terça-feira, 17 de junho de 2025

Pesquisas não foram gentis com Lula - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Sondagens mostram quadro pouco favorável ao governo; espectro de Bolsonaro segue assombrando a direita

última leva de pesquisas não foi gentil com Lula e o governo. A gestão é mal avaliada, e o presidente, embora ainda lidere nas simulações de primeiro turno, aparece em situação de empate técnico com os principais concorrentes num segundo escrutínio.

Ainda falta mais de um ano para o pleito, observará o leitor escolado. Em política, é tempo de sobra para dar a volta por cima e até para dar a volta por cima e cair de novo. Verdade. Mas as últimas cartadas do governo não devem ter tranquilizado nem os petistas mais confiantes.

Lula não parece ter um projeto claro para guiá-lo nem no que resta desta gestão e muito menos para seduzir o eleitor para um quarto mandato. A administração reage mal às crises em que se vê envolvida e, nas redes sociais, tem levado surras. No Congresso a situação não é melhor. O centrão manda e desmanda, e o governo não parece capaz nem de manter acordos por mais do que algumas horas.

Se esse quadro perdurar pelos próximos meses, podemos nos perguntar se Lula será mesmo candidato. Não há dúvida de que ele representa a melhor, se não a única, chance de a esquerda conservar a Presidência.

Mas, se o cheiro de derrota estiver forte, penso que o próprio Lula relutará em fechar sua biografia perdendo para um preposto de Jair Bolsonaro. Com 80 anos, não seria difícil fabricar uma saída honrosa para não disputar.

Do lado da direita, como já escrevi aqui, a estratégia lógica seria se livrar do extremismo de Bolsonaro para não espantar o eleitor moderado, que talvez seja decisivo num segundo turno. Isso até seria possível se o ex-presidente terminasse 2025 não apenas preso mas também politicamente esvaziado.

Meu receio, porém, é que, mesmo encarcerado, ele ainda conserve força eleitoral. Talvez a ponto de impor alguém de sobrenome Bolsonaro, como titular ou vice, à chapa direitista e comprometer o candidato com um indulto.

Desolador? Sim, mas quem busca razões para otimismo sempre pode olhar para o mundo como um todo e verificar que há países em situação ainda pior.

 

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