Governo brasileiro pode se abespinhar com defasagem da metodologia do IDH, mas faria melhor em recuperar o ímpeto para as reformas
A divulgação de listas classificatórias e comparações internacionais sempre causa controvérsias. A necessidade de simplificar para cotejar impõe limitações a qualquer metodologia. Não poderia ser diferente com o Índice de Desenvolvimento Humano, da ONU.
Até por seu impacto político, o indicador é escrutinado com lupa pelos governos de turno.
O número procura sintetizar a evolução de cada país com base em três dimensões essenciais: acesso à educação (média atual de anos de escolaridade da população e expectativa de escolarização para novos alunos), expectativa de vida e renda nacional per capita.
O IDH brasileiro ficou em 0,730 (o máximo é 1), nota que deixa o país na 85ª posição (entre 187 nações), mas ainda no grupo com elevado desenvolvimento humano. Na comparação com os Brics, o país só perde para a Rússia -nada surpreendente, diante da renda per capita baixa de Índia e China.
O quadro é menos alentador quando se verifica que o IDH médio da América Latina (0,741) é superior ao brasileiro. Chile e Argentina, por exemplo, ocupam a 40ª e a 45ª posições, respectivamente.
Cabe a ressalva de que a ONU usou dados brasileiros de 2010 e que informações mais atualizadas colocariam o país em situação melhor. Ainda assim, a evolução dos últimos anos deixa a desejar. Após período de crescimento rápido entre 2005 e 2010, o ritmo caiu no último biênio, em especial por causa do baixo crescimento econômico.
Fora da comparação numérica -sempre útil, mas incapaz de capturar nuances-, o ponto de maior interesse está na discussão dos principais elementos que impulsionam o bem-estar humano. O relatório elenca ao menos três: Estado engajado na meta do desenvolvimento, integração nos mercados mundiais e avanço continuado das políticas sociais.
Quanto ao papel do Estado, a questão de fundo é mobilizar a sociedade para o desenvolvimento por meio de reformas econômicas e institucionais. Nesse quesito, o Brasil falha. O ímpeto reformista perdeu força nos anos de bonança externa, quando o governo se limitou a surfar a onda.
O país também patina na integração global, pois segue fechado e cada vez mais à margem das cadeias produtivas de ponta e do comércio internacional de alto valor, com a crescente parcela de produtos primários nas suas exportações. Sem essa integração, é difícil incorporar tecnologia e aumentar a produtividade nacional.
Por fim, nas políticas sociais, a despeito dos bons resultados dos últimos anos, o futuro demanda uma nova visão. As transferências de renda dão sinais de que não terão o mesmo impacto do passado, até por efeito de limitações orçamentárias. Doravante, educação e saúde é que farão a diferença.
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