quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Sergio Augusto de Moraes* - Terrorismo em janeiro de 2023

O que aconteceu ontem em Brasília foi uma tentativa de acabar com a democracia no Brasil, mesmo que a maioria dos bolsonaristas que estavam na manifestação que resultou na depredação das sedes dos três poderes não tivessem consciência disto.

Há que se entender que não foi uma ação de meia dúzia de malucos, mas sim, uma ação massiva, de milhares. Apoiada por milhões de bolsonaristas em todo o Brasil e que deve ser enfrentada não só pela justiça mas também no terreno da política.

Outro aspecto desse acontecimento é uma certa desatenção do governo Lula e da maioria dos democratas brasileiros, que concentraram suas atenções na posse de Lula, sem dar-se conta, que os golpistas não se limitariam às manifestações e acampamentos frente aos quarteis.

Existe uma organização por trás destas ações que detém a hegemonia nos órgãos de informação. O caso do governador de Brasília é apenas a ponta do iceberg.

Muitos acham que Lula foi leniente com os golpistas. Não é bem assim. Lula e seu governo vêm demonstrando ter ideia da correlação de forças. Não só na sociedade, mas em particular nas FFAA e nas polícias.

Durante quatro anos Bolsonaro trabalhou tais setores visando um golpe caso não ganhasse as eleições. E, mesmo as perdendo no segundo turno, as sementes que plantou usando todos os recursos legais e ilegais germinaram. Ele ainda tem a hegemonia nas FFAA e nas polícias da maioria dos Estados.

Mas fenômenos deste tipo não ocorrem somente aqui. Muitos analistas de política apontam as semelhanças entre este 8 de janeiro e o que aconteceu nos EEUU há dois anos. A extrema direita cresce também na Itália, na França, na Hungria e em outros países.

Enquanto 36 famílias concentrarem uma renda igual aos 4,5 bilhões mais pobres do mundo estará aberto um terreno fértil para seu crescimento. E nosso País é um campeão das desigualdades.

*Sergio Augusto de Moraes. Engenheiro pela UFRJ e Mestre em Econometria pela Universidade de Genebra. Trabalhou no Chile para o governo de Salvador Allende, 1971-1973 quando, depois do golpe de Estado de Pinochet, esteve preso no Estadio Nacional. Dali conseguindo livrar-se pela solidariedade internacional, foi para a Europa, onde ficou seis anos exilado. Voltou ao Brasil em 1979. É autor também do livro "Viver e Morrer no Chile" - 2010, é um dos editores do Blog "Democracia e Socialismo."

2 comentários:

Anônimo disse...

Na minha humilde opinião apontar para desigualdade como fator preponderante para o extremismo de direita é um recurso que apesar de realmente ocorrer não corresponde com os nossos dias. O avanço dos neo-pentecostais aliado a ferramentas de tecnológicas que ampliam a disseminação de iinformações falsas para um público miserável intelectualmente e com predisposição não somente a assumir essas falsidades como verdades inquestionáveis assim como criar um mundo alheio a realidade dos fatos é algo dantesco e sui generis. Esses zumbis não se preocupam com distribuição de renda ou qualquer outra coisa do gênero, mas somente com a imagem de serem governados por uma emulação de um Jeová, com sua força guerreira e viril que puna a todos.

ADEMAR AMANCIO disse...

Concordo com o anônimo,ficou parecendo que a extrema-direita existe por causa da injustiça social.Então tá!