- Folha de S. Paulo
Prisão do ex-presidente exacerba imprevisibilidade das eleições de outubro
A combinação de recessão econômica e exposição quase pornográfica da corrupção é "explosiva": em qualquer contexto leva governos e lideranças à bancarrota. Esse é o ponto de partida para a análise das eleições gerais de 2018.
As consequências dessa combinação explosiva são instantâneas em países parlamentaristas: queda do gabinete e eleições gerais. Mas em regimes presidencialistas esse impacto é diferido no tempo.
Ao contrário da maior parte das democracias presidenciais —da Argentina aos EUA—, não temos no Brasil eleições intermediárias ("midterm elections", no jargão). Se a crise tem início no primeiro ano de governo —como no caso da gestão Dilma— , suas consequências sobre o sistema partidário só se farão sentir quatro anos depois.
As eleições municipais de 2016 dão uma pista sobre o que pode ocorrer com as candidaturas proporcionais e majoritárias nas eleições de 2018: o PT perdeu 60% das prefeituras que detinha.
A eleição presidencial será, assim, a primeira em que observaremos as severas consequências esperadas da "combinação explosiva". Mas há três fatores que mitigam seu impacto e juntos tornam o pleito presidencial especialmente singular.
Em primeiro lugar, o impacto se deu não apenas sobre o governo: a Lava Jato alcançou o natural beneficiário da bancarrota, o então líder da oposição Aécio Neves, pulverizando sua candidatura.
Em segundo lugar, a narrativa do impeachment como "estratégia de estancar a sangria" foi eficiente em arrefecer a rejeição ao PT e a Lula, a qual se reduziu em quase 40% em cerca de um ano.
Em terceiro lugar, a demora na recuperação da economia arrefeceu o impacto da "combinação explosiva" porque diminui a clareza de responsabilidade pela crise (a quem atribuir a culpa, Dilma ou Temer?).
O efeito na direção contrária do "voto com o bolso" devido à melhoria recente (baixa de juros, geração incipiente de emprego etc.) pressupõe candidaturas minimamente viáveis do campo do governo. Mas elas inexistem. A perda de centralidade da economia na explicação do voto é singular nas eleições de 2018.
A eleição presidencial torna-se assim insólita: pela primeira vez desde Sarney, o presidente incumbente é não só ator secundário como torna-se tóxico. A debacle das candidaturas de Temer, Aécio e Lula (esperada devido à Lei da Ficha Limpa) fragmenta a disputa baixando o sarrafo. O resultado é o surgimento de outsiders viáveis como Bolsonaro ou Joaquim Barbosa, pela primeira vez desde Collor.
A prisão de Lula e manutenção de sua candidatura exacerba a incerteza geral. Paradoxalmente seu efeito mais contundente é sobre o campo da esquerda, no qual exacerba problemas de coordenação.
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Marcus André Melo é professor de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco e doutor pela Sussex University.
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