sábado, 13 de janeiro de 2018

Opinião do dia: Fernando Gabeira

"A esquerda decide lançar todas as suas fichas na salvação do líder num momento em que a maioria está preocupada com a salvação do País. Essa energia concentrada em salvar Lula deixa de lado algumas questões vitais que ela teria de encarar num processo eleitoral.

Será difícil de afirmar que a corrupção é algo apenas do governo Temer, que conseguiu se equilibrar porque era o sócio menor no esquema descoberto pela Lava Jato. Será difícil de explicar como acabou com a pobreza e surgiram 52 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza apenas neste curto mandato de Temer. É como se 52 milhões de pessoas estivessem escondidas nos pântanos, nas selvas, favelas e sertões e tivessem aparecido apenas quando ouviram os gritos de “tchau, querida”.'

-------------------------
Fernando Gabeira é jornalista. “A compulsão de pedalar”, O Estado de S. Paulo, 12/1/2018.

Roberto Freire: A desfaçatez criminosa do PT

- Blog do Noblat

Como se não bastassem todo o desmantelo moral e a corrupção desenfreada que marcaram os governos de Lula e Dilma Rousseff, o lulopetismo tem como algumas de suas principais características a desfaçatez e o cinismo utilizados para a construção de narrativas falaciosas que distorcem a realidade e pretendem confundir a opinião pública. Isso se deu mais uma vez a partir do momento em que a Petrobras – vítima da roubalheira perpetrada nos 13 anos em que o PT governou o país – anunciou um acordo judicial com acionistas norte-americanos que investiram na empresa brasileira e tiveram perdas milionárias decorrentes do petrolão, o maior esquema de corrupção já praticado no Brasil e, talvez, no mundo.

O acordo foi feito justamente para que se encerrasse a ação coletiva movida pelos investidores americanos lesados pela patifaria petista. Ao todo, a estatal pagará US$ 2,95 bilhões (o equivalente a quase R$ 10 bilhões) em três parcelas, que terão início após a aprovação preliminar do juízo da Corte Federal de Nova York, onde tramita o processo. É evidente que se trata de um montante significativo, mas o acordo talvez possa ser até benéfico para a Petrobras diante da possibilidade de que um júri popular nos Estados Unidos arbitrasse uma soma ainda maior como indenização. Nesse caso, o prejuízo aos cofres da empresa, que já foi tão vilipendiada pela quadrilha que a assaltou nos últimos anos, certamente seria ainda maior.

O mais estupefaciente é a reação indecorosa e cínica de alguns próceres do lulopetismo, como a presidente nacional do PT e o líder do partido na Câmara dos Deputados, que vieram a público para atacar o acordo firmado pela Petrobras nos EUA e acusaram a Operação Lava Jato, vejam só, de praticar “o maior assalto da história da humanidade”. Seria cômico se não fosse trágico. Foi durante os governos petistas que a nossa maior empresa sofreu nas mãos de criminosos que a saquearam para atender aos objetivos políticos do PT e partidos aliados. Sob o comando de Pedro Parente, atual presidente da empresa, a Petrobras iniciou um caminho virtuoso de recuperação econômica, moral e da credibilidade perdida. Justamente aqueles que foram responsáveis por tamanho desmantelo agora vituperam contra as medidas necessárias levadas a cabo pela administração da estatal no sentido de superar o desastre provocado nos tempos de Lula.

Marco Aurélio Nogueira: A esquerda que não merecemos ter

- O Estado de S. Paulo

A mitificação corre solta, impulsionada por gente que se vangloria de ter uma inteligência superior, experiência política e boas intenções.

Do jeito que as coisas estão, não há como cogitar da afirmação de um competitivo campo de esquerda no Brasil.

Indo além: o movimento progressista está desnorteado, desarvorado, sem fibra.

A esquerda é um universo amplo, plural, integrado por muitas correntes, agregações e pessoas. Vai do liberalismo político democrático aos defensores do socialismo, de ambientalistas e ecologistas aos libertários, dos que lutam por direitos aos que querem igualdade e reconhecimento. É parte do progressismo, do reformismo, da democracia, ainda que nem sempre acerte os passos com tais plataformas.

Quando, porém, no Brasil, você para e olha, a impressão é que a esquerda se resume ao petismo, aos seguidores de Lula e aos correligionários do PT, com seus aliados, seus trânsfugas e seus satélites.

