terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Lula e PT divergem quanto a Maduro - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

É bom que o presidente esteja se afastando de ditadores de esquerda que antes apoiava

Até alguns mandatos atrás, presidentes brasileiros podiam fazer o que quisessem no campo das relações internacionais sem se preocupar com a repercussão doméstica de suas ações. O brasileiro médio não dava a mínima para a política internacional. O jogo mudou.

A polarização transformou as relações externas em mais um campo de batalha das guerras culturais. Hoje dá para inferir o posicionamento político de um cidadão –e até em quem ele vai votar na próxima eleição presidencial-- perguntando-lhe só o que ele acha da Venezuela e das guerras na Ucrânia e em Gaza.

O corolário disso é que presidentes precisam estar mais atentos a seus passos geopolíticos. Têm de olhar tanto para as implicações diretas como para as indiretas.

Se é fácil ganhar o aplauso de militantes investindo contra figuras controversas como Maduro, Musk ou Netanyahu, também é fácil perder o respeito da fatia de eleitores que valoriza a aplicação coerente de princípios como o respeito à democracia e aos direitos humanos.

Penso que Lula faz bem ao afastar-se de antigos aliados como Maduro e Ortega. Ambos converteram seus países em ditaduras. Se Lula quer firmar-se como baluarte das forças democráticas em oposição ao golpismo da extrema direita representada por Bolsonaro, então tem de ser coerente e mostrar que se opõe também a autoritarismos de esquerda.

Mostrar contrariedade não significa, é óbvio, romper relações diplomáticas. A Venezuela é um país vizinho, o que significa que estamos condenados a nos relacionar. O que importa é encontrar um ponto de equilíbrio. É preciso passar a mensagem pró-democracia sem sacrificar outros interesses, como o comércio bilateral e a tranquilidade nas fronteiras.

Podemos passar dias discutindo se Lula acertou no tom ao mandar a embaixadora para a posse de Maduro. Eu teria enviado o terceiro secretário. Seria um protesto mais eloquente. Mas acho que Lula acerta no movimento de afastamento. O preocupante aqui é o PT, que fez a sinalização oposta, indicando ser fã de ditaduras desde que tenham seu sabor ideológico favorito.

 

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