- Folha de S. Paulo
Há dez anos, a jornalista Renata Lo Prete abria, ao apresentar Roberto Jefferson sem censura nas páginas desta Folha, o capítulo do mensalão na história política brasileira. Encerrado o plantão aqui na Sucursal de Brasília naquele fim de semana, me perguntei internamente algo como: "Onde será que isso vai parar?".
Os efeitos do escândalo ainda se fazem sentir no cotidiano. Se imperfeita, a investigação do caso levou a um julgamento conturbado e sem precedentes: a elite do grupo que comandava o país foi parar na cadeia.
A mão de ferro de Joaquim Barbosa na condução do processo é passível de críticas, mas é fato que um novo padrão foi estabelecido na relação entre sociedade e Judiciário.
Não só para bem. Expectativas maiores também geram inspiração justiceira em alguns magistrados, a exemplo do que já acontecera no passado com procuradores e delegados, mas o saldo é positivo.
A corrupção, claro, não desapareceu. Ao contrário, sofisticou-se, como o esquema desvendado na Lava Jato aponta. Mas parâmetros mudaram: sem o destino do maior punido no mensalão, o operador Marcos Valério, não haveria a oferta de delações premiadas de hoje.
Na política, o legado maior do episódio foi a exposição pública da engrenagem que o PT montou uma vez no poder. A imagem algo romântica do partido estilhaçou-se, iniciando simbolicamente um processo de desintegração que parece atingir seu auge agora, uma década depois.
Por fim, o mensalão marca também o começo de um aparentemente infindável movimento de descrédito na política. Um efeito colateral cheio de contradições, que mistura a crescente apatia com episódios como o junho de 2013, além de estimular ao paroxismo o radicalismo da manada algorítmica das redes sociais.
Afinal, onde aquilo foi parar? Descontando as dores naturais do crescimento, num país um pouco melhor.
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