O Globo
As invasões do Palácio do Planalto, do
Supremo Tribunal Federal e do Congresso tiveram muitas respostas, todas certas.
Como bem lembrou o repórter Guga Chacra, o Judiciário e o Legislativo uniram-se
ao Executivo, coisa que não aconteceu em Washington em janeiro de 2021.
Sobraram perguntas. A mais óbvia é a do financiamento. Segundo o ministro da
Justiça, Flávio Dino,
pelo menos em dez estados já foram identificadas fontes. Pode-se esperar que as
investigações deem nomes aos bois. Restam outras, e entre elas há uma: o que
aconteceu com o Batalhão da Guarda Presidencial?
Trata-se de um corpo de tropa criado por
Dom Pedro I há exatos 200 anos. Ele existe para proteger o presidente e seus
palácios. Jamais aconteceu o que se viu no domingo. Dois imperadores e quatro
presidentes foram depostos sem invasões do palácio.
Com sua experiência de criminalista, o advogado Alberto Zacharias Toron já disse que “inquietante é a questão de saber por que o Batalhão da Guarda Presidencial não defendeu o Palácio do Planalto”.
Uma notícia da Agência Brasil, divulgada às
17h02, dava conta de que a tropa do Batalhão da Guarda estava chegando ao
palácio. O Planalto havia sido invadido às 15h10. Entre os invasores havia pelo
menos um espertalhão, pois levaram equipamentos de fotografia do onipresente
Ricardo Stuckert.
Inquietante é também que o general da
reserva Hamilton
Mourão, ex-vice-presidente da República e atual senador eleito pelo
Rio Grande do Sul, tenha dito que “o controle da anarquia é responsabilidade do
governo do Distrito Federal”. Se um capitão dissesse isso ao general quando ele
estava no serviço ativo, talvez fosse preso. Em seguida, Mourão foi mais
específico:
— Repito que o governo do Distrito Federal é responsável e, caso não tenha condições, que peça ao governo federal um decreto de GLO.
GLO são as iniciais das operações de
Garantia da Lei e da Ordem, nas quais o governo mobiliza efetivos militares
para preservar a tranquilidade pública. A sugestão, vinda de Mourão, ou de
qualquer outra pessoa, é mais um motivo de inquietação. Por que o presidente
deveria baixar um decreto de Garantia da Lei e da Ordem, se o palácio estava
invadido? O Batalhão da Guarda Presidencial não precisa de decreto para guardar
o palácio presidencial.
Desde 2018, quando o general Eduardo Villas
Bôas soltou seu famoso tuíte, é pública a malquerença de uma parte da
oficialidade com Lula.
Agora mesmo, o comandante da Marinha não passou o cargo ao sucessor, apesar de
ter comparecido, em trajes civis, ao almoço que o almirante Marcos Sampaio
Olsen ofereceu aos colegas em sua casa.
Lula governou o Brasil por oito anos sem
qualquer encrenca com os militares. A oposição ao seu governo jamais flertou
com golpes. O mesmo não se pode sequer pensar hoje. Está nas livrarias “Poder
camuflado”, do repórter Fabio Victor. Ele reconstitui a origem da malquerença
de militares com os governos petistas. Lê-lo ajudará a não repetir erros.
Vivandeiras civis e oficiais pensando em
golpe fazem parte da vida nacional desde a segunda metade do século XIX.
Bolsonaro adicionou a esse prato os ingredientes da indisciplina nas polícias
militares e dos cidadãos dispostos a acampar pedindo um golpe militar.
Um comentário:
Pois é...
Postar um comentário