao País.
"O governo Dilma, de certa forma, ludibriou os atores econômicos que acreditavam que ela seria mais técnica, que o governo entenderia a dinâmica de uma economia de mercado. Essa imagem caiu por terra", criticou o tucano, mencionando o fraco desempenho do PIB neste ano.
Para o aliado de Aécio, a política econômica será determinante em 2014, uma vez que o modelo de transferência de renda pode não ter mais o mesmo fôlego de antes. "Há um modelo desgastado do ponto de vista econômico. Não basta a transferência de renda para melhorar o bem-estar da população", avaliou Pestana.
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
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