domingo, 15 de junho de 2025

O bombardeio e seu impacto - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

O acirramento das hostilidades entre Israel e Irã impõe desdobramentos não apenas sobre a geopolítica local, mas, também, sobre a economia global.

As questões geopolíticas ainda dependem de como o conflito evoluirá e isso, por sua vez, dependerá do tempo e de como os objetivos militares e políticos das partes direta e indiretamente envolvidas forem atingidos. O Irã é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear, ou seja, está sujeito a inspeções da Organização das Nações Unidas, que o governo iraniano vem sabotando por negar transparência em seus programas de desenvolvimento nuclear.

Uma das leituras do que começou a acontecer é a de que Israel dedica-se, agora, a prestar novo serviço aos Estados Unidos, que é o de forçar o Irã a assinar o acordo nuclear proposto pelo presidente Trump. Essa prestação de serviço por Israel pode ter outra contrapartida: a de garantir a continuidade dos ataques em Gaza e, dessa maneira, a manutenção do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu no poder – apesar do aumento da oposição a ele no Knesset, o parlamento de Israel, e na sociedade civil.

O maior risco geopolítico é o de que esse novo foco de conflagração acabe por envolver diretamente os demais países do Oriente Médio e, assim, estender as hostilidades para o campo regional, com amplo impacto internacional.

O desdobramento econômico imediato pode ater-se à área de energia, uma vez que o Oriente Médio continua sendo um dos mais importantes centros de produção e de exportação de petróleo e de gás. Na última sexta-feira, o barril (156 litros) do petróleo tipo Brent, negociado para agosto, fechou com alta de 7%, a US$ 74,23. No acumulado do mês, o preço do Brent disparou 18,9%.

O bombardeio do Irã por Israel pegou o mercado global de petróleo com estoques relativamente baixos, dado o aparentemente bom andamento das conversações comerciais entre Estados Unidos e China. A evolução futura das cotações dependerá da disposição do cartel da Opep de continuar a aumentar a produção e as vendas. Não está claro quanto esse aumento do custo dos combustíveis e da energia elétrica acabará por aumentar a inflação no mundo e no Brasil.

De todo modo, os grandes bancos centrais terão de levar esse fator em conta na definição das suas políticas de juros.

Outro desdobramento está na indústria e comércio de armas e equipamentos militares. A Europa e o Japão já vinham sendo empurrados pelos Estados Unidos ao aumento dos seus orçamentos para Defesa. A Guerra na Ucrânia atiçou o desenvolvimento de novas armas, como os drones, que agora vêm sendo mais amplamente testados e passaram a exigir novas tecnologias de detecção e destruição pelas potências atacadas.

Se já eram muitas, as incertezas na economia global ganham novo impulso, especialmente no curto prazo, quando não se conhecem a extensão e a duração desse novo conflito.

 

Nenhum comentário: