sábado, 3 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Brasileiro está atento para os riscos das mudanças climáticas

O Globo

Mais da metade da população concorda que perigos são iminentes, segundo Datafolha

Está consolidada entre os brasileiros a percepção de que o aquecimento global é um perigo iminente, segundo pesquisa Datafolha. O instituto fez sondagens sobre o tema em junho, em outubro de 2024 e em abril deste ano. Nos três levantamentos, mais da metade afirma concordar que os riscos das mudanças climáticas são imediatos. Na primeira pesquisa, o percentual foi de 52%, na segunda 60% e na terceira 53%. No país como um todo, a fatia dos que não enxergam risco algum nunca passou dos 9%. Trata-se de dado tranquilizador, que demonstra o efeito limitado do negacionismo climático na população brasileira.

As três pesquisas Datafolha foram decerto influenciadas por tragédias ambientais recentes. Todas aconteceram em momentos de comoção ou, neste ano, quando a memória do sofrimento ainda está fresca. Quando a primeira edição foi realizada, o Rio Grande do Sul ainda estava debaixo d’água devido à enchente histórica de abril e maio. Na segunda edição, em outubro, a destruição de extensas partes do Pantanal e da Amazônia pelo fogo transtornava o país. Em setembro, segundo o Imazon, 20.238km2 da Amazônia foram destruídos, o maior número para o mês em 15 anos. Na segunda semana de setembro, São Paulo, encoberta pela neblina oriunda da fumaça dos incêndios, registrou qualidade do ar ruim ou muito ruim em 20 das 22 estações de medição e chegou à infame colocação de cidade mais poluída do mundo.

Há, é verdade, contrastes relevantes na percepção dos riscos. Na última edição da pesquisa, os moradores da Região Sul foram os mais atentos para eles (57%), seguidos pelos de Sudeste (56%), Centro-Oeste e Norte (50%) e Nordeste (49%). Entre os que moram em capitais ou regiões metropolitanas, 59% disseram ver perigo iminente. Nas cidades do interior, 49%. Por fim, o negacionismo — embora ainda diminuto — tem crescido. Foi de 5% em junho para 7% em outubro e 9% agora.

Por isso, no campo das ideias, persiste o desafio de enfrentar as campanhas de desinformação propagadas por negacionistas climáticos nas redes sociais. O movimento se sentiu revigorado em diferentes partes do mundo desde a posse de Donald Trump. A melhor reação continua a ser a divulgação consistente de informações baseadas na ciência, ainda que nem sempre ela traga as certezas que muitos gostariam de ter.

Fortalecida em 2024, a consciência dos brasileiros sobre os efeitos do aquecimento global é um alento. Uma população ciente dos riscos está mais aberta a políticas públicas voltadas à redução de emissões de gases de efeito estufa e à prevenção das consequências nocivas dos eventos climáticos extremos. A preocupação dos brasileiros serve de alerta para a classe política nas três esferas de poder.

A percepção das ruas também fortalecerá a posição dos negociadores brasileiros na COP30, conferência das Nações Unidas sobre clima prevista para Belém no segundo semestre. Ainda é uma incógnita se os Estados Unidos enviarão representante e como os demais países reagirão, agora que o maior responsável pelo aquecimento global se retirou do Acordo de Paris — entre 1750 e 2021, os americanos foram responsáveis por 24% das emissões do planeta, à frente dos países da União Europeia (17%) e da China (14%), segundo estimativa do Global Carbon Project. Nessa nova e difícil conjuntura, os anfitriões brasileiros pelo menos terão a legitimidade do apoio popular.

Justiça precisa libertar empresário turco-brasileiro detido em São Paulo

O Globo

Naturalizado há 13 anos, Mustafa Goktepe foi preso por acusação do regime autoritário de Recep Erdogan

O presidente da TurquiaRecep Tayyip Erdogan, não esconde seu desprezo pela democracia. Prisões de adversários políticos são comuns. Na última quinta-feira, 18 funcionários da Prefeitura de Istambul foram levados por policiais. Eles se uniram a dezenas de outros acusados sem provas. A caça a opositores se intensificou a partir de março, quando foi detido o prefeito da cidade, Ekrem Imamoglu, seu adversário com maior popularidade. Há 22 anos no poder, Erdogan tem perdido apoio popular e se voltado contra qualquer um que o ameace. O Judiciário e outras instituições turcas estão aparelhados por aliados do regime. A Turquia está cada vez mais parecida com a Rússia de Vladimir Putin.

