Folha de S. Paulo
Do ponto de vista de um ateu, Igreja Católica
é valiosa por seus aspectos museológicos
Já que está todo mundo especulando sobre o conclave, também vou dar o meu pitaco. Não tenho fontes no Vaticano nem acompanho de perto a política dos cardeais, de modo que o leitor não encontrará aqui mais do que impressões. E impressões bem particulares, já que quem escreve é um ateu sem nenhum vínculo com nenhuma das religiões existentes e nenhum interesse na disputa que elas travam pelas almas dos fiéis.
Apesar de ateu, não sou insensível às belezas
artísticas que foram realizadas sob inspiração religiosa. Não há como não
maravilhar-se ao entrar na Capela Sistina, ou em várias outras salas dos museus
do Vaticano. Algo parecido vale para o canto gregoriano. Não é música para
ouvir todo dia, o dia inteiro, mas não há como ficar inerte diante de um
"Kýrie" bem cantado.
Vou um pouco mais longe. É preciso também
reconhecer os méritos da Igreja Católica na criação das primeiras
universidades. É claro que no século 11 ninguém podia prever que elas se
tornariam núcleos de produção de ciência, cujo paradigma materialista às vezes
se choca com os ensinamentos da igreja. A tensão é real, mas de maneira nenhuma
um fosso intransponível como sugerem certas narrativas forjadas no início do
século 20. O desejo dos clérigos medievais de criar centros de estudo para
ampliar o saber era autêntico.
Como o leitor já deve ter percebido, meu
interesse pela Igreja Católica é essencialmente museológico. Nessa linha,
gostaria de ver um papa "conservador" o bastante para reintroduzir a
missa tridentina, em latim. Não sei como isso impactaria no arrebanhamento de
fiéis, se é que impactaria, mas, como já disse, não é problema meu.
A volta do latim é a única coisa que me
deixaria tentado a ficar para a missa, em vez de apenas apreciar a arquitetura
e os vitrais das catedrais que visito e ir embora. É claro que, ainda assim, eu
me queixaria ao papa da horrenda pronúncia eclesiástica dos padres, que imprime
um sotaque italiano ao latim, corrompendo a pureza fonológica do idioma de
Cícero.
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