Gustavo Uribe, Ranier Bragon e Gabriel Mascarenha – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Com o receio de enfrentar de partida uma crise na base aliada, o vice-presidente Michel Temer decidiu não encampar neste momento movimento por uma nova eleição para a sucessão na Câmara dos Deputados e iniciará aproximação na semana que vem com o presidente Waldir Maranhão (PP-MA).
Segundo a Folha apurou, emissários do peemedebista fizeram chegar ao parlamentar a disposição de um encontro entre os dois logo após a votação no Senado Federal da admissibilidade do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, marcada para quarta-feira (11).
No início da noite desta sexta-feira (6), Maranhão foi à casa do presidente da Câmara afastado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), gesto visto como mais um passo para uma composição entre o deputado do PP e as forças políticas em torno de Temer.
A equipe do vice-presidente reconhece a falta de estatura política e de preparo administrativo de Maranhão para comandar a Casa. Para ela, o ideal seria eleger um substituto para o parlamentar, mas a prioridade é manter uma base aliada ampla e unida, que consiga aprovar nos dois primeiros meses de um eventual governo interino um pacote de medidas econômicas.
Neste primeiro momento, o vice-presidente não irá interferir na questão e deixará a decisão nas mãos da Câmara dos Deputados. Nas palavras de um aliado do peemedebista, dessa forma, o ônus de uma decisão equivocada não recairia sobre ele.
Na segunda quinzena de junho o plenário da Câmara poderá fazer a votação definitiva sobre se cassa ou não o mandato de Cunha, alvo de processo no Conselho de Ética da Casa. Se o peemedebista perder o mandato, a Câmara tem que realizar novas eleições em até cinco sessões.
Na quinta-feira (5), logo após a decisão pela suspensão do mandato de Cunha, partidos de oposição, como PSDB e DEM, iniciaram movimentação por uma nova eleição, defendendo nos bastidores um nome tucano para o posto.
O PMDB, maior partido da Câmara, reagiu à articulação. A maior parte da bancada peemedebista defende neste momento um mandato-tampão de Maranhão. Caso a Casa inicie movimentação por uma nova eleição, no entanto, a sigla reivindica que seja um nome do partido.
Para o grupo de Temer, uma crise neste momento na base aliada ou a realização de uma eleição para presidente poderia atrasar ou até mesmo inviabilizar a aprovação de propostas que serão sugeridas pelo vice-presidente caso Dilma seja afastada.
O diagnóstico é que, à frente do Palácio do Planalto, o peemedebista terá de apresentar como cartão de visitas mudanças efetivas e uma gestão superior à da petista nos primeiros dois meses de mandato, aproveitando uma espécie de "lua de mel" com o Congresso Nacional.
Nos cálculos do grupo do peemedebista, no período será possível contar com uma base aliada de cerca de 400 deputados federais e 56 senadores, tropa que poderá ser reduzida caso o governo não consiga estabilizar a economia. Para que sejam aprovadas mudanças na Constituição, por exemplo, são necessários pelo menos 308 votos.
O vice-presidente também terá de acelerar a aprovação da alteração da meta fiscal, que teria de ser feita até o dia 22 para evitar a interrupção do pagamento de despesas básicas do governo, como luz e telefone.
Para o caso de votações importantes, que demandem um nome de peso para conduzir a tramitação, aliados do vice-presidente defendem que seja feita uma negociação com Maranhão. Em troca do apoio à sua manutenção, ele aceitaria deixar que o o primeiro-secretário, Beto Mansur (PRB-SP), assuma as sessões legislativas.
Além de ser mais experiente, o deputado do PRB teria mais pulso para presidir o processo. O próprio Mansur disse em reunião com líderes partidários na noite de quinta que a fragilidade política e administrativa de Maranhão não é problema na condução das sessões. "Eu ajudo ele ou toco as sessões", afirmou, de acordo com relatos.
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