O Estado de S. Paulo
Algumas das principais autoridades do planeta
estão reunidas nos Emirados Árabes Unidos, para a Conferência do Clima
(COP-28). Mas sobram dúvidas se, na prática, o objetivo é mesmo o combate ao
aquecimento global e a definição de prazos para a transição energética ou se
acabará por ser apenas uma oportunidade para fechar negócios.
Mais do que desafiador, o cenário é concentrador de questionamentos, a começar pelo local escolhido para o evento. No início da semana, documentos obtidos pela imprensa internacional revelaram os planos do governo dos Emirados Árabes para aproveitar a presença de lideranças mundiais para discutir investimentos em combustíveis fósseis. O anfitrião e líder das negociações, o presidente-executivo da empresa petrolífera estatal Adnoc, Sultan al-Jaber, se defendeu das acusações de conflito de interesses, mas não colocou em dúvida a autenticidade dos documentos.
Além do esperado freio aos fósseis, outros
temas devem protagonizar as rodadas de negociação. Entre eles, a avaliação
sobre o progresso dos países-membros na implementação do Acordo de Paris; a
formulação de estratégias de adaptação climática e mitigação dos impactos
climáticos, sobretudo em países em desenvolvimento ou em territórios que devem
desaparecer em consequência da elevação do nível do mar. E, mais uma vez, entra
no foco a questão dos financiamentos destinados a enfrentar esses e outros
problemas que pedem soluções urgentes.
O governo do Brasil levou para a COP-28 a
maior delegação da história. Pretende mostrar que sua pauta ambiental voltou
para o centro de seu interesse, mas a falta de políticas ambiciosas no processo
de tomada de decisões climáticas e a dubiedade com que o presidente Lula vem
tratando a exploração de petróleo em ecossistemas sensíveis para a vida no
planeta levanta suspeitas sobre suas verdadeiras intenções. Embora o
desmatamento na Amazônia venha sendo reduzido, a boiada continua a passar em
outros biomas, como pelo Cerrado.
Guilherme Syrkis, diretorexecutivo do Centro
Brasil no Clima, avalia que o governo tem adotado discurso raso sobre a
utilização de combustíveis fósseis na transição energética. Ou limita-se a
tentar convencer o mundo de que a extração do petróleo brasileiro é menos
poluente quando comparada com a de outros países. No entanto, a questão central
versa sobre um cronograma crível de cortes no consumo de combustíveis fósseis.
E, nesse cenário, a Petrobras ainda vem trabalhando para manter artificialmente
achatados os preços dos combustíveis.
“Quando chega aos assuntos mais sensíveis,
como o do uso dos recursos energéticos, o Brasil não tem mostrado que leva a
pauta ambiental a sério. O setor de petróleo e gás precisará passar por
reformulação de financiamentos, pela derrubada de subsídios e pela definição de
metas objetivas de redução de consumo. Não há sinal disso.” •
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