Folha de S. Paulo
A prosperidade material experimentada hoje
pelo terráqueo médio, por exemplo, é fruto das duas Revoluções Industriais
Numa época em que a ordem liberal vem sendo desafiada e sofre reveses, é
natural que surjam obras que procurem apontar para as virtudes desse sistema
que, aos trancos e barrancos, vem se consolidando no Ocidente. "Age of
Revolutions", do jornalista Fareed Zakaria (CNN, Washington Post), é uma delas.
O autor se propõe a tentar entender como certos períodos da história concentram
mudanças que deixam marcas profundas num país e por vezes no mundo. Nós os
chamamos de revoluções. No livro, Zakaria investiga nove delas, cinco do
passado (Holandesa, Gloriosa, Francesa e a Industrial, em suas vertentes inglesa e americana) e quatro
do presente (globalização, tecnologia, identidade e geopolítica).
A escolha das revoluções do passado tem algo
de arbitrário que já trai as intenções do autor. Ele descreve todas elas,
exceto a Francesa, como movimentos liberais que deixaram um saldo positivo,
apesar ter eventualmente produzido vítimas. A prosperidade material
experimentada hoje pelo terráqueo médio, por exemplo, é fruto das duas
Revoluções Industriais. Já a Francesa aparece como uma revolução fracassada,
iliberal, que traiu um a um todos os seus ideais. Não é uma posição absurda
(Burke pensava do mesmo modo), mas há visões divergentes que também fazem
sentido.
Quanto às revoluções modernas, Zakaria admite que elas estão provocando tensões
e retrocessos, mas diz que não precisamos ser pessimistas. Se assimilarmos as
lições das revoluções liberais, conseguiremos nos livrar do populismo e outras
chagas do iliberalismo e seguir avançando incrementalmente, como holandeses e
ingleses fazem desde os séculos 16 e 17.
Zakaria escreve bem e sabe contar histórias. O livro é verdadeiramente
prazeroso de ler. Não discordo de suas teses centrais, mas devo dizer que fico
um pouco preocupado quando defensores do liberalismo têm de apelar para uma
espécie de fé em suas virtudes, como faz o autor.
2 comentários:
Por óbvio, impossível responder pela diversidade de outras formas de organização social, política e econômica espalhadas por aí,
mas, mesmo assim, é possível defender ( e imaginar ) que, guardados todos, todos os seus limites, problemas e contradições, o liberalismo ocidental com democracia é, dos males, o menor daqueles que já produzimos.
Pode ser.
Postar um comentário