A simplificação mental é assustadora. Um mundo todo está acabando na política. Partidos e lideranças se desfazem por efeito das transformações estruturais do capitalismo e, no Brasil, dos desdobramentos da Lava-Jato e da crise do Estado e da política. Em vez de reconhecer isso, o esquerdismo prevalecente opta por vitimizar Lula e o PT: somente eles seriam “perseguidos”. Impeachment foi golpe, eleição sem Lula seria fraude, Lula estaria sendo condenado sem prova só para não poder se candidatar, a lawfare seria a adaga espetada em seu peito. Uma catilinária ilimitada.

Tudo isso é interpretado como expressão pura da esquerda, sem mais. Blogs, robôs, sites, mídia eletrônica organizam uma incansável campanha para ampliar o diagnóstico de que tudo só acontece porque a direita (jamais definida com clareza), os liberais, os socialistas democráticos, os partidos do sistema, decidiram atacar o PT e a esquerda, porque a Globo não gosta de Lula e quer dominar tudo, porque Sergio Moro é um partidário antipetista. Porque as elites resolveram sangrar a sociedade.

Estaria assim em marcha uma violenta guinada regressista, tradução brasileira do mesmo fenômeno que se veria no mundo. Direitos pisoteados, pobres sendo remetidos ao inferno da miséria, trabalhadores encurralados, superexplorados, tratados como animais, um cenário de horror. E, no meio dele, Lula e o PT lutando como verdadeiros patronos da Humanidade, que por eles, no mundo todo, torce apaixonadamente.

*Bolívar Lamounier: A quinta morte da democracia

- O Estado de S.Paulo

O fator preponderante nos retrocessos e rupturas é a falta de convicção das elites

Examinando as condições de atraso econômico e assustadora pobreza na virada do século 19 para o 20, Euclides da Cunha escreveu que o Brasil era um país “condenado à civilização”. Não tínhamos como ficar parados, nem como andar devagar. Precisávamos andar rápido e a direção só poderia ser a do progresso e da paciente edificação de instituições.

Adepto da filosofia positivista, à qual não faltava certo viés autoritário, Euclides não percebeu que uma parte do problema já estava encaminhada desde 1824. É mais que óbvio: insistir no absolutismo herdado do período colonial ou resvalar para o caudilhismo hispânico seria o caminho mais curto para recairmos na fragmentação e na desordem. O Estado constitucional e seu corolário, o sistema representativo de governo, amenizavam as tensões e delineavam um futuro – esse a que hoje denominamos democracia. Na última década daquele século, não fora o gênio de Rui Barbosa, é muito possível que tivéssemos sucumbido a um cenário extremamente destrutivo.

Num breve apanhado retrospectivo, podemos dizer que a morte da democracia representativa foi anunciada pelo menos cinco vezes desde o início da República, e apresso-me a esclarecer que os respectivos argumentos ocorreram em muitos países, inclusive no sul da Europa, e que não os subestimo: não é minha intenção caricaturá-los.

A primeira morte foi concebida como um caso de mortalidade infantil. Os mecanismos institucionais da democracia – eleições, partidos, parlamentos – não se conseguiriam “desprender” do poder privado dos fazendeiros, chefes e mestres da política de campanário. A proveniência desse argumento era basicamente protofascista, mas o próprio Sérgio Buarque de Holanda o situou entre as principais “raízes do Brasil”. Para os povos latinos, ele escreveu, é difícil imaginar normas gerais pairando sobre nossa cabeça. A hidra do passado colonial deglutiria as nascentes democracias tão facilmente como uma sucuri deglute um cachorrinho poodle.

Hélio Schwartsman: Semelhança suspeita

- Folha de S. Paulo

O que a ala mais radical do movimento feminista e o Escola Sem Partido têm em comum? Ambos idealizam um idílico mundo melhor e traçam o que lhes parece ser a linha mais reta entre seus objetivos e a realidade, sem se importar com mais nada.

Há decerto apelo na ideia de uma educação sem proselitismos, na qual os professores apenas informariam os alunos sobre a natureza das coisas, deixando que eles chegassem a suas próprias conclusões em relação a valores ideológicos, religiosos etc. De modo análogo, é difícil não aplaudir o projeto de uma sociedade na qual mulheres não tivessem de sujeitar-se a nenhum tipo de constrangimento, físico ou verbal.

O problema é que não dá para chegar a essas metas, no pressuposto de que elas sejam realizáveis, apenas baixando normas que proíbam os professores de agir como doutrinadores ou criando ambientes que banem cantadas e galanteios. Iniciativas assim, se implementadas ao pé da letra, inviabilizam outras liberdades importantes e também a própria comunicação entre pessoas. As fronteiras entre a explicação, que é a matéria-prima da atividade didática, e a persuasão, a ferramenta do doutrinador, são tudo menos claras.