Que Erdogan faça isso num país com 85 milhões de habitantes já é uma tragédia. Mais inaceitável é a tentativa de perseguir um cidadão brasileiro. Na quarta-feira, agentes da Polícia Federal (PF) prenderam em São Paulo o turco naturalizado brasileiro Mustafa Goktepe. Empresário dono de uma rede de restaurantes e de duas escolas, Goktepe mora no Brasil há mais de 20 anos, é casado com uma brasileira, com quem tem duas filhas, e se naturalizou faz 13 anos.

Para Erdogan, ele faz parte de uma organização criminosa. Ao pedir sua extradição, o governo turco não mencionou que ele é cidadão brasileiro. Diante de acusações assim, é comum o Supremo Tribunal Federal (STF) permitir prisão imediata. Depois, quando a defesa for ouvida, a Corte analisará o caso com profundidade. Os precedentes são favoráveis a Goktepe. A lei que proíbe a extradição de brasileiros deve ser respeitada.

O histórico autoritário de Erdogan põe em dúvida as acusações. Goktepe é ligado ao movimento Hizmet, criado pelo teólogo e filantropo Fethullah Gülen, que morreu no ano passado, exilado nos Estados Unidos. Desde a tentativa de golpe contra Erdogan em 2016, que contou com o envolvimento de aliados de Gülen, o Hizmet é classificado como grupo terrorista na Turquia — e apenas na Turquia. Erdogan fez repetidos pedidos para os Estados Unidos extraditarem Gülen, mas sem sucesso nos governos Obama, Trump e Biden. Seguidores de Gülen pelo mundo também não têm sossego.

Nos últimos seis anos, dois outros integrantes do Hizmet no Brasil foram alvo. Em 2019, Ali Sipahi foi preso nas mesmas circunstâncias que Goktepe, mas a Segunda Turma do STF decidiu por unanimidade que a extradição não tinha amparo na legislação brasileira. Para o relator, ministro Edson Facchin, a lei não permite extraditar alguém que será obrigado a responder “perante tribunal ou juízo de exceção”. Dois anos mais tarde, outro empresário turco passou pela mesma experiência. Quando a Primeira Turma do STF analisou o processo, o relator, ministro Alexandre de Moraes, descartou as acusações como genéricas.

Seria um erro se o Supremo mudasse de opinião agora. Se o objetivo do governo turco é amedrontar e calar os opositores, a Justiça brasileira não pode ser conivente.

Venda de sentenças precisa ser punida com o rigor da lei

Folha de S. Paulo

Investigações sobre corrupção na Justiça afetam ao menos 14 tribunais, o que sugere necessidade de reforço de controle

Foi concluído o inquérito da Polícia Federal que investiga um suposto esquema de venda de decisões no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.

De acordo com o relatório policial, participariam dessa organização criminosa nada menos que sete desembargadores (dois dos quais aposentados) e um conselheiro do Tribunal de Contas do estado, entre outros suspeitos.

A quebra do sigilo de comunicações levou a PF a acreditar que muitas das negociações ilícitas tenham ocorrido com a intermediação de filhos dos desembargadores e, mais grave, que a corrupção tenha alcançado membros do Superior Tribunal de Justiça.

Em depoimentos, alguns dos envolvidos negaram qualquer irregularidade em suas condutas e, se um processo for instaurado, terão a oportunidade de apresentar suas explicações.

Por causa da menção a integrantes do STJ, caberá à Procuradoria-Geral da República decidir se levará o caso adiante, com a formalização de denúncia no Supremo Tribunal Federal (STF). Espera-se que a PGR esteja atenta a esse episódio, pois crimes dessa natureza, se comprovados, não podem passar sem resposta firme.

Em uma república, o Judiciário é o órgão responsável por solucionar conflitos entre pelo menos duas partes. Sua imparcialidade, simbolizada por uma figura de olhos vendados, é condição necessária para que os cidadãos confiem em sua atuação e aceitem pacificamente o desfecho determinado em uma sentença.

Violar esse princípio, portanto, não representa uma ofensa somente a quem se viu prejudicado em um caso concreto; representa uma agressão contra a própria ideia de Justiça e, por consequência, também contra um pilar do Estado democrático de Direito.

