O Estado de S. Paulo
O próximo Relatório Trimestral de Inflação será chave para entender os novos movimentos do Copom
Quando manteve os juros inalterados em 10,50% na última reunião, o Copom avisou que estava interrompendo – e não encerrando – o ciclo de afrouxamento monetário, o que deixou analistas em suspense sobre a possibilidade de a taxa Selic voltar a cair ainda neste ano ou, provavelmente, em algum momento de 2025. O Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que será divulgado amanhã, dará pistas cruciais ao mercado sobre qual o próximo movimento do Copom, quando abandonar a pausa em curso na política monetária.
Conforme o último comunicado, as projeções de
inflação do Copom em seu cenário de referência (que leva em conta as
estimativas do mercado para a trajetória de juros e de câmbio na pesquisa
Focus) foram de 4%, em 2024, e de 3,4% em 2025. No câmbio, a cotação do dólar
tomada como referência foi de R$ 5,30. Nos juros, a pesquisa Focus previa a
Selic a 10,50% ao fim deste ano, caindo para 9,50% ao fim de 2025. Ou seja, por
esse cenário a inflação do ano que vem ficaria ainda muito distante da meta de
3%.
Mas o Copom apresentou um cenário
alternativo, no qual a taxa Selic ficaria parada em 10,50% ao longo do
horizonte relevante da política monetária. Nesse caso, a projeção do Copom
aponta para uma inflação de 3,1% em 2025, o que seria bastante aceitável para o
mercado. Como a política monetária opera com defasagem de 12 a 18 meses para
surtir efeito integralmente, em meados do ano que vem o foco do BC já não seria
2025, mas o que acontecerá com a inflação em 2026. Com a Selic parada, o risco
passa a ser de a inflação de 2026 ficar até abaixo da meta perseguida pelo BC,
dependendo de como se comportará o câmbio.
Acontece que muitos analistas dizem que a
cotação do dólar que o Copom tomou como referência já está defasada. A moeda
americana está oscilando próximo a R$ 5,40. E se, com a piora do risco fiscal e
com um cenário externo adverso, o dólar não recuar mais? Por outro lado, se a
confiança com o arcabouço fiscal for recuperada e o câmbio se apreciar, as
expectativas inflacionárias – em 3,85% para 2025 – devem ceder. A dúvida é como
o Copom vai incorporar isso nos seus modelos de projeções variáveis tão voláteis
num ambiente doméstico e externo incerto.
É aí que entra o RTI. No documento, o mercado
vai poder entender a sensibilidade das projeções do Copom ao câmbio e às
expectativas de inflação no horizonte relevante. No RTI, o BC vai incluir, pela
primeira vez, a estimativa de inflação para todo o ano de 2026. E, assim,
ajustar as apostas de uma eventual retomada de corte de juros.
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