Merval Pereira: Nem peixe nem carne

- O Globo

Com a confusão que está montada na recomposição do Ministério, cuja mais recente crise, e certamente não a última, é o caso da deputada Cristiane Brasil, que ainda não conseguiu assumir o Ministério do Trabalho por questões de “moralidade”, segundo o Judiciário, fica demonstrado que não temos um sistema de governo, e sim um simulacro de presidencialismo que o próprio presidente chama de “governo semiparlamentar”.

Cristiane Brasil pode ocupar um ministério dias antes da desincompatibilização porque não vai se candidatar à reeleição. Quer dizer, não temos nem presidencialismo nem parlamentarismo. Volta e meia surgem conversas, e até mesmo propostas, para reimplantar o parlamentarismo ou seu simulacro, o semipresidencialismo.

Enquanto não conseguimos sair do lugar na reforma político-eleitoral, vamos vivendo de acordo com as circunstâncias. Para reforçar a base parlamentar do presidente em dias de votações importantes, vários ministros (às vezes dez deles) são exonerados num dia, votam e voltam a seus lugares no Ministério.

João Domingos: A atração dos opostos

- O Estado de S.Paulo

Bolsonaro é um candidato reativo. Depende de Lula para se firmar entre os eleitores

Faltam dez meses para a eleição presidencial e o quadro ainda é muito confuso. Mas já é possível antecipar que o desempenho do deputado Jair Bolsonaro na eleição presidencial e dos candidatos do PT a governador, senador e deputado dependerá do ex-presidente Lula, mesmo que estejam, como estão, em posições tão opostas.

Hoje Bolsonaro se vende para o eleitor como a antítese de Lula, o que o faz aparecer sempre em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás do ex-presidente. Caso Lula seja enquadrado na Lei da Ficha Limpa pelo TRF da 4.ª Região, no julgamento do dia 24, e fique impedido de concorrer, Bolsonaro também será prejudicado. Não terá mais um adversário para atacar.

“Se o Lula cair fora, o Bolsonaro perde densidade eleitoral, porque ele não é propositivo. O que o segura até agora na posição que está é o fato de ser reativo a Lula e ao PT”, diz o cientista político Antonio Augusto de Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que desde a Constituinte de 1987/88 acompanha as eleições para o Congresso e para presidente.

Bruno Boghossian: Prêmio em risco

- Folha de S. Paulo

Bastou que o calendário marcasse 2018 para que as ambições eleitorais voltassem a abalar a instável parceria entre Michel Temer, Rodrigo Maia e Henrique Meirelles. A disputa do trio pelo comando da pauta econômica se acirrou na última semana e ameaça colocar em risco essa própria agenda.

O presidente, o chefe da Câmara e o ministro da Fazenda operam há meses sob desconfiança multilateral, mas ainda assim foram capazes de atuar em conjunto para aprovar medidas como a reforma trabalhista e a recuperação fiscal dos Estados.

Nos primeiros dias do ano, porém, o som da urna eletrônica parece ter encantado a trinca, que pretende se escorar no relativo sucesso da estabilização da economia para construir candidaturas presidenciais ou exercer influência sobre a campanha.

Dora Kramer: Latifúndio improdutivo

- Revista VEJA

No centro, onde cabem quase todos, ninguém se encaixou ainda

Nada politicamente maior nem por ora eleitoralmente menor que o chamado centro tão celebrado por onze entre dez políticos como a solução para as próximas eleições presidenciais. A julgar pelas pesquisas, só os pontos extremos estariam representados como prediletos: Luiz Inácio da Silva numa ponta, Jair Bolsonaro na outra.

É cedo e sobretudo imprudente comprar tais mercadorias pelo valor de face, dado o caráter farsista de ambas, a começar pela classificação de esquerda e direita. Os dois transitam muito à vontade entre campos políticos divergentes e/ou convergentes, a depender das circunstâncias, o que já de início anula a validade de qualificações ideológicas.

Bolsonaro e Lula já foram, por exemplo, firmemente favoráveis à submissão da economia aos ditames do Estado e da mesma forma mudaram de opinião a fim de moldá-la às conveniências eleitorais de ocasião. Na atual situação, cada qual representa, no sentido teatral e histriônico do termo, o radicalismo ao gosto destes tempos de boçalidades via internet.

