Folha de S. Paulo
Sondagens mostram quadro pouco favorável ao
governo; espectro de Bolsonaro segue assombrando a direita
A última leva de
pesquisas não foi gentil com Lula e o
governo. A gestão é mal avaliada, e o presidente, embora ainda lidere nas
simulações de primeiro turno, aparece em situação de empate técnico com os
principais concorrentes num segundo escrutínio.
Ainda falta mais de um ano para o pleito, observará o leitor escolado. Em política, é tempo de sobra para dar a volta por cima e até para dar a volta por cima e cair de novo. Verdade. Mas as últimas cartadas do governo não devem ter tranquilizado nem os petistas mais confiantes.
Lula não parece ter um projeto claro para
guiá-lo nem no que resta desta gestão e muito menos para seduzir o eleitor para
um quarto mandato. A administração reage mal às crises em que se vê envolvida
e, nas redes sociais, tem levado surras. No Congresso a
situação não é melhor. O centrão manda e desmanda, e o governo não parece capaz
nem de manter acordos por mais do que algumas horas.
Se esse quadro perdurar pelos próximos meses,
podemos nos perguntar se Lula será mesmo candidato. Não há dúvida de que ele
representa a melhor, se não a única, chance de a esquerda conservar a
Presidência.
Mas, se o cheiro de derrota estiver forte,
penso que o próprio Lula relutará em fechar sua biografia perdendo para um
preposto de Jair
Bolsonaro. Com 80 anos, não seria difícil fabricar uma saída honrosa para
não disputar.
Do lado da direita, como já escrevi aqui,
a estratégia lógica seria se livrar do extremismo de Bolsonaro para não
espantar o eleitor moderado, que talvez seja decisivo num segundo turno. Isso
até seria possível se o ex-presidente terminasse 2025 não apenas preso mas
também politicamente esvaziado.
Meu receio, porém, é que, mesmo encarcerado,
ele ainda conserve força eleitoral. Talvez a ponto de impor alguém de
sobrenome Bolsonaro, como titular ou vice, à chapa direitista e comprometer
o candidato com um indulto.
Desolador? Sim, mas quem busca razões para
otimismo sempre pode olhar para o mundo como um todo e verificar que há países
em situação ainda pior.
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