domingo, 15 de junho de 2025

Muito gasto, pouca serventia - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Urgência fiscal: corte de supersalários, privilégios e 50% das emendas. Fim de papo

Afinal de contas, a Câmara e o Senado são ou não a favor do arcabouço fiscal, de menos gastos e mais receitas, de uma economia que gere confiança e atraia investimentos? E dos interesses públicos, em geral, da segurança, do bem-estar e do futuro do distintíssimo público que garantiu os votos e a vitória de seus 513 membros do salão verde e dos 81 do salão azul?

Seus presidentes, deputado Hugo Motta e senador Davi Alcolumbre, juram que sim, que são baluarte da defesa dos interesses nacionais e do controle das contas públicas e aliados do governo nessa direção. Só que...põem a faca no pescoço do presidente Lula e do ministro Fernando Haddad, derrubam uma proposta atrás da outra e não apresentam absolutamente nada em troca. Só sabem dizer “não” – e aumentar os próprios gastos.

Ok, todo mundo tem arrepios ao ouvir falar em aumento de impostos e lembra de Haddad, uma, duas, mil vezes se comprometendo a não fazer isso. Mas que tal o Congresso finalmente enfrentar o problema, inclusive combatendo os supersalários, inconstitucionais e imorais, e cortando na própria carne e nas próprias emendas de valor estratosférico?

Um bom começo seria suas excelências trabalharem, porque, até agora, só se viu, ouviu e condenou muito tititi, briguinha política, uso de comissões para perseguir adversários, defesa corporativista de réus e condenados pela Justiça, jogo sujo contra o Supremo, muxoxos contra o Executivo...

Tudo isso ilustrado com cenas lamentáveis de marmanjos destratando a ministra Marina Silva ou de novatos (alçados a deputados federais por blogs e redes sociais) inviabilizando um debate sério sobre a questão fiscal para captar uns minutos de vídeos e editá-los ao gosto dos imbecis de internet.

O momento mundial é grave, mas o Congresso não se comove, nem se move, com a geopolítica, o papel do Brasil ou urgências domésticas. E a internet e a responsabilidade das plataformas por conteúdos nocivos? E o pacote da segurança, para melhor sintonia entre governo federal e Estados no combate ao crime organizado e à violência?

Ao votar urgência para votar, ou melhor, derrubar a MP fiscal que Haddad apresentou para neutralizar a lambança do IOF, a Câmara fica na obrigação de contrapor soluções, mas age na direção oposta: defende aumento do número de deputados e que parlamentares estourem o teto constitucional, acumulando salários e aposentadorias.

PT e PL vivem em guerra, mas são irmãos siameses ao legislar em causa própria. Aliás, que tal reduzir o valor das emendas pela metade, quem sabe em 70%? Excelente ideia para a questão fiscal – e não só para ela.

 

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