O Estado de S. Paulo
Haddad saiu em férias. Não sem fantasiar
sobre a imprensa e o que se chama de mercado. O governo Lula seria objeto de
críticas jamais dirigidas a seu antecessor. É falso. Dois episódios bastariam
para desmontar o vitimismo. As reações de quem faz as manchetes e os preços às
PECs dos Precatórios e Kamikaze.
O jornalismo foi duríssimo com Bolsonaro e
Guedes, que celebraram superávit depois de dar calote em dívida. E implacável
quando, em 2022, dispararam medidas assistencialistas para financiar a
tentativa de reeleição do presidente. Espero que você se lembre de para onde
foram os juros, em pleno ano eleitoral, ante aquela barbaridade.
Haddad é ingrato. Imprensa e mercado ignoraram o que expressava a PEC da Transição – compromisso com a gastança – e acreditaram na navegabilidade da canoa arrombada conhecida por arcabouço fiscal. Só tomaram algum contato com a realidade por ocasião do pacotinho de gambiarras do final de 2024.
O influente bloco que Haddad pôs na rua
abarca campanha segundo a qual ele trabalharia por justiça tributária. É como
se chama hoje o exercício de girar a roleta e esperar – com a convicção
possível à combinação entre sorte e desespero – o ponteiro indicar qual imposto
terá a alíquota aumentada.
Não pode um? Será qualquer outro. Isso porque
a Fazenda estudou a mordida do IOF – a que estabelecia o controle de capitais –
por mais de ano. A turma estuda – e arremessa os dados. Se colar, colou.
Pode ser até ação justa, como a que tributa
as casas de aposta adicionalmente. Atirando para todos os lados, até se arrisca
acertar aqui e acolá. A questão sendo por que até se acerta. Porque se
instrumentaliza o razoável num catadão arrecadador para fins de tapar o
rombinho da vez.
Carga sobre os ricos, diz a propaganda – com
a qual arcarão pobres e remediados, informa a prática. Haddad raspa o tacho.
Justiça tributária feita no improviso, empilhando puxadinhos, para cobrir
Orçamento mentiroso. Fachada ao propósito de levantar dinheiros, fechar a conta
de 2025 e rolar a bomba – que a turma engorda enquanto empurra – até 2026, o
que significaria jogá-la para 2027.
O ano eleitoral será o do vale-tudo. Para
chegar lá e ter sua PEC Kamikaze, o governo nomeia por justiça tributária o
gato de soltar um pacotinho fiscal a cada seis meses. Sempre com a promessa de
soluções estruturais – que nunca vêm. É como – via jeitinhos para efeito agora
– o ministro apregoa estar “corrigindo distorções”.
Corrige distorções distorcendo a verdade. E
então a PEC da Transição – que derramaria mais de R$ 150 bilhões na economia –
veio para pagar gastos contratados por Bolsonaro. É falso. O rombo legado pelo
antecessor fora a plataforma a partir da qual se obteve o cheque para botar o
voo de galinha do crescimento no ar, PIB insustentável erguido à base de
estímulos estatais, aposta no endividamento público que o governo Lula já
dobrou.
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