Vistas por esse ângulo, as suspeitas em Mato Grosso do Sul já são deploráveis o bastante, mas, infelizmente, estão longe de encerrar todas as fontes de preocupação dentro do Poder Judiciário.

Existem no país ao menos 14 tribunais envolvidos em episódios de venda de decisões judiciais. São casos ligados a magistrados da ativa, aposentados ou afastados, além de funcionários de seus gabinetes e parentes com trânsito no ambiente forense.

Embora STJ e Conselho Nacional de Justiça (CNJ) afirmem priorizar esses esquemas de corrupção, há ações que se arrastam há mais de uma década, sem conclusão.

Tamanha demora é inadmissível. O respeito à ampla defesa não pode se confundir, jamais, com a mera protelação de um desfecho condenatório, sob pena de reforçar na sociedade a percepção de que os magistrados se pautam, nas relações entre si, apenas por um corporativismo pusilânime.

É fundamental que as investigações avancem e que as condutas ilícitas sejam punidas com o rigor da lei. Para além dos casos concretos, é imprescindível, de modo mais amplo, reforçar os mecanismos de controle e transparência, para evitar que se repitam episódios tão lamentáveis e danosos como esses.

Temor com clima segue alto, apesar de erosão

Folha de S. Paulo

Datafolha mostra que 88% veem risco na escalada do aquecimento global; governo Lula ainda deve um plano de adaptação

Oscilações na percepção pública da crise do clima não surpreendem. São marés altas e baixas de preocupações com os impactos do aquecimento global, e somente um negacionista enxergaria no recuo mínimo e momentâneo das águas um sinal de que o oceano de inquietude possa secar.

É o que se apresenta na pesquisa Datafolha: 88% dos brasileiros maiores de 16 anos entrevistados veem risco imediato ou para gerações futuras nas alterações climáticas. A pesquisa ouviu 2.002 pessoas em todas as regiões do país, de 8 a 11 e abril, e tem margem de erro de dois pontos percentuais.

Houve leve crescimento no montante dos que não atribuem perigo ao fenômeno. Eram 5% em junho de 2024, depois 7% em outubro do mesmo ano, e chegam agora a 9%. Cada incremento está dentro da margem de erro, embora a sucessão sugira viés de alta.

Cabe atentar, no entanto, para os meses em que as três pesquisas foram realizadas. A primeira se deu quando ainda estavam frescas na memória imagens dantescas de semanas de inundação e desespero no Rio Grande do Sul, com as chuvas torrenciais de abril e maio de 2024.

Passados quatro meses da tragédia, seria natural que a percepção de risco se atenuasse um pouco, mais ainda um ano depois. Ainda assim, a sequência de desastres climáticos —enchentes, deslizamentos, secas, incêndios— está a solidificar, para quase 9 entre 10 brasileiros, a convicção de que a mudança climática veio para ficar e de que algo deve ser feito a respeito.

A percepção de risco varia pouco entre as regiões do país. No Sul e no Sudeste, ela atinge 91%, e as taxas de despreocupação são de 7% e 8%, respectivamente. Já no Centro-Oeste e Norte, os números mudam para 89% e 9%, e no Nordeste, para 84% e 10%.

O negacionismo sob Jair Bolsonaro (PL) afetou iniciativas ainda tímidas de mitigação e adaptação. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estancou o vagalhão, mas está longe de deslanchar um plano efetivo de ação.

A progressão do desmatamento na amazônia e no cerrado foi em parte contida, um torniquete na mais importante fonte de emissões de carbono no país. Mas esse é outro caso que enfrenta altas e baixas, nem sempre por influência do governo federal.

Há que assinalar também a ambivalência da gestão petista, que propagandeia financiar a transição energética com renda da exploração de petróleo, quando a realidade mostra que mero 0,2% dos R$ 108,2 bilhões auferidos em 2024 foi investido em prol do clima e do meio ambiente.

Ministro cai, mas CPI ainda é necessária

O Estado de S. Paulo

Lula demorou, mas demitiu Carlos Lupi, na tentativa de estancar o escândalo da roubalheira no INSS. No entanto, isso não pode servir de pretexto para enterrar a investigação do caso pela Câmara

O presidente Lula da Silva finalmente demitiu o ministro da Previdência, Carlos Lupi, cuja permanência no cargo se tornou insustentável após a descoberta da extensão das fraudes em descontos nas aposentadorias e pensões pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Como costuma fazer em toda crise, Lula procrastinou na expectativa de que o escândalo esfriasse por conta própria, mas a negligência de Lupi, que já havia sido alertado do problema, deixou o governo exposto e sem respostas a dar a um público especialmente vulnerável, como é o caso de aposentados e pensionistas.

