O Estado de S. Paulo
Voto no candidato do PT, no primeiro turno, não significou necessariamente apoio à legenda e a seus aliados. Mas foi um voto, fundamentalmente, de rejeição ao presidente
O efeito coattail (cauda do fraque) em uma eleição
presidencial é um fenômeno no qual a influência de um candidato a presidente é
tão grande que proporcionaria uma maior votação dos membros de seu partido ou
da sua coalizão para outros cargos no Legislativo e/ou no Executivo
subnacional. Ou seja, argumenta-se que tais candidatos foram eleitos na “cauda
do presidente”.
As origens desse conceito são incertas. Seu
primeiro registro é de um discurso do então deputado Abraham Lincoln, em 1848,
ironizando o Partido Democrata por criticar os Whigs por se esconderem na cauda
do candidato à presidência, Zachary Taylor.
Esse fenômeno aconteceu no Brasil quando Bolsonaro foi eleito presidente em 2018. A cauda de Bolsonaro foi tão grande que gerou um extraordinário desempenho do seu então partido, PSL, que, tendo apenas um deputado eleito em 2014, elegeu 52 em 2018. Vários governadores também se elegeram na cauda de Bolsonaro, notadamente Witzel (RJ), Zema (MG), Doria (SP), Caiado (GO), entre outros.
O coattail presidencial,
entretanto, não aconteceu com Lula nas eleições de 2022. Mesmo sendo o primeiro
colocado no primeiro turno, mostrou que sua cauda foi muito curta. Até nos
Estados do Nordeste, em que Lula obteve
com folga a grande maioria de votos, o PT só conseguiu ser vitorioso no
primeiro turno com Bezerra (RN) e Freitas (CE). Por outro lado, mesmo sendo o
segundo colocado, Bolsonaro mostrou
que ainda possui uma cauda longa, especialmente com a vitória de vários
governadores e senadores bolsonaristas.
No momento em que escrevo essa coluna,
ainda não temos um quadro preciso da eleição para a Câmara dos Deputados. Mas
de acordo as projeções mais otimistas do DIAP, a federação PT/PCdoB/PV terá no
máximo entre 65 a 75 deputados. O mesmo deve ocorrer com o PL, que terá no
máximo 70-80 deputados.
O que explica o paradoxo de Lula ser
extremamente popular, mas não conseguir influenciar a corrida eleitoral nos
Estados nem no Congresso? E quais as consequências desse paradoxo para um
eventual governo Lula?
O voto em Lula, no primeiro turno, não
significou necessariamente apoio ao PT e a seus aliados. Mas foi um voto,
fundamentalmente, de rejeição a Bolsonaro. Isso sugere que a maioria dos
eleitores votou estrategicamente para se livrar de Bolsonaro, mas não deu
“cheque em branco” para Lula governar. Preferiu criar restrições governativas
para Lula tanto no Congresso como nos Estados, o que pode ser difícil para ele,
se for eleito, mas muito bom para a democracia.
*Cientista político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE)
3 comentários:
Pra se livrar do Bolsonaro, vale qualquer coisa...
É que a lambança desse partido é inesquecível para pessoas honestas e bem educada. Não conheço país algum que mulheres tenham se defecado e urinado nas ruas e nem ter usado imagens de Santos para uso sexual. E muito deprimente, o Brasil não merece isto é nem tampouco o seu povo.
As pessoas mais simples (o eleitorado do Lula) valorizam mais o executivo,são muitos candidatos e eles se perdem.
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