Murillo de Aragão: Heróis anônimos

Revista ISTOÉ

Faltam heróis anônimos em todos os lugares, sobretudo nas redações, nos parlamentos, nas bancas de professores, nos tribunais e nos gabinetes

Quando o calo aperta ou uma bala perdida parte seu coração, os rugidos de leão nascem em seu peito, para, com o tempo, se transformarem em gemidos. E, depois, em discretos ganidos de filhote. Claro que as cicatrizes ficam em sua alma. Mas o jogo segue e você quer olhar além da curva, só que não consegue. Você tem a visão turvada pela civilização do espetáculo, contida em uma gigantesca Times Square de subúrbio.

Um raio de clarividência pode iluminar as sombras da mente, embotada por fake news, mentiras sinceras, verdades incompletas e narrativas novelescas. Em um átimo, você percebe que não temos instituições (nem é bem assim). Também percebe que nos faltam líderes (não é bem assim). Mas é o que temos para hoje: relatos imprecisos.

Temos instituições instáveis. Já outras são estáveis em sua submissão ao império do corporativismo. Existem instituições que pagam integralmente plano de saúde para funcionários, cônjuges, pais e filhos. Outras oferecem auxílio-moradia para quem já vive na própria cidade do trabalho e auxílio-paletó. Algumas dessas instituições estáveis são as que apontam o dedo para outras. Cumprem, apenas, metade do papel.

Demétrio Magnoli: Jornalismo como fofoca

- Folha de S. Paulo

Wolff está dizendo que Trump é um tigre de papel; divirta-se com o livro mas não acredite nisso

"Ele nada sabe sobre a política americana e nada entende sobre o povo americano", teria dito Steve Bannon a Trump, referindo-se ao magnata da mídia Rupert Murdoch, segundo o relato de Michael Wolff.

O best-seller de Wolff, "Fire and Fury", é jornalismo pós-moderno: fofoca da primeira à última linha. Isso não quer dizer que não seja atraente (pelo contrário, aliás) ou, sob certos aspectos superficiais, politicamente útil. Mas a frase sobre Murdoch, que Bannon pode ou não ter proferido, aplica-se perfeitamente a Wolff. Segue daí que seu livro é incapaz de desvendar o que se passa nos EUA.

Jornalismo sempre tem limites, mas não custa tentar um pouco. "Fire and Fury" passa ao largo das correntes ideológicas profundas que moldam o governo Trump. Personalidades têm, obviamente, a sua importância, mas seria preciso levar em conta algo mais do que elas. Os neocons de George W. Bush, responsáveis pela invasão do Iraque e suas desastrosas implicações, eram figuras cultas, sofisticadas.

Os nacionalistas que cercam Trump, como Bannon et caterva, são figuras intelectualmente primitivas. Contudo, operam na hora certa e no lugar certo. Por isso, tanto quanto os neocons na esteira dos atentados de 11 de setembro de 2001, são capazes de colocar em prática a parte crucial de seu programa sombrio.

Candidatura de Centro ainda é ‘avenida aberta’

Lançamento de nomes se sucedem, mas ninguém aparenta ter viabilidade eleitoral

Maria Lima / O Globo

BRASÍLIA - A incerteza em relação às eleições presidenciais levou a uma série de lançamentos de candidatos nos últimos meses em busca de um espaço pelo centro, fugindo da polarização entre o ex-presidente Lula (PT) e o deputado Jair Bolsonaro (PSC). Mas a indefinição persiste, já que, na maioria dos cenários, todos patinam na casa de um dígito nas pesquisas de opinião. O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), rodou diversos estados, e o apresentador Luciano Huck entabulou conversas com movimentos e partidos, mas acabaram se colocando fora da disputa. Nas últimas semanas, foi a vez de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), entrar em campo, duelando publicamente com outro contendor, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD). Apesar da profusão de nomes, boa parte dos analistas do mercado acredita que a tendência é que o espaço da centro-direita seja mais uma vez ocupado por um nome do PSDB, mais especificamente o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

No sobe e desce dos candidatos de centro, o ambiente é de apreensão, e a percepção do cenário entre agentes do mercado financeiro é de que há insegurança na construção de um candidato viável nesse segmento. Segundo representantes de investidoras do mercado ouvidos pelo GLOBO, Alckmin não empolga em meio à polarização entre Lula e Bolsonaro. Ainda assim, o apoio dos partidos de centro deve afunilar para o tucano, por sua trajetória como comandante do maior estado do país por quatro mandatos, pela estrutura partidária e por figurar como o candidato mais bem posicionado de seu campo nas pesquisas. Embora oscile entre 6% e 12% das intenções de voto, de acordo com a última pesquisa Datafolha, publicada em dezembro, seus concorrentes na centro-direita não passam de 2%.