Para piorar, a oposição não teve dificuldade para conseguir as 171 assinaturas necessárias para protocolar um requerimento com vistas a criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o esquema. A decisão sobre a instalação da comissão caberá ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que poderá optar por priorizá-la ou deixá-la no fim de uma lista de 12 pedidos apresentados anteriormente.

A demissão de Lupi parece uma tentativa de esvaziar o apelo da CPI do INSS. Para este jornal, no entanto, o tamanho da rapina mais que justifica a instalação da CPI.

De acordo com a Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU), as entidades associativas receberam quase R$ 8 bilhões entre 2016 e 2024, dos quais R$ 2,848 bilhões apenas no ano passado. A maioria dos beneficiários não havia autorizado a cobrança das mensalidades ou acreditava que seu pagamento era obrigatório.

Tudo começou no governo Michel Temer, mas foi em 2022, durante a administração de Jair Bolsonaro, que o número de reclamações de beneficiários na Ouvidoria do INSS sobre esses descontos disparou. Pesa contra o governo Lula da Silva a demora em agir, a despeito de alertas feitos ainda em 2023 no âmbito do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) e também pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

A apuração, portanto, deve ser rigorosa e ir além deste governo, haja vista que 6 milhões de beneficiários foram prejudicados ao longo dos anos.

CPIs muitas vezes não dão em nada, mas podem abalar qualquer governo. A CPI da Covid, por exemplo, recomendou o indiciamento de 78 pessoas e duas empresas. Embora a Procuradoria-Geral da República não tenha aberto inquérito sobre os casos, a comissão foi exitosa ao expor a má gestão de Bolsonaro ao longo da pandemia e certamente lhe custou votos na eleição de 2022.

Tudo o que o enfraquecido Executivo não precisava neste momento era de um escândalo. O governo aparentemente havia conseguido interromper a queda da popularidade de Lula, mas, se ainda não está claro qual impacto o escândalo do INSS terá sobre a imagem do governo, é certeza que haverá algum.

A prioridade, agora, será lidar com o escândalo, cujos desdobramentos eventualmente podem ameaçar a reeleição de Lula. E os próximos passos vão depender menos da capacidade de articulação da oposição na Câmara do que da capacidade do Executivo de dar satisfações à sociedade.

E nisso, até agora, o governo foi muito mal. Em vez de demonstrar ser implacável com os desvios, entregou apenas as cabeças do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e de parte da diretoria do órgão e tentou poupar Lupi. Não funcionou. Alegou que foi sob a Presidência de Lula da Silva que a investigação começou, mas não convenceu ninguém. A atitude soou, no mínimo, como omissão.

Para piorar, uma das entidades envolvidas na investigação, o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), mantém Frei Chico, irmão do presidente da República, em um cargo de direção. O Sindnapi multiplicou suas receitas de R$ 23,3 milhões em 2020 para R$ 154,7 milhões no ano passado.

Gerir o sistema previdenciário, mais que operacionalizar o pagamento dos benefícios, inclui a defesa dos direitos dos beneficiários, sobretudo daqueles em condições de vulnerabilidade, como idosos com doenças graves, indígenas de comunidades isoladas e pessoas com deficiência, que tampouco foram poupados. Tantas perguntas sem resposta apenas fortalecem a urgência da instalação da CPI.

A farra dos conselhos

O Estado de S. Paulo

Governo Lula engorda vencimentos de ministros e aliados com mais de 300 vagas em conselhos em estatais, entidades e empresas privadas sem exigir qualificação nem experiência dos indicados

O Estadão identificou que ao menos 323 aliados do governo integram conselhos de administração ou fiscais de empresas públicas, companhias privadas nas quais a União é acionista ou entidades de cuja gestão o Executivo faz parte. A escolha do termo “ao menos” não é aleatória, pois é provável que o número de contemplados pelos jetons seja ainda maior.

Os cargos contemplam de ministros e secretários-executivos a chefes de gabinete de ministérios, além de assessores parlamentares, servidores comissionados, dirigentes partidários, ex-parlamentares e apadrinhados políticos.

