- O Estado de S.Paulo
A decisão, além de tudo extemporânea, de Jair Bolsonaro de indicar o filho Eduardo para a embaixada do Brasil em Washington encarece a tramitação da reforma da Previdência no Senado e faz com que o governo tenha de se desdobrar em dois fronts – quando não tem demonstrado capacidade de organização nem para um.
Os prognósticos quanto à facilidade ou dificuldade de aprovação de Eduardo na Comissão de Relações Exteriores (que não é condição para que seu nome vá a plenário) e no conjunto da Casa variam entre governistas e oposicionistas. Mas a avaliação de que essa discussão atrapalha o debate da reforma é consensual.
“Bolsonaro mostrou qual é sua prioridade ao aventar essa possibilidade justamente no momento em que a reforma está a caminho do Senado”, constatou um senador simpático ao governo, mas crítico da indicação do filho.
As contas sobre a acolhida na CRE ao nome do filho “03” do presidente para Washington variam. O líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), me disse que Eduardo terá ao menos três votos de vantagem. Já senadores do bloco de oposição e do DEM fazem uma avaliação coincidente: haveria hoje um empate, e o presidente do colegiado, Nelsinho Trad (MS), pode dar o voto de Minerva em favor de Eduardo.
Em pleno recesso, partidos discutem a troca de integrantes da comissão como forma de facilitar a chancela ao nome do terceiro filho para o posto diplomático mais importante do País no exterior.
A indicação ainda não foi oficializada. Aliados acham que Bolsonaro vai “sentir o pulso” do Senado antes de enviá-la. E nessa medição a figura fundamental é Davi Alcolumbre (DEM-AP). O presidente da Casa já foi consultado pessoalmente por Bolsonaro, e foi cauteloso.
A batalha em plenário também é imprevisível: enquanto oposicionistas dizem que podem conseguir até 42 votos para derrubar a indicação, Olímpio prevê um placar mais tranquilo que na comissão.
Um fator, no entanto, pode atrapalhar os planos do governo: oposicionistas vão replicar a estratégia usada na eleição da presidência da Casa, quando abriram os votos. Contam com a pressão da opinião pública para pressionar os novatos da bancada bolsonarista, eleitos em cima do discurso da moralização das práticas políticas, uma vez que a indicação do filho caiu muito mal mesmo entre eleitores do presidente.
INAUGURAÇÃO
Postura de petista ameniza desgaste de Bolsonaro na Bahia
A conduta do governador Rui Costa (PT), que, depois de anunciar que não compareceria à inauguração do aeroporto de Vitória da Conquista, suprimiu deliberadamente a PM da Bahia do esquema de segurança do evento, ajudou a amenizar o desgaste de Jair Bolsonaro no Estado, algo que vem desde as eleições e se acentuara com a declaração do presidente sobre os Estados nordestinos semana passada.
A ausência do petista facilitou a dobradinha circunstancial de Bolsonaro com ACM Neto, prefeito da vizinha Salvador. E permitiu que o presidente ficasse à vontade para seu discurso de “reconciliação” com os nordestinos, em que usou a ascendência da filha para falar que sua família também tem sangue de cabra da peste. Um fator local pouco explorado ajuda a explicar as decisões desastrosas de Costa: ele está mal avaliado em Conquista, e seu estafe temia que ele fosse mal recebido pelo público – selecionado a partir de um cerimonial conjunto da Presidência e do prefeito da cidade, Herzem Gusmão (MDB), seu adversário.
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