segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Demétrio Magnoli – Domingo do espanto

O Globo

Ciro e Tebet praticamente desapareceram da cena, abandonados por eleitores que, na última hora, sufragaram Bolsonaro

As urnas falaram, mas em língua incompreensível para a maioria dos analistas. As sondagens eleitorais dos institutos sérios indicavam a hipótese — na margem de erro — de triunfo de Lula no primeiro turno. No lugar disso, os eleitores produziram um segundo turno competitivo entre Lula e Bolsonaro. O que deu errado?

O mapa do voto traz a resposta fundamental. O presidente extremista saiu-se muito melhor do que indicavam as pesquisas no Sudeste e no Sul. Ao longo de diversas eleições, o PT produziu “ondas vermelhas” de última hora. Desta vez, foi o bolsonarismo que deflagrou o movimento inesperado, uma onda espraiada por todo o Centro-Sul em eleições para governadores e o Congresso.

Ao que parece, as filas diante das seções eleitorais não se deveram, apenas, ao procedimento de certificação digital. Nelas, havia eleitores que, em tese, não iriam votar. Mais: o feitiço do “voto útil” voltou-se contra o feiticeiro. Ciro Gomes e Simone Tebet praticamente desapareceram da cena, abandonados por eleitores que, na última hora, sufragaram Bolsonaro.

Qual foi a mágica?

Um mergulho no oceano de dados do Datafolha oferece uma explicação. A rejeição geral a Bolsonaro, pouco superior a 50%, é puxada para cima pelo eleitorado mais pobre, de renda inferior a dois salários mínimos (s/m). A rejeição geral a Lula, que gira ao redor de 40%, é puxada para baixo pelo mesmo estrato dos eleitores. Contudo, em todos os demais estratos, inclusive na classe média-baixa (2 a 5 s/m), a rejeição de Lula não só é superior à de Bolsonaro, como situa-se em torno do perigoso patamar de 50%. O Brasil não tão pobre saiu para votar — contra Lula.

Durante quatro anos, Bolsonaro concentrou sua artilharia contra o voto livre, secreto e limpo garantido pela democracia brasileira. Seus adversários entrincheiraram-se na defesa de nosso sistema eleitoral. Nessa longa jornada, repetiram sem cessar a primazia da vontade popular. Hoje, depois do espanto, não vale voltar atrás. É preciso respeitar o voto — todos os votos, inclusive aqueles destinados ao presidente antidemocrático.

Não adianta gritar “fascistas!”. A prática disseminada nas redes sociais tem o efeito contraproducente de fechar as portas ao diálogo e à persuasão. Respeitar significa entender as motivações de uma massa imensa de brasileiros que não se confundem com o núcleo minoritário de saudosistas da ditadura militar. O voto anti-Bolsonaro, como se sabe, decorre da memória dos quatro anos de seu desastroso governo. O voto anti-Lula, anti-PT, também deriva de uma memória, não apenas de camadas de preconceitos.

O PT nasceu em São Paulo e alcançou seus primeiros grandes triunfos no Centro-Sul. Ao longo de quase duas décadas, tornou-se o partido preferido por largas camadas das classes médias urbanas. O cristal só se partiu bem mais tarde, sob os governos de Lula, fragmentando-se inteiramente no inverno dilmista.

Hoje se sabe que Sergio Moro e seus procuradores-militantes converteram o sistema de Justiça em ferramenta de um projeto político. Mas a revelação não apaga o mensalão e o petrolão, cuja existência é inegável. A memória dos escândalos de corrupção entrelaça-se à da depressão provocada pelas políticas econômicas populistas inauguradas por Lula e radicalizadas pela sucessora. A rejeição tem raízes políticas, não é um fruto envenenado distribuído por atores demoníacos.

Lula sabe de tudo isso, ainda que seus fiéis não saibam. Sua tentativa de circundar o obstáculo foi montar a aliança com Geraldo Alckmin e chamar à formação de uma frente ampla democrática. A iniciativa, um gesto político genial, permaneceu incompleta. Faltou dar-lhe substância por meio de uma revisão crítica dos erros colossais do passado. O candidato até ensaiou fazê-lo na sua entrevista ao Jornal Nacional, mas logo recuou para sua redoma habitual. O Lula da frente ampla acabou muito parecido com o presidente triunfalista do passado.

Agora, resta menos de um mês. O tempo curto é suficiente para dizer que Lula 3 não será a reprodução de um filme antigo. Sem girar o timão, Lula corre o risco de sofrer a mais dura das derrotas. E de deixar o Brasil à mercê de um bárbaro.

 

4 comentários:

Anônimo disse...

Cara de pau , bárbaro é esse ladrão que comandou uma quadrilha que assaltou Brasil de dentro do Palácio do Planalto saqueando todas as estatais e seus fundos de pensão
O jornalismo brasileiro da velha mídia está uma vergonha, virou um panfleto de esquerda , vocês fazem campanha e torcem pelo Lula com a cara mais deslavada, o cinismo virou uma máscara permanente
O Instituto Datafolha e o IPEC tem que fechar as portas e pedir desculpa ao povo brasileiro
Os seus erros grosseiros intencionais que acabaram induzindo o eleitor em dúvida, a votar no ladrão
O Ministério Público Federal tem que investigar e punir os responsáveis por esses institutos fajutas

Anônimo disse...

Entre o bárbaro e ladrão, só há uma escolha.

Anônimo disse...

Entre o genocida e o ladrão, a escolha é óbvia!

ADEMAR AMANCIO disse...

O eleitorado de Bolsonaro é mais obstinado a votar.