A remuneração paga aos conselheiros não é abatida do teto constitucional, de R$ 46.366,19, o que garante um reforço e tanto na renda desses aliados em troca de sua participação em reuniões mensais ou bimestrais. Não faltam exemplos de remunerações generosas para alguns felizardos, cuja experiência prévia para ocupar essas funções tem sido dispensável.

Os titulares do Ministério da Igualdade Racial, Anielle Franco, e da Controladoria-Geral da União, Vinicius Marques de Carvalho, ganham, além dos salários como ministros, aos menos R$ 39 mil por mês como conselheiros da Tupy, metalúrgica da qual o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é acionista. Carvalho também integra o Conselho Fiscal da Brasilcap, empresa de capitalização da BB Seguros, e chega a receber R$ 83 mil mensais.

Geridas por sindicatos patronais e de trabalhadores em parceria com o governo federal, as entidades do Sistema S também abrigam ministros em seus conselhos. Fazem parte do Conselho Fiscal do Serviço Social do Comércio (Sesc) os ministros do Trabalho, Luiz Marinho, e da Saúde, Alexandre Padilha, com pagamento de mais de R$ 28 mil mensais, enquanto o ministro da Educação, Camilo Santana, ocupa o mesmo cargo no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e recebe R$ 21 mil por mês.

O Conselho de Administração de Itaipu, usina binacional cuja administração é dividida entre Brasil e Paraguai, paga cerca de R$ 34 mil aos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, da Casa Civil, Rui Costa, de Minas e Energia, Alexandre Silveira, da Gestão, Esther Dweck, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira.

Vagas em conselhos também contemplam aliados do Congresso. Na PPSA, criada para gerir os contratos de exploração do petróleo do pré-sal, o Ministério de Minas e Energia cedeu espaço para indicados do atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e de seu antecessor no cargo, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Essa farra não vem de hoje, nem está restrita a governos lulopetistas. A Lei das Estatais impôs alguns limites à distribuição desses cargos, mas suas balizas têm sido desrespeitadas desde a administração Jair Bolsonaro, que usava esses cargos para beneficiar seus próprios aliados, entre eles membros do alto escalão das Forças Armadas.

É preciso recordar o contexto em que a Lei das Estatais foi aprovada, em 2016. Empresas como Petrobras e Eletrobras registravam prejuízos bilionários e perda de valor brutal em meio a denúncias relacionadas à Operação Lava Jato, investimentos com retorno questionável e endividamento recorde.

Ao criar regras claras e rígidas para impedir o loteamento político de cargos de conselho e diretoria entre ministros, secretários-executivos, parlamentares e dirigentes sindicais, o Congresso viu na aprovação da lei uma forma de reforçar a governança e profissionalizar a gestão de empresas que estiveram à beira da bancarrota. Sem reconhecer sua responsabilidade nessa tragédia, o PT sempre viu nessa legislação a criminalização da política.

Sem maioria para alterar a lei no Congresso nem argumentos para derrubá-la de maneira definitiva no Supremo Tribunal Federal, o governo tem contado com a condescendência dos demais Poderes para encontrar brechas e driblar seus dispositivos. Para justificar a boquinha, até mesmo a falta de qualificação dos indicados aos conselhos é mencionada como um atributo positivo, pois garante “pluralidade” aos colegiados, o que só comprova a dificuldade de preservar marcos jurídicos relevantes para o País.

A inteligência contra o crime

O Estado de S. Paulo

Articulação, dados e tecnologia fazem violência despencar no RS, em exemplo para o País

A população do Rio Grande do Sul tem motivos para comemorar as estatísticas da criminalidade. Implementado há seis anos pelo governador Eduardo Leite (PSDB), o programa RS Seguro é um exemplo de política pública baseada em evidências. Em pouco tempo, o Estado registrou queda de 49% dos homicídios (de 3,3 mil, em 2017, para 1,7 mil, em 2024), de 87% dos roubos de veículos (de 17,8 mil para 2,2 mil) e de 78% dos roubos de pedestres (de 67,4 mil para 15,1 mil).

Os crimes caíram no Estado em virtude de planejamento estratégico com base em dados, como o uso de instrumentos de geolocalização do crime e de inteligência artificial. Um dos passos também foi dado na direção da integração das Polícias Civil e Militar. Um sistema de dados permite a essas corporações acompanharem as tendências da criminalidade em localidades consideradas prioritárias, e essas escolhas não são aleatórias. São monitorados 23 municípios, que, com apenas 44% da população do Estado, concentravam 72% dos crimes violentos contra pessoas e 90% dos roubos a pedestres e de veículos.