Planalto teme que tensão eleitoral atrapalhe economia

Presidente busca evitar que disputa política divida sua base de apoio e prejudique reforma da Previdência

A crescente tensão eleitoral na base de apoio ao presidente Michel Temer preocupa o Palácio do Planalto em relação ao futuro da economia. Segundo os estrategistas do governo, as pretensões políticas de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, e de Henrique Meirelles (PSD), ministro da Fazenda, poderão atrapalhar as costuras para a aprovação da reforma da Previdência, considerada neste momento vital para a continuidade da recuperação econômica. Maia e Meirelles têm, ainda que não admitam publicamente, o desejo de concorrer à sucessão de Temer em outubro. O elogio feito pelo presidente ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), em entrevista ao Estado nesta semana, teve como principal objetivo, segundo fontes do Palácio do Planalto, brecar, ainda no início, o atrito entre Maia e Meirelles, já que Alckmin também é presidenciável e espera contar com o apoio de Temer nas eleições.

Planalto teme impacto de tensão eleitoral na reforma

Ricardo Galhardo / O Estado de S. Paulo.

O Palácio do Planalto teme que a disputa entre os pré-candidatos à Presidência Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Henrique Meirelles (PSD) e a crescente tensão eleitoral possam atrapalhar a aprovação da reforma da Previdência, marcada para o dia 19 de fevereiro. O elogio feito pelo emedebista ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), em entrevista ao Estado publicada anteontem, teve como principal objetivo, segundo fontes do Planalto, brecar um início de atrito entre o presidente da Câmara dos Deputados e o ministro da Fazenda.

Maia e Meirelles se colocam como possíveis candidatos do governo na eleição presidencial deste ano e, ao lado de Alckmin, buscam se apresentar como o nome de centro na corrida pelo Planalto. O Estado mostrou que Maia trabalha para minar Meirelles em meio a seus movimentos pela eleição, já tem equipe e articula alianças.

Temer ficou preocupado com a possibilidade de o embate entre Maia e Meirelles prejudicar a votação da reforma da Previdência, meta principal do Planalto para este ano. Ontem, a agência de classificação de riscos Standard & Poor’s informou que rebaixou a nota de crédito do Brasil em razão de “constantes” atrasos justamente na aprovação das novas regras nas aposentadorias e citou uma mudança, já descartada, na “regra de ouro”, que impede a União de se endividar acima do volume de investimento.

Lava Jato volta a questionar recibos de Lula

Em suas alegações finais, a força-tarefa da Lava Jato no MPF pediu ao juiz Sérgio Moro que reconheça que os recibos assinados por Glaucos da Costamarques e entregues pela defesa do ex-presidente Lula para comprovar pagamento do aluguel de imóvel em São Bernardo são ideologicamente falsos.

Lava Jato reafirma falsidade de recibos de aluguel de Lula

Ex-presidente é réu em ação que apura se houve vantagem indevida em terreno para instituto; MPF ‘abusa’ do poder de acusar, diz defesa

Luiz Vassallo Julia Affonso Ricardo Brandt Fausto Macedo / O Estado de S. Paulo.

O Ministério Público Federal (MPF) no Paraná pediu ontem, em alegações finais, que o juiz federal Sérgio Moro reconheça como ideologicamente falsos os recibos assinados pelo engenheiro Glaucos da Costamarques referentes ao suposto aluguel de um imóvel vizinho à residência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A defesa do petista entregou os documentos para comprovar o pagamento do aluguel do apartamento em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Lula é réu em ação penal na Lava Jato que investiga se um terreno em São Paulo onde seria supostamente construída a sede do Instituto Lula, no valor de R$ 12 milhões, e o apartamento vizinho ao do ex-presidente, no Edifício Hill House, que vale R$ 504 mil, seriam formas de pagamento de vantagens indevidas da Odebrecht. A força-tarefa sustenta que o petista nunca pagou pelos imóveis até 2015 e abriu uma investigação sobre os comprovantes.

Rebaixamento causa atrito entre Meirelles e Rodrigo Maia

Disputa entre Maia e Meirelles contamina debate econômico

Marina Dias, Maeli Prado / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A disputa entre o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pelo posto de candidato governista ao Planalto contaminou o debate sobre o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela Standard & Poor's.

