quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Bruno Boghossian – O golpismo sem escolta

Folha de S. Paulo

Decisão de Moraes, na prática, determina que polícias não podem servir de escolta para golpistas

É provável que nenhum policial bolsonarista tenha deixado de ser bolsonarista desde o último domingo. Mas o custo de sorrir para selfies com criminosos e tomar água de coco enquanto golpistas tentam derrubar o governo ficou mais alto.

As ordens de prisão contra o ex-comandante da PM e o ex-secretário de Segurança do Distrito Federal foram um recado para forças de segurança de todo o país. A decisão de Alexandre de Moraes, na prática, determina que agentes públicos não podem conceder porteira aberta para atos antidemocráticos e oferecer suas tropas para escoltar golpistas.

A colaboração da polícia da capital foi uma das principais marcas dos ataques de domingo. Somada ao apagão de inteligência do governo Lula e à boa vontade das tropas, a omissão das autoridades locais permitiu que os golpistas ocupassem com tranquilidade e destruíssem as sedes dos três Poderes.

Acabar com a leniência das forças de segurança se tornou uma medida necessária, uma vez que os golpistas continuam mobilizados e planejam novos atos. Como agirão as polícias do Rio e de São Paulo, estados governados por bolsonaristas, se esses grupos atacarem refinarias ou quebrarem prédios públicos?

A bolsonarização desembaraçada das PMs e de outras polícias é uma herança dos últimos quatro anos. Em Brasília, manifestantes tratavam as tropas como aliadas e se orgulhavam do fato de que os agentes facilitavam o caminho dos invasores.

A decisão do STF tem o objetivo de quebrar essa omissão com um apelo à hierarquia. Muitos policiais devem continuar alinhados a Jair Bolsonaro, mas a tolerância deveria ser interditada nas cadeias de comando, com ordens claras para combater esses criminosos.

Punir chefes de segurança que se comportam de maneira contrária é condição para restabelecer a ordem, mas sem espaço para excessos. As prisões só devem durar enquanto forem necessárias para investigar a responsabilidade de cada personagem, até que eles sejam julgados.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Bruno Boghossian.