O Globo
Ministro demoliu pegadinhas como as feitas
pelo deputado André de Paula e pareceu se divertir com o despreparo dos
inquisidores
A audiência de Flávio Dino na Comissão de
Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), ontem, funcionou como termômetro de
como pode ser a dinâmica entre lulistas e bolsonaristas num Congresso que, até
aqui, não votou absolutamente nada de relevante, paralisado pela intenção de
Arthur Lira de mudar a Constituição a seu bel-prazer para comandar a tramitação
de matérias — hoje são medidas provisórias, amanhã o que mais?
Não são poucos os temas relevantes sobre os
quais parlamentares devem interpelar o ministro da Justiça de qualquer governo.
Num que começou com um revogaço de medidas do mandato anterior e enfrentou
antes de seu décimo dia uma tentativa de golpe de Estado, mais ainda.
Mas a intenção da tropa de choque
bolsonarista que se aboletou na CCJ não era esclarecer nada, e sim lacrar para
cima do ministro a fim de se exibir nas redes sociais, palco por meio do qual a
quase totalidade desses deputados se elegeu e único espaço em que sabem
transitar.
O ministro entende como poucos no governo
Lula essa dinâmica e tem se mostrado disposto a combater a lógica de
exacerbação da polarização com as armas de que dispõe — conhecimento jurídico
acima da média, experiência política ampla, bom humor e, se preciso, recurso à
Justiça para reparar crimes.
O debate é velho e foi bastante travado nos anos Bolsonaro, em especial na última campanha: imunidade parlamentar pode ser usada como salvo-conduto para a prática de fake news, incitação a crimes, crimes contra a honra, atentados contra o próprio Estado Democrático de Direito e apologia a discurso de ódio? Não pode.
Dino apresentou queixa-crime contra
parlamentares que o acusaram de ter fechado um pacto com o crime organizado
antes de visitar o Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Trata-se de uma
imputação de conduta ilícita ao ministro da Justiça, não “opinião” ou
“liberdade de expressão”, como malandramente defendeu o deputado Carlos Jordy
na audiência que ele e outros bolsonaristas pretendiam transformar em show
particular.
Não contavam com o fato de o ministro estar
disposto a roubar a cena e atuar na mesma frequência, só que com dados e
argumentos jurídicos sólidos. Dino demoliu pegadinhas como as feitas pelo
deputado André de Paula, pareceu se divertir com o despreparo parlamentar e
jurídico dos inquisidores e comandou o depoimento por quatro horas.
A audiência lembrou, pela reversão de
expectativas, o depoimento que o então ministro Luiz Gushiken deu à CPI dos
Correios em setembro de 2005, no auge do mensalão.
— Me espanta a leviandade com que o senhor
trata o governo. Para me acusar de formador de quadrilha, apresente provas! Não
se esconda sob seu mandato para fazer acusações levianas! — respondeu, em tom
ríspido, diante de uma pergunta do então deputado Onyx Lorenzoni.
O depoimento marcou uma mudança em relação
aos dados pelos governistas depois das acusações do publicitário Duda Mendonça
e passou a ser usado pelo governo como exemplo de que era preciso sair das
cordas.
Uma das táticas mais claras do bolsonarismo
para acuar o governo está na convocação em série de ministros em comissões para
arranca-rabos como o de ontem. Dino foi a convite, mas já há convocações
aprovadas em colegiados como a Comissão de Fiscalização e Controle, controlada
pela deputada Bia Kicis.
Se por um lado a postura de Dino deixa
claro que o país não escapará tão cedo da exacerbação da polarização política,
do ponto de vista do Planalto aponta um caminho para não deixar que os
oposicionistas radicais produzam seus videozinhos e dominem a narrativa nas
redes, território que tem sido crucial.
É lamentável que o debate parlamentar
esteja restrito a isso, e a culpa é, em grande parte, da falta de maioria do
governo para furar o bloqueio que Lira promove na pauta. Mas ao menos o titular
da Justiça mostrou como não se deixar tragar quando tentam lhe arrastar para a
cova dos leões.
6 comentários:
Perfeito.
O bolsonarismo está vivo, mas vai cair de podre porque é da sua natureza.
Dino é o elo que faltava entre justiça e política
"Dino ..., pareceu se divertir com o despreparo parlamentar e jurídico dos inquisidores e comandou o depoimento por quatro horas."
Sim. Sabemos q os bozo são despreparados. Seguindo o bozo, só podem ser.
Teve até um bozo q demonstrou interesse na macheza do Dino.... q prontamente saltou fora.
Foi hilário!
Rsrsrsrs.
Cova dos leões? Isto deve ser na receita federal... Aquilo era a cova dos vermes bolsonaristas, o esgoto onde vivem e chafurdam!
Vera e sua sensatez.
Postar um comentário