Mônica Moura, mulher e sócia do marqueteiro João Santana que negocia delação premiada, contou a procuradores que a JBS, maior processadora de alimentos do mundo, fez doações de caixa 2 à campanha da presidente Dilma em 2014 ao quitar dívidas do PT com a gráfica Focal, revela Thiago Herdy. A JBS nega e afirma não ter encontrado em sua contabilidade pagamentos feitos à gráfica.
Empresária diz que JBS pagou caixa 2 ao PT
• Monica Moura, mulher de João Santana, afirmou à Lava-Jato que a empresa quitou dívida com gráfica
Thiago Herdy - O Globo
SÃO PAULO - A mulher do marqueteiro João Santana, Monica Moura, afirmou a procuradores — em depoimento durante negociação para fechar acordo de delação premiada — que a JBS pagou caixa 2 à campanha pela reeleição de Dilma Rousseff. Segundo o relato, a empresa pagou diretamente a dívida do PT com a gráfica Focal Confecção e Comunicação Visual, de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Este pagamento não está declarado à Justiça Eleitoral. A JBS doou R$ 361,8 milhões nas eleições de 2014, legalmente. A empresa nega veementemente a afirmação, diz que vasculhou todos os seus arquivos e não encontrou registro do suposto pagamento.
A Focal é a segunda maior fornecedora da campanha de Dilma e Michel Temer, em 2014, e pertence ao empresário Carlos Cortegoso, que presta serviços ao PT desde os anos 90. Segundo Mônica, o então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, determinava que serviços gráficos de campanha deviam ser concentrados nas empresas de Cortegoso, porque ele aceitava receber os pagamentos depois das campanhas.
O GLOBO apurou que a Focal emitiu notas fiscais de serviços para a JBS, mas nunca imprimiu peça ou fez serviços para a empresa, maior processadora de proteína animal do mundo, que tem BNDES e Caixa como sócios, com 27% do capital. As notas emitidas para os pagamentos foram entregues pessoalmente na sede da JBS, em SP, por funcionários de Cortegoso.
Os pagamentos em caixa 2 da JBS à campanha de Dilma foram citados por Mônica em um dos anexos produzidos por sua defesa e levados ao Ministério Público Federal para tentar acordo. Os procuradores têm resistido a aceitar, por considerar que a colaboração teria mais informações para relatar do que o apresentado.
Na última semana, Mônica e Santana foram denunciados pelo MPF por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, por pagamentos feitos por fornecedores da Petrobras aos dois, no Brasil e no exterior.
No fim de abril deste ano, a ministra do Tribunal Superior Eleitoral Maria Thereza de Assis Moura autorizou a Polícia Federal a realizar perícia contábil de vários fornecedoras da campanha da chapa Dilma/Temer, entre elas a Focal. Maria Thereza é a relatora da quatro ações que propõem a cassação da chapa.
A Focal é a 2ª maior fornecedora oficial da campanha de Dilma em 2014: recebeu R$ 23,9 milhões, valor que só não é maior do que o recebido pelo casal Santana (R$ 78 milhões). A empresa está registrada em nome de uma das filhas de Cortegoso — Carla Regina Cortegoso — e de um de seus motoristas, Elias Silva de Mattos, que também é motivo de apuração.
Outra empresa de Cortegoso, a CRLS Confecção Consultoria e Eventos Ltda., é alvo de inquérito na Lava-Jato que apura pagamentos feitos pelo operador petista Alexandre Romano com propina da Consist Software, empresa de SP beneficiada em acordo no âmbito do governo federal. À PF, Romano disse que passava parte do acerto com a Consist para a CRLS a pedido do ex-ministro Luiz Gushiken.
Delator da Lava-Jato em troca de redução de pena caso condenado, Romano prestou novas informações sobre a atuação de Cortegoso para o PT ano passado; os depoimentos seguem em sigilo. Por decisão do STF, o inquérito foi desmembrado de Curitiba e tramita hoje em SP.
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