Além disso, as autoridades públicas, como juízes, promotores, delegados, policiais e guardas municipais, passaram a compartilhar informações – ou seja, recorreu-se à inteligência. Para avaliar a evolução do programa, foram criados indicadores locais e estaduais, e, com esses dados, é possível focar nas ações e eventualmente corrigir a rota.

O governo gaúcho também investiu em tecnologia para aprimorar a perícia e, assim, chegar à solução dos crimes. E enquanto há quem questione a eficácia das câmeras policiais, Leite comprou mil aparelhos para suas tropas, e todos os seis batalhões da Brigada Militar em Porto Alegre fazem uso do equipamento, com impacto positivo no número de apreensões de drogas e armas, além de menor ocorrência do crime de desacato.

Ninguém poderá alegar que o governo gaúcho é leniente com o crime organizado. Quando há execuções cometidas por integrantes das facções locais, operações de saturação são realizadas na área do crime e também na região onde os bandos tiveram origem. Além disso, um presídio de segurança máxima foi construído para evitar transferências dos líderes locais para presídios federais onde potencialmente poderiam ter contato com membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) ou Comando Vermelho (CV). Faz sentido a precaução, haja vista que as duas maiores facções do País são minoritárias no Estado.

Por tudo isso, o RS Seguro recebeu elogios de especialistas em segurança pública. E, segundo recente pesquisa da Quaest, 62% dos gaúchos aprovam a gestão Leite. Enquanto isso, de acordo com o mesmo instituto de pesquisa, a violência é hoje a maior preocupação dos brasileiros, que, a depender de onde vivem, seja num Estado governado seja pela direita, seja pela esquerda, veem-se cada vez mais amedrontados. O RS Seguro apresenta uma receita que pode ser seguida por gestores que queiram resolver o problema. Está claro que entre os ingredientes não estão a truculência, a demagogia e o populismo.

Desafio criminoso precisa de resposta rápida

O Povo

É preciso identificar executores e mandantes do assassinato do empresário Vinícius Cunha Batista, para fazer justiça e evitar o sentimento de impunidade

Mesmo com as providências anunciadas pelo governador Elmano de Freitas (PT) com o objetivo de aumentar a segurança pública, a ousadia dos criminosos parece não ter limites, desmoralizando as iniciativas oficiais para conter a delinquência. Um caso recente demonstra a audácia do banditismo, que age confiante na impunidade.

O empresário Vinícius Cunha Batista, 47 anos, foi assassinado na quarta-feira, pela manhã, quando saía de uma padaria, em local bastante movimentado no bairro Luciano Cavalcante, em Fortaleza. Ele foi atacado a tiros por dois homens, que fugiram em uma moto. Registrado como homicídio doloso, o crime tem todas as características de execução.

Vinícius era proprietário do Sistema Uirapuru de Comunicação, do qual faz parte uma emissora de rádio, que transmite para o Vale do Jaguaribe. O grupo tem sede nas cidades de Morada Nova e Limoeiro do Norte.

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) está investigando o caso, mas até agora não há informações sobre a prisão de suspeitos ou qual foi a motivação do crime. Não é a primeira vez que execuções de comunicadores acontecem no Ceará, sem que os crimes sejam esclarecidos completamente ou cheguem aos mandantes.

Em 2003, Nicanor Linhares foi assassinado a tiros no estúdio da rádio Vale do Jaguaribe, em Limoeiro do Norte, quando gravava o programa "Encontro Político". Radialista e pré-candidato a vereador do município de Pereiro, Francisco Euzo de Lima Filho foi executado à bala, em 2012. Givanildo Oliveira, dono do portal de notícias Pirambu News, foi morto com disparos na cabeça, em 2022, quando transitava pela avenida Doutor Theberge, via movimentada de Fortaleza.

Portanto, a tarefa das autoridades é dar resposta rápida a esse novo crime, levando à identificação dos executores e dos mandantes, o que sempre é mais difícil, porém fundamental para a justiça ser feita, evitando o sentimento de impunidade que acompanha os casos mal resolvidos.

