sábado, 4 de junho de 2016

OCDE: Brasil só sai da crise com eleições

• Para entidade, sem isso, não haverá consenso para aprovar reformas

Fernando Eichenberg - O Globo

PARIS - Na previsão da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que agrupa 35 países — a maioria do bloco de países desenvolvidos —, o Brasil não terá condições de sair da “recessão profunda” e de retomar o caminho do crescimento econômico até que ocorram novas eleições. O clima político atual impossibilita, na análise da instituição, a adoção de reformas urgentes e necessárias para o país. Essa é a opinião do economista Jens Arnold, diretor da OCDE para o Brasil, que, em conversa com o GLOBO, confirmou e ampliou os prognósticos feitos para o país no relatório da instituição divulgado esta semana.


Na quarta-feira, a OCDE piorou suas projeções para a economia brasileira. Para este ano, a previsão para o resultado do PIB passou de queda de 4% para retração de 4,3%. Já para o ano que vem, a expectativa passou de variação nula para um tombo de 1,7%. Para a economia mundial, a previsão para 2016 foi mantida: expansão “decepcionante” de 3%.

— Em nosso relatório, o cenário base é o de que, até que ocorram novas eleições no Brasil, vai ser difícil criar o consenso necessário para implementar as reformas de que o país necessita. Por mais que haja muitas propostas saídas ultimamente do governo, que coincidem em grande parte com as recomendações que a OCDE fez no passado, a pergunta é: até que ponto estas medidas serão implementadas? Uma coisa é o governo anunciar planos, outra coisa é criar o consenso e a força política necessários para fazê-las passar pelo Congresso, que está extremamente dividido e polarizado neste momento — avalia Jens Arnold.

Entre as reformas necessárias para o Brasil, Arnold cita um importante ajuste fiscal, “não somente de curto prazo, mas incluindo também variáveis estruturais como a reforma do sistema previdenciário”. Ele defende, ainda, a desvinculação dos benefícios ao salário mínimo.

— O país poderia ter alcançado 25% mais de redução das desigualdades nos últimos trés anos se isso tivesse sido aplicado — destaca.

Para ele, o país precisa, ainda, de um melhor foco no uso do BNDES, com uma redução no volume de empréstimos do banco de fomento. Arnold sugere também maior integração do país na economia mundial:

— O Brasil segue sendo uma economia relativamente fechada, e necessita se abrir mais, reduzir barreiras alfandegárias, e também repensar regras internas.

Entidade rebate ministro
O economista disse que seria uma boa notícia se o relatório da OCDE fosse desmentido em suas previsões, mas duvidou de um cenário otimista.

— Estamos mais ou menos na espera, mas, a priori, temos dúvidas de que o cenário político possa dar, neste momento, as condições para a implementação destas mudanças, que seriam enormes para o Brasil. Nos últimos anos, o Brasil não fez muitas reformas estruturais — sublinhou.

Sobre as críticas do ministro das Relações Exteriores brasileiro, José Serra, que disse que o relatório da OCDE não tinha “sofisticação de análise”, Jens Arnold rebateu:

— Não conhecemos o futuro melhor que outros, mas fazemos nossas previsões baseadas nos possíveis cenários que imaginamos e com as informações que temos. Seguimos a situação brasileira há muitos anos, eu pessoalmente há seis anos, e acredito que conheço a economia brasileira bastante bem. Conhecemos bem os dados do Brasil.

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