sábado, 4 de junho de 2016

República de barnabés - Igor Gielow

- Folha de S. Paulo

Uma das bolas cantadas durante a campanha de 2014 dizia respeito à dificuldade de uma transição, no caso de vitória da oposição após anos de domínio do PT sobre a máquina federal.

Não aconteceu. O hoje detento João Santana, digo, Dilma, venceu. Só que durou pouco, levando à situação antecipada com dificuldades extras: o pessoal de saída não reconhece quem chega como legítimo.

Política de terra arrasada é tão antiga quanto a guerra. Assim, vemos resistência de vários setores, em especial dos mais aparelhados pelo petismo, contra o que chamam de "governo golpista", aspas obrigatórias. É uma gente que, na média, não faz justiça à ideia de servidor público.


Mas a intensidade do choro é proporcional ao resultado: onde estão os "artistas contra o golpe" após a manutenção do status quo? Ocupando uns prédios inúteis, talvez.

A EBC, estatal bizarra que no papel quis emular a BBC e na prática vive o "Pravda", é palco de uma disputa simbólica e mesquinha.

Seu presidente foi alçado ao cargo às vésperas do impeachment, e se agarra ridiculamente a um cargo que não mais lhe pertence porque não existe comunicação institucional independente no Brasil. Tudo errado.

Fossem sérios o sistema e os personagens, ninguém discutiria sua permanência. O novo regime o derrubou à força, ele recorreu e ganhou provisoriamente. Tanto faz o desfecho: audiência da comunicação de governo seguirá sendo um traço.

Isso tudo explica a decisão de Michel Temer de apoiar o aumento do funcionalismo: comprar alguma tranquilidade. O mercado, ávido por bonança, por ora perdoou a contradição: nada como a boa vontade.

Sem pudores, o presidente interino comemorou a "pacificação" com setores que só sossegam quando antecipam dinheiro na conta. Ele está certo, de seu jeito e reconhecendo nossa miséria: a bomba fiscal só explodirá no colo de quem o suceder.

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