- O Estado de S. Paulo
O momento político e econômico do País é grave. Por isso, mais do que nunca, o deputado que vier a assumir a presidência da Câmara não pode ser um interesseiro qualquer. Ele tem a obrigação de evitar a exibição personalista que caracterizou a gestão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), exibição esta que se transformou num desastre para a imagem da Casa e a levou para o fundo do poço, como se costuma dizer.
O próximo presidente da Câmara tem um compromisso muito sério com a Nação. Ele será também o vice-presidente da República, caso o Senado aprove o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Pede-se a ele que tenha modos, respeite a ética, ande na linha.
Do presidente da Câmara que for eleito na semana que vem espera-se que tenha compromisso com as necessidades do País e que venha a ser o comandante imparcial das reformas que precisam ser feitas, a exemplo daquelas que buscam o equilíbrio fiscal, a redução no déficit da Previdência, a que trata da modernização das questões trabalhistas. Enfim, dele se cobra o entendimento de que seu cargo é mais importante para o País do que para ele próprio.
O novo presidente da Câmara deve saber que sua função é o ápice da carreira de um deputado. Por isso mesmo, ela não deve servir para picuinhas pessoais, vingança, manobras espúrias, chantagens ou obtenção de favores.
Quem vier a assumir a presidência da Câmara deve esquecer o triste passado que se encerrou na quinta-feira, com a renúncia de Eduardo Cunha.
Cunha, de fato, deu uma sacudida na Câmara como há muito não se via. Passou a fazer votações de terças a quintas e melhorou a autoestima da Casa, ao dar-lhe mais poder para enfrentar o Executivo. Ao mesmo tempo, porém, ele passou a fustigar o governo do PT com a possibilidade de aprovar as chamadas pautas-bomba e prejudicar ainda mais as combalidas contas públicas.
Durante a gestão de Cunha, adotou-se na Câmara a política de “para os amigos, tudo, para os inimigos, nada”. A estes, ele simplesmente virava as costas quando discursavam.
Enquanto foi presidente da Câmara, Cunha fez da força do presidente um instrumento de obtenção de vantagens pessoais. Usou e abusou de seu poder. Fez e desfez. Tentou transformar o Conselho de Ética em um fantoche a seu serviço. Foi prepotente.
Pela arrogância caiu.
Exibicionista, apareceu de uma hora para a outra na CPI da Petrobrás para fazer um depoimento espontâneo e, por essa atitude, gabou-se dias seguidos. Indagado na CPI se tinha contas no exterior, negou, negou e negou. As contas apareceram. Em seguida, veio a abertura de processo por quebra de decoro, não por causa da Operação da Lava Jato, que o tornou réu no Supremo Tribunal Federal, mas por ter mentido à CPI. O resultado é que hoje há um processo de cassação do mandato dele esperando a hora de ser votado pelo plenário. Nem o próprio Cunha tem segurança de que vai se salvar.
Paralelamente a isso tudo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a cassação do mandato de Cunha ao STF por uma série de irregularidades, entre elas a de que o hoje ex-presidente da Câmara havia transformado a Casa num “balcão de negócios”.
Logo a seguir o Supremo suspendeu o mandato de Cunha, numa decisão inédita, e o proibiu de ir ao gabinete, transitar pelos corredores da Câmara ou frequentar o gabinete. Trata-se de um curioso caso em que a Justiça impõe uma tornozeleira a alguém, embora em nenhum momento a sentença cite a palavra tornozeleira.
Da passagem de Cunha pela presidência da Câmara não dá também para esquecer que foi ele quem inventou a triste figura do vice Waldir Maranhão (PP-MA). Ao montar a chapa, Cunha escolheu os integrantes da Mesa Diretora. Deu a Maranhão o segundo cargo mais importante. Calculou que Maranhão jamais ameaçaria sua força. Calculou errado.
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