O Estado de S. Paulo
Bibi prolonga a carnificina em Gaza para adiar o encontro com urnas e Justiça; fará o mesmo no Irã
A ofensiva de Israel contra o Irã sofre do
mesmo vício de origem que a campanha contra o Hamas na Faixa de Gaza: objetivos
maximalistas. Isso porque ela não se orienta apenas pela lógica militar e
interesses nacionais. A motivação política de Binyamin Netanyahu de se manter
no poder a qualquer custo é o principal fio condutor.
O primeiro-ministro israelense declarou ontem: “No futuro breve, vocês verão aviões israelenses, nossos bravos pilotos, sobre os céus de Teerã. Atacaremos todos os alvos do regime dos aiatolás”. Assim como fez em relação a Gaza, Netanyahu tem preparado a população para uma longa campanha.
Os ataques têm produzido danos na superfície
das instalações nucleares, com diversos graus de comprometimento das operações.
Os parques subterrâneos de centrífugas, onde o urânio é enriquecido, não estão
ao alcance dos mísseis israelenses. Seria necessário o emprego de grandes
bombas destruidoras de bunkers, que só os EUA possuem, e não há indícios de que
Donald Trump pretenda cedêlas a Israel.
O programa nuclear iraniano será retardado
pelos ataques israelenses. O regime, profundamente impopular, parecerá mais
vulnerável. Mas os ataques só provam para os iranianos a necessidade de obter
armas nucleares, assim como a tentativa de Netanyahu, odiado pelos iranianos,
de mobilizá-los para derrubar o regime tem o efeito contrário de uni-los contra
essa intervenção externa de uma potência nuclear que nega à força esse poderio
ao inimigo.
Israel tem boas razões, no campo estratégico,
de procurar barrar ou ao menos postergar a conversão do Irã em potência
nuclear. Desde a Revolução Islâmica de 1979, a teocracia iraniana tem
trabalhado para contestar a existência de Israel, que ocupa ilegalmente
Jerusalém, o terceiro lugar mais sagrado para o Islã.
Um dos maiores propulsores da parte
clandestina do programa nuclear iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, presidente entre
2005 e 2013, negava o Holocausto e flertava com a ideia de varrer Israel do
mapa. Assim, no imaginário israelense, com fundadas razões, o viés militar, não
assumido pelo regime, do programa iraniano, está associado a um Holocausto
nuclear. O apoio iraniano a grupos como Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica
Palestina e Houthis reforça essa percepção.
Mas, assim como tem prolongado a carnificina
em Gaza para adiar seu encontro com as urnas e com a Corte Suprema, na qual é
acusado de corrupção, Netanyahu também prolongará o atrito militar com o Irã.
Os objetivos inalcançáveis têm essa função. Nem Trump nem o eleitorado
israelense têm se mostrado capazes de detê-lo. Por isso, essa será uma longa
guerra.
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