Nesta quinta-feira (11), horas depois do anúncio de que a nota passaria de "BB" para "BB-", Maia e Meirelles deram novos –e fortes–contornos à briga política que travam há semanas na tentativa de se viabilizarem como o nome de centro para as eleições.

Meirelles transferiu ao Congresso o ônus pelo atraso na aprovação de medidas do ajuste, como a reforma da Previdência. A demora no encaminhamento da proposta e as incertezas eleitorais estão entre os fatores que pesaram na decisão da agência.

Segundo a Folha apurou, o presidente da Câmara ficou bastante irritado com o discurso do ministro, disse que a tese não era correta e, por fim, telefonou ao presidente Michel Temer, ainda na noite de quinta, acusando Meirelles de ter "errado no tom".

Em seguida, a nota oficial da Fazenda, que inicialmente transferia a responsabilidade pela não aprovação das medidas ao Congresso, acrescentou uma única frase ao texto, apenas para fazer um afago aos parlamentares.

Meirelles minimiza rebaixamento do país

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que mercado já esperava redução de nota e cobrou apoio do Congresso para a Previdência.

Contenção de danos

Meirelles minimiza rebaixamento e cobra apoio à Previdência. Governo estuda mais corte de gastos

Martha Beck e Gabriela Valente / O Globo

BRASÍLIA - Um dia depois do rebaixamento do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, minimizou ontem os efeitos da decisão sobre a economia. Segundo ele, como o mercado já havia antecipado esse movimento, não houve impacto relevante sobre câmbio, juros e Bolsa. O país está hoje três graus abaixo do chamado grau de investimento (selo de bom pagador). Mesmo assim, o ministro aproveitou para pressionar o Congresso pela aprovação da reforma da Previdência — uma medida apontada pela S&P como essencial para o reequilíbrio fiscal.

— O dólar caiu um pouquinho, os juros de longo prazo caíram um pouco, a Bolsa está estável. Isso significa que basicamente o que a agência disse já estava nos preços. Os agentes já tinham levado tudo isso em conta no momento em que os fatos foram ocorrendo. Não há nenhuma surpresa no assunto — disse Meirelles.

O governo espera que a aprovação das mudanças no regime de aposentadorias e de medidas de ajuste fiscal — algumas que já estão no Congresso e outras que estão sendo preparadas pela equipe econômica — ajudem a reverter o rebaixamento. A redução da nota ocorreu mesmo após reunião do ministro com as agências no fim do ano passado. Entre os principais pontos citados pela S&P estão a demora na aprovação de medidas que possam resolver a crise fiscal e a incerteza política com as eleições deste ano.

NOVA VERSÃO DE PDV
Segundo técnicos do governo ouvidos pelo GLOBO, o presidente Michel Temer pediu que os ministérios da Fazenda e do Planejamento apresentem novas ações de redução de despesas, especialmente de pessoal. Uma alternativa é redesenhar o Programa de Desligamento Voluntário (PDV) dos servidores, que vai ser reeditado numa medida provisória (MP).

Segundo Meirelles, o governo está otimista com o avanço da agenda econômica no Legislativo e que a revisão da nota do país pela S&P é uma questão de tempo:

— A decisão de tudo isso me parece que será favorável. O Congresso aprovou o teto de gastos, a reforma trabalhista, a lei das estatais, a TLP (Taxa de Longo Prazo). Existe um histórico de aprovação de medidas relevantes que nos leva a continuar seguros de que essas melhoras continuarão ocorrendo e que a melhora do rating é uma questão de tempo. Continuamos confiantes que as reformas serão aprovadas.

PSOL aposta em pastor e delegado para se aproximar de conservadores

Anna Virginia Balloussier / Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Todo evangélico é conservador? A maioria esmagadora da esquerda parece achar que sim. E essa é a casca de banana no caminho de "um discurso verdadeiramente popular para o Brasil", que tome o segmento pelo que ele de fato é: "plural e cada vez mais negro".

O vereador de Niterói (RJ) Henrique Vieira, 30, tem dupla credencial para entrar no debate. É pastor da Igreja Batista do Caminho e quadro de um dos principais partidos no espectro progressista do país, o PSOL –que estuda lançá-lo à Assembleia Legislativa do Rio.

Uma possível candidatura sua robusteceria planos da sigla em se aproximar de eleitorados tidos como inclinados a cair no colo da direita. Além de Vieira, o PSOL articula, para o Legislativo, nomes exportados de forças policiais, como o delegado da Polícia Civil Orlando Zaccone, 53, que tem "hare" tatuado num antebraço e "krishna" no outro.

