Folha de S. Paulo
Tributação faz sentido, mas equipe econômica
terá que trabalhar se quiser evitar custo político para Lula
Geraldo
Alckmin apresentou a amostra de um remédio amargo que vem sendo
preparado pelo governo. O vice quis fazer média com o comércio nacional e
anunciou que produtos
importados via plataformas digitais passarão a ser tributados mesmo que custem
menos de US$ 50.
A porta do laboratório foi aberta antes da
hora. A equipe econômica estuda lançar o novo modelo de taxação em dezembro,
antes do Natal, mas Lula não
bateu o martelo.
A Receita tem mais de uma proposta na mesa. Uma delas prevê alíquotas de 28% para remessas abaixo de US$ 50 e de 60% para as demais. Outra cria uma tributação progressiva, com base no valor do produto.
O governo nunca abandonou a ideia de cobrar
impostos sobre remessas de plataformas como Shein,
Shopee e AliExpress. Na primeira tentativa, em abril, a Fazenda soltou a medida
sem muita explicação, foi bombardeada e, temendo danos à popularidade de Lula
na classe média, suspendeu a cobrança.
Na ocasião, o chefe da Receita deu entrevista
numa segunda-feira para dizer que não recuaria
da taxação. Na terça, a primeira-dama defendeu a cobrança e, horas
depois, convenceu o
presidente a recuar.
A lambança nasceu em algum escaninho da
equipe econômica, mas ganhou corpo em diversos gabinetes do governo. A cobrança
foi tratada como um ajuste técnico num anexo tributário qualquer, deixando de
lado um fator político básico: a mordida atingiria milhões de consumidores que
têm as compras digitais como parte do cotidiano.
Essas remessas nunca foram isentas.
Vendedores burlavam a cobrança simulando o envio de pacotes de pessoa física
para pessoa física. Para o governo, taxar os produtos acabaria com o
desequilíbrio entre essas mercadorias e produtos nacionais.
O argumento fica de pé, e o governo pode
insistir que essa é uma questão de justiça tributária e combate à sonegação,
mas vai repetir o
erro se não conseguir explicar ao consumidor por que ele deve
pagar mais por uma blusinha comprada da China.
Um comentário:
Pois é.
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