O Estado de S. Paulo
O acirramento das hostilidades entre Israel e
Irã impõe desdobramentos não apenas sobre a geopolítica local, mas, também,
sobre a economia global.
As questões geopolíticas ainda dependem de como o conflito evoluirá e isso, por sua vez, dependerá do tempo e de como os objetivos militares e políticos das partes direta e indiretamente envolvidas forem atingidos. O Irã é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear, ou seja, está sujeito a inspeções da Organização das Nações Unidas, que o governo iraniano vem sabotando por negar transparência em seus programas de desenvolvimento nuclear.
Uma das leituras do que começou a acontecer é
a de que Israel dedica-se, agora, a prestar novo serviço aos Estados Unidos,
que é o de forçar o Irã a assinar o acordo nuclear proposto pelo presidente
Trump. Essa prestação de serviço por Israel pode ter outra contrapartida: a de
garantir a continuidade dos ataques em Gaza e, dessa maneira, a manutenção do
primeiro-ministro Binyamin Netanyahu no poder – apesar do aumento da oposição a
ele no Knesset, o parlamento de Israel, e na sociedade civil.
O maior risco geopolítico é o de que esse
novo foco de conflagração acabe por envolver diretamente os demais países do
Oriente Médio e, assim, estender as hostilidades para o campo regional, com
amplo impacto internacional.
O desdobramento econômico imediato pode
ater-se à área de energia, uma vez que o Oriente Médio continua sendo um dos
mais importantes centros de produção e de exportação de petróleo e de gás. Na
última sexta-feira, o barril (156 litros) do petróleo tipo Brent, negociado
para agosto, fechou com alta de 7%, a US$ 74,23. No acumulado do mês, o preço
do Brent disparou 18,9%.
O bombardeio do Irã por Israel pegou o
mercado global de petróleo com estoques relativamente baixos, dado o
aparentemente bom andamento das conversações comerciais entre Estados Unidos e
China. A evolução futura das cotações dependerá da disposição do cartel da Opep
de continuar a aumentar a produção e as vendas. Não está claro quanto esse
aumento do custo dos combustíveis e da energia elétrica acabará por aumentar a
inflação no mundo e no Brasil.
De todo modo, os grandes bancos centrais
terão de levar esse fator em conta na definição das suas políticas de juros.
Outro desdobramento está na indústria e
comércio de armas e equipamentos militares. A Europa e o Japão já vinham sendo
empurrados pelos Estados Unidos ao aumento dos seus orçamentos para Defesa. A
Guerra na Ucrânia atiçou o desenvolvimento de novas armas, como os drones, que
agora vêm sendo mais amplamente testados e passaram a exigir novas tecnologias
de detecção e destruição pelas potências atacadas.
Se já eram muitas, as incertezas na economia
global ganham novo impulso, especialmente no curto prazo, quando não se
conhecem a extensão e a duração desse novo conflito.
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