O Globo
A mais recente pesquisa do DataFolha confirma o que a classe política deduz na labuta cotidiana atrás de votos: a salvação do presidente Lula está na insistência de Bolsonaro em colocar seu sobrenome na chapa presidencial da oposição. Não qualquer um, mas um dos dois, Flávio ou Eduardo. Nem mesmo a mulher Michele, que aparece como a melhor colocada da oposição na pesquisa presidencial, que poderia ser identificada corretamente como “a mulher do Bolsonaro”, diferentemente de Dilma, que era conhecida em certas regiões do país como “a mulher do Lula”, fazendo confusão com a candidata indicada por Lula.
De qualquer maneira, são menções do marketing
político que funcionam em certos nichos eleitorais, embora possam interferir
negativamente em outros. A insistência em manter seu nome na chapa até o último
momento, para indicar seu vice para substituí-lo no derradeiro prazo da
impugnação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), indica que Bolsonaro, assim
como Lula em 2018, não quer vencer a eleição, mas sim manter seu nome em
evidência para uma eventual retomada da candidatura mais adiante.
Como a pesquisa indica, o candidato mais
viável para a direita é o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, mas
Bolsonaro continua inclinado a ignorar os fatos para manter sua predominância
na direita. Os demais governadores parecem não ter força eleitoral, pelo
momento, para enfrentar a esquerda unida. Mas a possibilidade de que Lula possa
perder no segundo turno para o candidato da direita unida parece provável, pois
pesquisas da Quaest mostram que Lula empataria com todos eles num segundo
turno.
Os governadores, nesses casos, têm maior
probabilidade de vitória do que os filhos de Bolsonaro. Os dois não demonstram,
até agora, capacidade de unir a direita em torno deles. Dos governadores que
ambicionam a presidência, o que se mostra mais disposto a se submeter a
Bolsonaro é o de Minas Gerais, Romeu Zema, que tem se especializado nos últimos
dias em frases escalafobéticas, como dizer que não sabe se houve ou não
ditadura militar no Brasil, ou que não houve tentativa de golpe por parte de
Bolsonaro.
A popularidade do presidente Lula está
frágil, qualquer coisa o abala. O caso da aposentadoria do INSS é um escândalo
de grandes proporções e cria a percepção no eleitorado de que a acusação que o
governo dele é corrupto, como reafirmam a cada instante os bolsonaristas, tem
um fundo de verdade, porque volta e meia estoura um escândalo de corrupção.
Fica difícil ele se recuperar porque não toma nenhuma providência, nenhuma
atitude para refutar. Foi uma dificuldade para tirar o ministro Carlos Lupi,
devido ao apoio do PDT, que acabou sendo perdido. Como está fragilizado
politicamente em termos de apoio partidário, Lula não pode assumir uma atitude
mais agressiva, que induza à crença de que não concorda com o que está
acontecendo.
Fez isso no mensalão, quando o Supremo
Tribunal Federal (STF) não tinha ainda força política para acusá-lo de ser o
chefe do esquema, e deu certo eleitoralmente, conseguiu se reeleger. Mas agora
o cenário mudou. A vida de Lula vai ficar difícil, porque, para recuperar
popularidade, não basta mais um bom papo, que, aliás, já foi melhor. Agora está
apelando, como no caso da seca no Nordeste, quando disse que Deus não colocou
água na região porque sabia que Lula o faria. Coisa de líder populista
decadente, fora de propósito, que não tem mais graça. Já não cola dizer que é o
“salvador da pátria”. Caminha para um final de governo muito mal avaliado. E
talvez nem se candidate à reeleição, do jeito que a coisa vai. A não ser que o
sobrenome Bolsonaro venha em seu auxílio.
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