Em dezembro, o deputado estadual Marcelo Freixo (RJ) conversou com a Folha sobre a necessidade de "abrir um diálogo progressista" com aqueles que a esquerda se acostumou a jogar para escanteio.

"Não acho que evangélicos ou policiais têm que ser tratados como reacionários, porque esse rótulo não diz respeito à cabeça da maioria deles. Muitas vezes a esquerda constrói essas bolhas, que são muito aconchegantes, porque você fica falando entre os iguais. A gente está num momento em que tem que buscar o comum, mais do que o idêntico", disse.

O pastor Vieira, que teve aula de história com o então professor Freixo no ensino médio, caiu nas graças não só do PSOL. Virou habitué das reuniões do #342, movimento político liderado por Paula Lavigne, e protagoniza um vídeo compartilhado na quarta (10) pelo marido da empresária-ativista, Caetano Veloso.

Adriana Fernandes: Bizarrices e mágoas

- O Estado de S.Paulo

Não se faz ajuste sem dor e muito menos sem medidas impopulares

É bizarra a narrativa que as principais lideranças do Congresso tentaram construir logo após o emblemático rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s. É o primeiro downgrade do presidente Michel Temer e tudo indica não será o único a depender a reação dos caciques políticos da base governista. Menos um degrau o Brasil vai se juntar aos países de risco altamente especulativo para os investidores internacionais.

Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira, correram para acusar o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de ter responsabilizado o Congresso pela queda da avaliação do País. Maia chegou a dizer que estava “magoado” e Eunício afirmou (sem contar com a memória) que o Congresso ultrapassou “todos os limites” para entregar o que a equipe econômica pedia.

Míriam Leitão: Agências à espreita

- O Globo

As outras agências de risco também estão fazendo avaliações da economia brasileira e podem tomar a decisão de um novo rebaixamento. A resposta da equipe econômica será a de reforçar as propostas de ajuste feitas até agora. A suspensão do aumento salarial

Foi um banho de água fria, sem dúvida. Integrantes dos ministérios da economia admitem que esperavam poder evitar o rebaixamento do Brasil ou pelo menos que isso só acontecesse se a reforma da Previdência fosse rejeitada. Ontem, os investidores mantiveram os preços dos papéis brasileiros estáveis e era possível encontrar analistas que diziam que esse movimento tornará mais urgente a reforma.

O que se diz na área econômica é que a agência Standard & Poor's indicou que se houver crescimento econômico e a reforma for aprovada essa decisão pode ser revertida, ou pelo menos ela pode mudar a perspectiva de neutra para positiva.

Corporações encasteladas: Editorial/O Estado de S. Paulo

De acordo com as folhas de pagamento enviadas pelos Tribunais de Justiça dos Estados ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 71,4% dos magistrados das 27 unidades da Federação recebem remunerações mensais que ultrapassam o teto de R$ 33,7 mil, salário que é pago aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A situação se repete, em maior ou menor grau, nas demais estruturas do Poder Judiciário. As discrepâncias nos vencimentos pagos no âmbito da Justiça estadual, no entanto, ao invés de ensejarem uma reação de todos em prol do interesse dos contribuintes, geram efeito diametralmente oposto, ou seja, estimulam uma corrida pela equiparação das benesses para todos os servidores da Justiça.

Não se pode olvidar que são servidores que, em razão do alto grau de qualificação que possuem e à natureza do trabalho que exercem, não têm dificuldades para justificar a manutenção de privilégios absolutamente inaceitáveis do ponto de vista da moralidade pública, ainda que criativas interpretações da lei possam, eventualmente, dar-lhes um verniz de legalidade.

“Na Justiça Federal, ninguém ganha mais do que o permitido e está tudo definido: salário, gratificação, benefício. Não há qualquer dificuldade em encontrar esses dados”, afirmou Roberto Veloso, presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe).

O Brasil reprovado de novo: Editorial/O Estado de S. Paulo

O novo rebaixamento do Brasil por uma agência de classificação de risco pode ter vindo antes do previsto, mas, fora isso, ninguém pode alegar surpresa. Há pouco tempo o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tentou convencer dirigentes das principais agências a adiar qualquer decisão pelo menos até a votação da reforma da Previdência, programada para fevereiro. Não deu certo. Ao anunciar mais um corte da nota brasileira, de BB para BB-, a Standard & Poor’s (S&P) citou o adiamento da votação, antes prevista para o fim do ano passado, como um dos sinais considerados na reavaliação do País. Não custaria, dirão alguns, ter esperado um pouco mais. É possível, mas até a surpresa, se a palavra couber neste caso, pode ser instrutiva. As autoridades brasileiras podem fixar sua agenda e seu calendário, mas são incapazes de impor seu cronograma a analistas de crédito, financiadores e investidores, especialmente quando estrangeiros.

