terça-feira, 17 de junho de 2025

Haddad viajando - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Haddad saiu em férias. Não sem fantasiar sobre a imprensa e o que se chama de mercado. O governo Lula seria objeto de críticas jamais dirigidas a seu antecessor. É falso. Dois episódios bastariam para desmontar o vitimismo. As reações de quem faz as manchetes e os preços às PECs dos Precatórios e Kamikaze.

O jornalismo foi duríssimo com Bolsonaro e Guedes, que celebraram superávit depois de dar calote em dívida. E implacável quando, em 2022, dispararam medidas assistencialistas para financiar a tentativa de reeleição do presidente. Espero que você se lembre de para onde foram os juros, em pleno ano eleitoral, ante aquela barbaridade.

Haddad é ingrato. Imprensa e mercado ignoraram o que expressava a PEC da Transição – compromisso com a gastança – e acreditaram na navegabilidade da canoa arrombada conhecida por arcabouço fiscal. Só tomaram algum contato com a realidade por ocasião do pacotinho de gambiarras do final de 2024.

O influente bloco que Haddad pôs na rua abarca campanha segundo a qual ele trabalharia por justiça tributária. É como se chama hoje o exercício de girar a roleta e esperar – com a convicção possível à combinação entre sorte e desespero – o ponteiro indicar qual imposto terá a alíquota aumentada.

Não pode um? Será qualquer outro. Isso porque a Fazenda estudou a mordida do IOF – a que estabelecia o controle de capitais – por mais de ano. A turma estuda – e arremessa os dados. Se colar, colou.

Pode ser até ação justa, como a que tributa as casas de aposta adicionalmente. Atirando para todos os lados, até se arrisca acertar aqui e acolá. A questão sendo por que até se acerta. Porque se instrumentaliza o razoável num catadão arrecadador para fins de tapar o rombinho da vez.

Carga sobre os ricos, diz a propaganda – com a qual arcarão pobres e remediados, informa a prática. Haddad raspa o tacho. Justiça tributária feita no improviso, empilhando puxadinhos, para cobrir Orçamento mentiroso. Fachada ao propósito de levantar dinheiros, fechar a conta de 2025 e rolar a bomba – que a turma engorda enquanto empurra – até 2026, o que significaria jogá-la para 2027.

O ano eleitoral será o do vale-tudo. Para chegar lá e ter sua PEC Kamikaze, o governo nomeia por justiça tributária o gato de soltar um pacotinho fiscal a cada seis meses. Sempre com a promessa de soluções estruturais – que nunca vêm. É como – via jeitinhos para efeito agora – o ministro apregoa estar “corrigindo distorções”.

Corrige distorções distorcendo a verdade. E então a PEC da Transição – que derramaria mais de R$ 150 bilhões na economia – veio para pagar gastos contratados por Bolsonaro. É falso. O rombo legado pelo antecessor fora a plataforma a partir da qual se obteve o cheque para botar o voo de galinha do crescimento no ar, PIB insustentável erguido à base de estímulos estatais, aposta no endividamento público que o governo Lula já dobrou.

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