A propósito, a edição de ontem deste jornal traz uma reportagem mostrando que um levantamento da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) mostra que 342 homicídios registrados na Região Metropolitana de Fortaleza, desde 2022, foram cometidos com armas de fogo já usadas em outros crimes. Pelo menos 40 armas foram verificadas como "reincidentes". Essa informação é importante para as investigações, pois permite rastreamento e interceptação de armamento usado em crimes.

A pesquisa revela como a inteligência é a melhor saída para o combate ao crime. E também a importância da integração dos bancos de dados das polícias e da implementação do Sistema Único de Segurança Pública (Susp). Essas e outras medidas estão previstas na PEC da Segurança Pública enviada ao Congresso pelo ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, cuja aprovação é urgente.

Em defesa da liberdade de imprensa

Correio Braziliense

O 3 de maio é a data para celebrar os princípios fundamentais da liberdade de imprensa; avaliar o seu exercício em todo o mundo; e prestar homenagem aos jornalistas que perderam a vida no exercício da profissão

Comemoramos neste sábado, 3 de maio, o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1993. Essa iniciativa foi uma resposta a um apelo de jornalistas africanos que produziram a histórica Declaração de Windhoek para o Desenvolvimento de uma Imprensa Livre, Independente e Pluralista, em um seminário da Unesco realizado em Windhoek, capital da Namíbia, de 29 de abril a 3 de maio de 1991.

Desde então, o 3 de maio é a data para celebrar os princípios fundamentais da liberdade de imprensa; avaliar o seu exercício em todo o mundo; defender os profissionais de comunicação contra ataques à sua independência; e prestar homenagem aos jornalistas que perderam a vida no exercício da profissão, como está acontecendo em Gaza, onde 176 jornalistas foram mortos; e na Ucrânia, onde 121 profissionais tombaram durante o conflito, como milhares de outros civis.

Desde a invenção do tipo móvel por Gutenberg, no século 15, nunca houve uma revolução na comunicação da envergadura da que estamos vivendo hoje, mesmo considerando o advento dos meios de comunicação de massa, com as modernas impressoras rotativas, o rádio e a televisão no século passado. A internet e a invenção do hiperlink revolucionaram o acesso à informação, possibilitaram a comunicação não linear e interativa e permitiram a navegação virtual em rede e a organização descentralizada do conhecimento. Mudaram profundamente o modo como a humanidade organiza, acessa e interpreta o conhecimento.

Contra as expectativas de que essa revolução possibilitaria um enorme e irreversível avanço democrático e civilizatório, porém, múltiplas crises políticas, conflitos ideológicos e religiosos e guerras no mundo não só perpetuaram como potencializam as velhas ameaças à liberdade de imprensa, o assassinato dos jornalistas e os ataques à liberdade de expressão, bem como aos demais direitos humanos. Por isso, a importância de lembrar o dia de hoje. "A liberdade de expressão é a base da liberdade de imprensa, que é o direito de a sociedade ser informada livremente, muito antes de ser uma liberdade para a imprensa", destaca o presidente-executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ),o  jornalista Marcelo Rech.

Nesse contexto, os principais jornais brasileiros participam, neste sábado, de duas campanhas alusivas ao Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Ambas as iniciativas têm o apoio da  ANJ, que reúne os veículos brasileiros, entre os quais os jornais, rádios, emissoras de tevê e plataformas digitais do Grupo Diários Associados; da World Association of Newspapers and News Publishers (WAN-IFRA) e da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol). 

Promovida pela Associação Colombiana de Meios de Informação (AMI), a primeira iniciativa destaca que, infelizmente, 70% dos governos impõem restrições à prática jornalística. A segunda mobilização envolve peças produzidas pela Unesco cujo tema central chama a atenção para o fato de que "sem jornalismo, a realidade fica incompleta" e está integrada a uma série de eventos pautados pelo tema "O impacto da Inteligência Artificial na Liberdade de Imprensa e na Mídia". 

A IA transforma o jornalismo, ao oferecer ferramentas que aprimoram o trabalho investigativo, a criação de conteúdo e a checagem de fatos, mas, ao mesmo tempo, por falta de regulamentação, é utilizada para a propagação de fake news, a disseminação do ódio e do preconceito e discriminações de toda ordem, sobretudo étnicas e de gênero. Diante desse cenário, comprometida com a busca da verdade, a defesa das liberdades e da ordem democrática, a imprensa tem um grande papel a cumprir no Brasil e no mundo.

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