Com mais uma nota negativa, o Brasil fica três níveis abaixo do grau de investimento, reservado a países e agentes considerados seguros para seus credores. A S&P adiantou-se às concorrentes, mas apontou um caminho para a Moody’s e a Fitch, as outras duas componentes da trindade mais importante do setor. Os efeitos imediatos no mercado financeiro foram limitados. Os dois cortes anteriores da nota brasileira, em 2015 e 2016, podem ter afetado alguns fluxos financeiros, mas o ingresso de investimentos diretos continuou vigoroso, bem mais que suficiente para as necessidades do balanço de pagamentos. Mas convém conter o otimismo e levar a sério o perigo implícito no rebaixamento da nota.

Nota rebaixada pode ser apenas o começo: Editorial/O Globo

Sem ajuste fiscal, por incompreensões no Legislativo e no Judiciário, é impossível a avaliação do Brasil não piorar, o que deflagra vários outros fatos negativos

A sirene de alerta disparada quinta-feira pelo rebaixamento da nota do Brasil pela Standard & Poor’s (S&P), maior agência mundial de avaliação de risco, precisa ser ouvida em especial pela classe política. Ao mover o Brasil do nível de “BB” para “BB-”, colocando-o na companhia de Bangladesh e República Dominicana, na verdade os avaliadores da S&P fazem uma convocação à reflexão: o que políticos, magistrados, altos servidores públicos em geral, eleitores querem para o país?

Continuam sendo emitidos sinais de que mais forte que tudo é a cultura da manutenção de privilégios na máquina pública e da ideia ilusória, desinformada, de que o Tesouro é capaz de continuar a bancar custos em elevação na máquina pública, sem consequências. Algo delirante.

Apesar do quadro fiscal assustador, de uma penada, o ministro do Supremo Ricardo Lewandowski suspendeu medidas necessárias para o ajuste fiscal, como o não reajuste dos servidores federais este ano e o aumento da sua contribuição previdenciária (como vários estados já fizeram e estão fazendo).

Sucessão de erros: Editorial/Folha de S. Paulo

O mês de janeiro avança, sem perspectiva de se resolver em breve toda a infeliz polêmica provocada pelo decreto do presidente Michel Temer concedendo indulto natalino a significativa parcela da população carcerária do país.

Em si mesmo, o indulto consiste em tradicional iniciativa do Executivo, inspirada por razões humanitárias e pelo princípio —defendido por esta Folha— de que condenados por crimes de menor gravidade, tendo cumprido já parte da pena, não têm por que continuar trancafiados se não oferecem ameaça à segurança física dos cidadãos.

Se o decreto de Temer acompanhou tal lógica, é contudo inegável a sensação de que houve inabilidade e alguma dose de exagero nos critérios adotados desta vez.

Até meados da década passada, o benefício se destinava apenas aos que tinham sido sentenciados a menos de seis anos de prisão e já tivessem cumprido um terço da pena. Em 2010, o limite prolongou-se para 12 anos de prisão.

Carlos Pena Filho: Olinda

(Do alto do mosteiro, um frade a vê)

De limpeza e claridade
é a paisagem defronte.
Tão limpa que se dissolve
a linha do horizonte.

As paisagens muito claras
não são paisagens, são lentes.
São íris, sol, aguaverde
ou claridade somente.

Olinda é só para os olhos,
não se apalpa, é só desejo.
Ninguém diz: é lá que eu moro.
Diz somente: é lá que eu vejo.

Tem verdágua e não se sabe,
a não ser quando se sai.
Não porque antes se visse,
mas porque não se vê mais.

As claras paisagens dormem
no olhar, quando em existência.
Diluídas, evaporadas,
só se reúnem na ausência.

Limpeza tal só imagino
que possa haver nas vivendas
das aves, nas áreas altas,
muito além do além das lendas.

Os acidentes, na luz,
não são, existem por ela.
Não há nem pontos ao menos,
nem há mar, nem céu, nem velas.

Quando a luz é muito intensa
é quando mais frágil é:
planície, que de tão plana
parecesse em pé.
--------------
Carlos Pena Filho, in 'Livro Geral'

Arlindo Cruz - Ainda é tempo de ser feliz