Kathryn Sikkink lamentou que alguns governos, como o do Brasil, minimizem vírus e imagina um cenário similar ao do pós-guerra após pandemia
Janaína Figueiredo | O Globo
RIO — A ausência de um Estado forte que defenda os direitos humanos, o bem comum e a responsabilidade social em momentos de pandemia trará consequências graves. A avaliação é da professora Kathryn Sikkink, do departamento de Políticas de Direitos Humanos da Harvard Kennedy School, dos Estados Unidos.
Para ela, estamos vivendo nestes momentos “o grande desafio de nossas vidas. Os que estamos aqui, agora, enfrentaremos o que foi para nossos pais e avós a grande depressão do século passado”. Kathryn lamentou que alguns governos, como o do Brasil, continuem minimizando o coronavírus, e diante destas atitudes tem uma posição contundente:
— Para que uma economia funcione bem temos de proteger nossa população. Como podemos pensar numa economia que avance se nossa população está em risco? Como podemos colocar a economia acima da saúde se sem saúde não há economia? — disse.
Como muitos colegas e autoridades ao redor do mundo, Kathryn imagina um cenário similar ao pós-guerra em vários países, quando a pandemia finalmente for superada.
— Não sabemos exatamente como tudo isso vai nos marcar, mas não podemos minimizar esta ameaça. Se um Estado não cumpre suas obrigações, não respeita o direito de seus cidadãos, outros grupos farão a mesma coisa. As pessoas ficam desorientadas — lamentou a professora de Harvard.
Ela acaba de lançar o livro “A fase oculta dos direitos humanos, em direção a uma política de responsabilidade”. A tese central de seu trabalho é que para que todos possam usufruir de seus direitos, todos devem cumprir suas responsabilidades, começando pelo Estado.
— O coronavírus nos mostra de maneira exemplar como isso funciona. Temos de trabalhar todos juntos, com o Estado. E mesmo assim pode ser insuficiente — insistiu Kathryn.
A professora americana lembrou que países nos quais o Estado tem um papel forte como China, Cingapura e Coreia do Sul, a pandemia foi enfrentada com firmeza e a sociedade acompanhou. E lembrou, ainda, que não se tratam apenas de Estados autoritários. Existem muitos exemplos.
— Os Estados Unidos demoraram em reagir, mas até mesmo o presidente Donald Trump finalmente entrou em ação. Ele percebeu que seu legado está em jogo e que não se pode mentir o tempo todo — disse Kathryn.
Finalmente, disse a professora, o presidente americano “que se deparou com um assunto no qual não pode mentir facilmente, não pode negar os fatos, a ciência”.
— Como no Brasil, nos EUA alguns estados atuaram mais rápido do que o governo federal. Me surpreende a atitude do presidente brasileiro, nem Trump nega mais a gravidade da pandemia — apontou Kathryn.
Para ela, é simples: “basta entrar no site da Organização Mundial da Saúde para entender o que deve ser feito neste momento”.
A economia, assegurou a professora de Harvard, não pode estar separada do ser humano e seus direitos. Uma economia, frisou, não pode funcionar bem sem saúde.
— O êxito nesta luta nos dará confiança para depois curar os demais males da sociedade, incluindo uma economia que, sim, estará em péssimas condições — concluiu Kathryn.
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